05/12/2017 / às 17h15
Por Laina Crisóstomo*
Desde o mês de agosto que não consigo escrever texto isso faz parte do racismo estrutural que nos envolve. No dia 22 de agosto à noite eu caminhava no Shopping Barra afim de comprar um vestido, pois viajaria dia 23 viajaria para o Maranhão para fazer mutirão TamoJuntas em São Luís e depois em Teresina, quando eu vi os gritos nos corredores do Shopping saindo da loja de departamentos c&a “Ela roubou, ela roubou” como advogada feminista ativista dos Direitos Humanos não poderia ouvir aquilo e continuar minha caminhada para ir embora então parei e fui verificar o que está acontecendo. Entrei numa loja de sapatos onde essa menina estava e vi várias pessoas ao redor olhando para ela e a julgando, ela estava apenas de sutiã e short e com jarro na mão, ela chorava e gritava mesmo tempo e o segurança do Shopping tentavam conter ela a força. Segundo ela decidiu ouvir a orientação do segurança do shopping e caminhar até a loja C&A. Nessa caminhada fui tentando conversar com ela, mas ela estava muito nervosa e não conseguia formar frases para que eu entendesse o que estava acontecendo.
Era uma menina jovem negra e pobre, os seguranças ao me verem seguir atrás dela deles imediatamente perguntaram o que que eu era dela eu me apresentei enquanto advogada dela que não a deixaria sozinha porque eu sabia qual era a prática corriqueira de lojas de departamento abordagem em shopping em Salvador. Apesar da minha apresentação eles acreditaram que de fato era advogada quando mostrei minha carteira da OAB.
Quando eles perceberam que eu não ia sair de perto dela eles decidiram levar lá para o posto policial que se encontra à frente do Shopping Barra, mas que há tempos está desativado e vive desligado, então descemos fomos descendo a rampa do Shopping Barra saindo pelo estacionamento para ficar para encontrar no posto policial uma guarnição da polícia que podemos fazer o encaminhamento devido para a delegacia. Assustadoramente lá chegando o segurança do Shopping possuía a chave do posto policial, ele abriu e nos sentamos para aguardar a viatura da polícia que chegaria. Conversei com ela o máximo que pude para entender o que aconteceu e ela me relatou que foi agredida pelo segurança do shopping a ponto de entrar em luta corporal com ele e este ter rasgado sua blusa.
Após a viatura da polícia chegar, eu que sempre sofro discriminação e incredulidade de ser advogada já costumo ficar com a carteira da OAB em mãos para não gerar nenhum tipo de dúvida, então levantei minha carteira da OAB quando vi o policial chegar, ele simplesmente ao entrar no modulo policial, vendo a minha OAB, me perguntou se eu havia roubado com ela. Na hora não consegui pensar em nada, mas o respondi a altura e por isso ele me proibiu de ir na viatura “dele”.
Isso foi em agosto e até hoje me dói falar sobre isso, escrevo esse texto ainda chorando a dor de ver um homem preto se transformar em capitão do mato para me ofender e me desrespeitar, na delegacia foi semelhante, mas não me calei, briguei, resisti e no dia seguinte as advogadas Carla Lima e Letícia Ferreira conseguiram a liberdade daquela menina, mas não posso negar que chorei demais, passar 5 anos na faculdade, ter 3 especializações, ser estudante de mestrado não te muda a cor e por isso não te faz sofrer menos discriminação.
Nesse mesmo dia falei para um grupo de advogadas em sua maioria branca, sofremos com o machismo na profissão todos os dias, mas elas nunca serão confundidas com uma cliente. Resistiremos por uma justiça feminista e anti racista!
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