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Novos docentes da Ufba representam quebra de paradigmas na Dança

A Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba) completa 50 anos de fundação dando uma demonstração de conexão com as demandas da contemporaneidade e empenho em continuar sendo referência na formação de profissionais de dança, além de reparar uma ausência histórica em sua grade curricular. Os últimos concursos públicos para docentes efetivos da instituição dão mostras dessa intenção, reconhecida e elogiada pela comunidade de artistas, produtores e profissionais das artes e saudada por aqueles que lutaram por essas conquistas.

Foi publicada no dia 17 de junho, a aprovação das dançarinas e coreógrafas Marilza Oliveira da Silva e Vânia Silva Oliveira, com trajetórias no ensino e difusão da dança afro e da cultura popular, como professoras Assistentes na área de conhecimento ‘Estudos do corpo com enfase em danças populares, indigenas e afro-brasileiras’. Trata-se da primeira vez que esse componente curricular é alvo de seleção de docentes. Uma semana antes, dia 06 de junho, foi a vez do dançarino Carlos Eduardo Oliveira Carmo, Edu O, ser selecionado, também professor Assistente, para a área de ‘Processos Criativos com ênfase em composição coreográfica’. Os dois concorridos concursos públicos atraíram dezenas de candidatos de diversas partes do país.

“Estamos vivendo, sem dúvida, um momento histórico na Escola de Dança da Ufba. A entrada de corpos fora do padrão do pensamento hegemônico da Dança desestabiliza os paradigmas ainda tão fortes e traz a questão da representatividade que é tão importante para quem não se vê representado no meio”, declarou ao portal Correio Nagô, o ator, dançarino e clown, que é cadeirante, e tem uma longa trajetória dedicada ao estudo da dança. Com graduação em Artes Plásticas e Mestrado em Dança, ambos pela Universidade Federal da Bahia, Edu é especialista em Arteterapia e integrante do Grupo X de Improvisação em Dança.

EduOliveira

Foto da perfil pessoal de Edu O, no facebook

O novo professor da Ufba defende que haja uma olhar mais atento para as possibilidades de contribuição das pessoas com deficiência. “Em relação às questões de acessibilidade das pessoas com deficiência, percebo ainda muitas fragilidades e ausências de discussões mais eficientes dentro das Universidades. Precisamos avançar nas práticas e na conscientização por parte de todos da urgência de oferecer oportunidades de acesso. Ninguém fala de privilégio, mas é urgente que o acesso seja irrestrito tanto arquitetonicamente quanto comunicacional, atitudinal que me parece ser a parte mais problemática”, ressalta.

Danças de matriz africana – Além do sobrenome e da dedicação às heranças africanas, as novas professoras da Ufba possuem trajetórias em comum. Graduadas em Dança pela Ufba, Marilza Oliveira e Vânia Oliveira cursam o Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA, além de serem professoras da Escola de Dança da FUNCEB, reconhecido curso técnico em dança da Bahia.

Também com experiências no teatro, Marilza integra o grupo de pesquisa Corponectivos em Dança, Artes e Interseções da Ufba. Já Vânia é professora do Departamento de Ciências Humanas e Letras (DCHL), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), e pesquisadora da dança das rainhas dos blocos afro do Carnaval de Salvador. Ela própria já atuou como rainha do bloco Malê Debalê, nos anos 2000 e 2006, e como princesa do Ilê Aiyê, em 2001 e 2014.

A aprovação de ambas foi comemorado nas redes sociais por dançarinos, colegas e ex alunos. “Um momento histórico na UFBA…as Pretas lindas Marilza Oliveira e Vânia Oliveira entraram pela porta da frente como professoras da Escola de Dança da UFBA…Porteiras abertas… que venham os Bois, os Caboclinhos, os Zabiapungas, as Lavadeiras de Itapuã, o Coco de Roda, o Maracatu, o Frevo, os Sambas de Caboclos, o Jongo, os Ternos de Reis e todas as expressões da Cultura do Nosso Povo! E acima de tudo a irmandade, fraternidade e amor que sempre nos guiou! Parabéns, Rainhas”, escreveu o coreógrafo e professor Denny Neves.

Ao portal Correio Nagô, a doutora em Dança e professora da Universidade Federal da Alagoas (Ufal), Nadir Nóbrega, destaca o atraso em que essa medida ocorre, já que a Escola de Dança da Ufba é a primeira faculdade do país e está sediada em uma cidade de forte presença negra. “Já era hora. É como se um relógio estive parado e finalmente foi reparado e voltou a funcionar”. A professora também chama atenção para o fato da exigência do ensino da Cultura Africana e Indigena já serem objetos de leis federais há mais de uma década. “Pensem que a Lei 10.639, que obriga o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira é de 2003, e a lei 11.645, que institui a história dos povos indigenas é de 2008. Já passou da hora”, lembra a professora que estudou na Ufba na década de 1980 e já lutava por esses avanços. Atualmente ela coordenada o Museu Theo Brandão de Antropologia e Folclore da Ufal.

Edu O acredita que a entrada desses novos docentes é um marco para a dança. “A Escola de Dança da Ufba, de certo modo, tem um histórico de pioneirismo na Dança. É uma referência importante, mas estava devendo essa abertura maior para novas possibilidades de corpo enquanto sujeito ativo e integrante da construção de saberes ali dentro, principalmente no corpo docente”.

E Nadir Nóbrega faz um alerta: “Espero que a Escola de Dança da Ufba respeite e aprenda muito com esses corpos e com esses saberes e, finalmente, evolua”.

Da Redação do Correio Nagô

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