Home » Blog » O debate sobre identidade e as “Conexões” dentro e fora da universidade

O debate sobre identidade e as “Conexões” dentro e fora da universidade

27/11/2018 | 16h50

Evento colaborativo entre estudantes da Unijorge, promove diálogos e atividades que falam sobre raça, identidade e protagonismo inovando na forma de propagar educação

 

Quando pensamos nos processos de avaliação na universidade, a ideia que projetamos é em sua maioria, parte do que nos foi apresentado nos anos estudantis interiores, do ensino básico e fundamental ao médio, com provas, seminários e entre outras avaliações que fazem parte da construção de uma educação que ainda não pensa as potencialidades individuais dos estudantes.

Porém, algumas instituições têm desenvolvido a capacidade de pensar em outras formas, sobretudo, interdisciplinares de potencializar o aprendizado, os talentos e as qualidades específicas dos alunos.

É o caso do Projeto Interdisciplinar Empreendendo Sonhos da Unijorge, que fomenta a terceira avaliação dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Cinema e Audiovisual e há três anos vem abarcando ideias diversas, com as mais atuais tendências do empreendedorismo, na intenção de promover o desenvolvimento de profissionais aptos para atuar nos mercados em transformação constante. O desafio que move o interdisciplinar é a criação de um projeto de temática livre com possibilidade de formatos como blogs, documentários, coletivos de produção de conteúdo, editorial fotográfico, entre outros.

A parceria entre alguns projetos que foram criados através do interdisciplinar e que saíram do viés de apenas produção acadêmica tem ganhado força desde o ano de 2017. E dessa vez, essa junção deu vida a um evento colaborativo que contou com música, bate-papo, feira de empreendedoras, exibição e lançamento de docs, mostra fotográfica e de arte urbana e até lançamentos de revista, no último sábado (24). O evento intitulado “Conexões”, aconteceu no Mercadão CC, localizado no Rio Vermelho, e teve desde a sua produção, as 3 horas de programação, articuladas e protagonizadas pelos projetos.

A produção e idealização do evento, surgiu pela Produtora Arco que exibiu diversas fotografias oriundas da sua terceira revista, intitulada “Sonhos” e pelo projeto Empoderamente, que com o propósito de falar sobre a questão identitária e o resgate da ancestralidade negra, também exibiu seu primeiro mini-doc, produzido em parceria com a Caram Filmes, uma produtora de conteúdo audiovisual que surgiu também dessa ideia de interdisciplinaridade da Unijorge, o “Empoderamente: da aceitação ao reinado”, que promove encenações e depoimentos de diversas mulheres que falam sobre suas relações com seus turbantes, sua negritude e suas percepções e experiências dentro desse recorte racial, na intenção de abrir portas para um debate ainda mais potente sobre identidade, ancestralidade e claro, turbantes ou derivações dele.

A importância também do Orí – que é a cabeça para o candomblé -, para a questão do turbante, porque o orí é muito importante pros povos de África, né? Pros povos de África o orí remete a uma conexão com esse plano espiritual, com a consciência, com a retomada de consciência….. Então assim, o turbante, me traz essa retomada de consciência, que é uma consciência negra, uma consciência que me traz enquanto mulher, afro brasileira e descendente de povos africanos.” – Lorena Lacerda, em uma de suas falas do mini-doc “Empoderamente: da aceitação ao reinado” exibido e produzido por Empoderamente e Caram Filmes.

Logo após a exibição do “Empoderamente: da aceitação do reinado”, o Coletivo Mamilos Prateados, promoveu uma roda de conversa que teve como temática central a discussão promovida pelo mini-doc, mas contou também com depoimentos emocionantes das entrevistadas no doc, a museóloga, feminista negra, organizadora da Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador, turbanteira e estudante de ciências sociais, Lorena Lacerda e a “aprendiz” de ebomi, professora, graduada e pós graduada em história, Gilmara Santos.

“Pra nós do candomblé, o turbante se torna ojá e é responsável não só pela proteção das nossas cabeças, mas também, por definir hierarquias e cargos.” – Gilmara Santos, em sua fala na roda de conversa com o Coletivo Mamilos Prateados.

Além disso, o coletivo falou sobre a produção desse semestre, as oficinas de lambe lambe com tema identidades urbanas, no Colégio Estadual Odorico Tavares, Com duração de um mês, o coletivo promoveu encontros da turma com indígenas e quilombolas residentes de Salvador, com o propósito de despertar um novo olhar sobre a cidade e a questão identitária de diversas frentes de resistência da cidade, além de ter destinado um espaço para exibição das artes produzidas pelos alunos nesses encontros.

O som do evento, teve articulação da Otá Produções e do Meu Canto, que levou a cantora Gabriela Lima, a encantar e agitar o evento, com um repertório capaz de resgatar o sentimento e a identificação da baianidade em todos os que estavam presentes.

O coletivo criativo Caram Filmes além da parceria com o Empoderamente, exibiu o teaser da sua produção audiovisual “Revolução”, que vai ser lançada em suas redes, dia 29/11, produzida e protagonizada por jovens negros.

O fato mais curioso e que torna o nome “Conexões” ainda mais presente ao que aconteceu nesse evento, é de como, apesar da individualidade dos trabalhos produzidos, a inter-relação das temáticas propostas, refletem não só a estrutura de uma universidade que reverbera em seus alunos as multi possibilidades e multi frentes de atuação, mas também, em como existem diversas possibilidade de utilização das temáticas identitárias dentro e fora do ambiente acadêmico. A questão racial vem protagonizando produções acadêmicas há muitos anos e a adoção de novos formatos, estão ressignificando nosso próprio olhar pra essas pautas que continuam a crescer e ser de extrema importância para a modificação de estruturas sociais.

Brenda Cruz é colaboradora do Portal Correio Nagô.

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

scroll to top