Por Diosmar Filho
Hoje eu estive com Tia Anastácia
Ela me disse que está muito revoltada
Porque o Sítio do Pica pau Amarelo está tirando ela como otária
Ela faz os bolinhos e Dona Benta recebe a medalha
Farinha de trigo tem que ser
Tia Anastácia
Giovani Sobrevivente1
Os diálogos que temos desde 2015, refletem sobre movimentos no espaço e tempo da vivencia em diferentes lugares, territórios e regiões, onde se desenrolam a primada invisibilidade do Estado racista.
Essa invisibilidade tem se tornado visibilidade, não porque a sociedade e o Estado caminham nessa direção, mais porque Corpos Negros assumem as narrativas coletivas para sua totalidade. É o que coloca o espaço em metamorfose.
Na construção de um diálogo no país mergulhado a mais de um ano no Golpe Parlamentar, encontro-me com os diálogos do poeta Giovani Sobrevivente, isso mesmo o Sobrevivente! Da invisibilidade, exclusão, marginalização, desilusão, da claridade perversa da Globo, Band, Correio da Bahia, TV Bahia, Record e etc. Do crime organizado no legislativo municipal, estadual e federal, nos Ministério Públicos, no Sistema Judiciário, tudo sob controle da Odebrecht, OAS e, por fim, que surgi a JBS.
Já há algum tempo o Sobrevivente esteve com a Tia Anastácia e ouviu dela o Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada da escritora Carolina de Jesus. A tia está revoltada com a apropriação intelectual de Dona Benta. Dando nome para suas receitas, industrializou suas formulas, fez apropriação dos seus experimentos e levou para o campo e as cidades o genocídio de todos os corpos parecidos com o seu.
A revolta da Tia é coletiva diante do Estado e sociedade racista que se formou no Brasil, Luiza Bairros em Lembrando Lélia Gonzalez, explica como a revolta da Mãe Preta2e Frantz Fanon explicando a Opacidade Interna3 chama de descolonização dos corpos pelos colonizados.
A denúncia da Tia Anastácia é que o Estado Branco precisa ter fim, para que Corpos Negros em sua intelectualidade desenvolvam a Nação.
Isso mesmo, desenvolver a Nação! Os processos social, político, econômico e cultural, mostram exatamente que os Negros Corpos trazem para totalidade o desenvolvimento. Esses carregam a felicidade ancestral africana e as dores da negritude brasileira, sabem o que é pôr-do-sol e luar, sabem os custos humanos para tirar o Brasil do mercantilismo, alcançar a industrialização e eleva-lo ao desenvolvimento tecnológico no século XXI.
Pois, em 10 de maio de 2017, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) apresentou o Atlas de Desenvolvimento Humano Brasil (2016), com dados do relatório Desenvolvimento Humano para Além das Médias: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) por cor, sexo e situação de domicílio. Essa informação foi invisibilizada pelo patrimonialismo midiático e pelas redes sociais progressistas, no calor da luta contra reformas do capital no Estado de Direito ou Exceção?
O IDHM apresenta a realidade do desenvolvimento e as estruturas das desigualdades sociorraciais entre mulheres e homens, negros e brancos, populações urbanas e rurais, pelas variáveis de Longevidade, Renda e Educação.
Na apresentação o presidente do IPEA – Ernesto Lozardo, afirmou que os dados são importantes ao Governo ForaTemer, para o aumento da produtividade e aprovação das reformas: da Previdência Social, Legislação Trabalhista e Política. Seguindo, com a aprovação de mecanismo financeiros de absolvição dos sonegadores da Receita Federal, INSS e do FGTS.
No entanto, a nota do próprio IPEA, trata de desqualificar seu presidente, ao alerta que estamos falando do Brasil com população estimada em 204 milhões de habitantes segundo o IBGE (2015). Assim como, aproveitamos para correção da matéria publicada pelo Agência Brasil de título População é formada basicamente entre brancos e pardos, diz IBGE (publicada em 13.11.2015)4.
Corrigindo a Agência, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2014, atento ao critério de classificação cor/raça, a população que se declara branca residente no país, são 92,4 milhões de pessoas, representando 45,5% da totalidade. Quanto a população negra (conforme o critério do IBGE que agrupa as categorias pretos e pardos) são 109,4 milhões de pessoas, representando 54% da totalidade populacional. Em 2014, a população era estimada em 203,2 milhões de habitantes.
Entre as grandes regiões do país, 76% da população residente da Região Sul são formados por pessoas de cor branca, enquanto nas regiões Norte e Nordeste a maioria dos moradores se disse parda, com 69,3% e 61,9%, respectivamente. Na Região Sudeste, 53,02% se declararam de cor branca, enquanto 36,79% disseram ser pardos e 9,19% responderam que são de cor preta. Já Região Centro-Oeste há predominância de pessoas de cor parda (51,17% da população). Também no Centro-Oeste, 39,89% das pessoas entrevistadas se declararam brancas, e 8,06% responderam ser de cor preta5.
Os dados da PNAD (2014) e revelados no Atlas de Desenvolvimento Humano Brasil (2016) alertam para retomada das desigualdades na escala da corporeidade e territorial, conforme alertava o professor Milton Santos ao se referir às análises das escalas em tempos de Globalização.
Segundo o Atlas (2016), entre 2000 e 2010, a taxa de crescimento anual do IDHM da população negra foi de 2,5%, ante 1,4% dos brancos, 1,9% das mulheres e 1,8% dos homens.
A diferença entre o IDHM de negros e brancos reduziu-se pela metade no intervalo de 2000 a 2010 – em 2000, o IDHM da população negra (0,530) era 27% inferior ao da população branca (0,675), ao passo que, em 2010, o IDHM dos negros (0,679) passou a ser 14,4% inferior ao dos brancos (0,777).
No período de 2011 a 2014, o IDHM do Brasil teve crescimento contínuo a uma taxa média de anual de 1,0%, inferior à observada entre 2000 e 2010 que foi de 1,7%.6 Segundo o relatório as três dimensões (Educação, Renda e Longevidade) que compõem o IDHM7 apresentam crescimento contínuo no período 2011-2014, porém: a dimensão Educação cresceu a uma taxa anual de 1,5%, superior à do IDHM; a dimensão da Renda, teve crescimento anual de 1,1%; e a dimensão Longevidade evoluiu a uma taxa de 0,6% por ano.
O Radar IDHM alerta que os subíndice de Educação e de Longevidade tiveram uma taxa média de crescimento anual no período 2011-2014, inferior à observada no período 2000-2010. Apenas no subíndice de Renda ocorreu o inverso e a taxa média de crescimento anual foi maior no período 2011-2014.
As pesquisam revelam a importância do investimento público no acesso à educação, ao capital (renda, trabalho e emprego) e ao Sistema Único de Saúde. O resultado são mudanças na realidade socioespacial na maioria da totalidade populacional – negras(os).
Porém, a crise macro política e econômica dos homens brancos e damas de companhia brancas. Coloca a totalidade diante de novos números das desigualdades socioespacial para o Brasil em 2020, suas ações interrompem as mudanças na segunda década do milênio, capturada na política empresarial corrupta, como bem explica as delações dos criminosos Wesley e Joesley Batista donos da JBS, que distribuíram em corrupção R$ 14 bilhões para parlamentares, juízes, promotores, fiscais e o presidente ForaTemer.
A equação criminosa pela liquidação do Estado de Direito Constitucional, se aprofunda no uso de R$ 55 bilhões8do Tesouro Nacional, pelo presidente ForaTemer com suborno de parlamentares para aprovação das Reformas da Previdência e Trabalhista. Em paralelo a corporação financeira Itaú é isenta pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) do pagamento de R$ 25 bilhões em Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), pelo processo de fusão com o Unibanco.
Nessa ligeira passagem os números atualizados do Golpe Parlamentar 2016, já podem ser computados em R$ 94 bilhões em linear crescente.
A Tia Anastácia está sim revoltada com o assalto do Estado Branco, que expropria seu corpo negro, seu trabalho, seu crescimento intelectual, seu saber, sua produtividade, sua ancestralidade, sua coletividade, seus direitos. Para jogar sua Nação na política café com leite em pleno o século XXI.
É para revolta e #DiretasJá – mais sem Nação Tia Anastácia é mais do mesmo!
NOTAS:
1Álbum Melanina, fragmentos do poema A revolta de Tia Anastácia (faixa 06), Coisa Forte Produções, lançado em 2015.
2BAIRROS, Luiza Helena. Lembrando Lélia Gonzalez. Afro-Ásia nº 23-2000. Centro de Estudos Afro-Orientais-CEAO/FFCH. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2000 p. 347-370.
3 FANON, Frantz. Os condenados da terra. In: Frantz Fanon. Tradução Enilce Albergaria Rocha, Lucy Magalhães – Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2005. 374p.
4 Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2015-11/populacao-brasileira-e-formada-basicament
5 Idem.
6 BRASIL. Radar do IDHM – Atlas do Desenvolvimento Humano (2016), Brasília-DF. IPEA, 2017, 26p.
7 Disponível em: http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30023&catid=1&Itemid=7 consulta em: 17.05.2017
8 Disponível em: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/nacional/noticia/2017/05/21/fatura-para-aprovar-previdencia-chega-a-r-55-bilhoes-284946.php consulta em: 30.05.2017