13/10/2018 | às 20h11
O que conhecemos como gambiarras são tecnologias sociais criadas para resolver problemas que, muitas vezes, só são percebidos pela população periférica, pois são as pessoas que atravessam a cidade e estão diariamente transitando nos espaços urbanos.
No meio da Estação Nova Lapa, a Ocupação AfroFuturista cumpriu o papel de aproximar a população soteropolitana da ideia de que somos seres tecnológicos.
Thamyra Thâmara, do Gato Mídia, chamou a atenção para a necessidade de criar estratégias para desmistificar a ideia de tecnologia. “Existe o slow tech e o high tech”, explica ela, mostrando que o slow tech são as famosas gambiarras usadas pela sociedade para resolver problemas do cotidiano. Trazendo para mais perto da população a ideia de que gambiarra também é tecnologia, é possível desmistificar a tecnologia para que a área possa ser abraçada por jovens negros.
O “jeitinho brasileiro” e seu papel tecnológico
Aquilo que conhecemos como “jeitinho brasileiro” também é tecnologia, entretanto, são saberes invisibilizados. “Somos produtores de tecnologia, inovadores”, afirma Thamyra, ressaltando que os saberes da população negra com relação à tecnologia são ancestrais. Ela apresenta o projeto Gato Mídia, do Rio de Janeiro, que acredita que através da tecnologia é possível diminuir desigualdades sociais, pensando em negros e mulheres da periferia como pessoas indicadas para resolver problemas da cidade.
Quem tem noção dos problemas que a cidade enfrenta é a população periférica que, muitas vezes, usa o transporte público pelo menos três ou quatro vezes por dia, atravessando a cidade, entrando em contato com espaços além da sua realidade. Assim, essas pessoas percebem quais são os problemas da cidade, por exemplo, uma estrada com buracos, o transporte público que não funciona devidamente ou a acessibilidade ausente.
Recrutar, representar e reconhecer
Juliana Oliveira, que faz parte do ThoughWorks, do Rio Grande do Sul, faz parte do projeto Enegrecer a Tecnologia, onde acredita que é através da tecnologia que podemos promover impacto social. O debate que ela evidencia é o lugar onde foram colocadas as pessoas negras nesses espaços, onde só são convidados para falar de diversidade. “Diversidade é tão importante quanto tecnologia”, afirma Juliana, que entende a necessidade da população negra transitar em outras áreas do conhecimento, como economia, direito e outras.
Pensando na não-representatividade negra na área de tecnologia, a empresa ThoughtWorks pensou em três aspectos para enegrecer a tecnologia: Recrutar, Representar e Reconhecer. “É importante sair do discurso e colocar em prática”, pontua Juliana apresentando o recrutamento, onde os jovens são inseridos nesse contexto tecnológico a partir dos seus lugares de fala e subjetividades. “Quando se tem diversidade, tem inovação”, conclui.
Arte visual e ancestralidade
Hellen Nzinga, coordenadora do Mídia Étnica Lab afirma a necessidade de se ter um capital social entre a população negra, pois não há herança. A abolição da escravatura, pontuada por Hellen como um dia que dura até hoje, deixou um espaço desigual para negros e negras, por isso não há herança, não há bens, não há um dinheiro dado a esses jovens para empreender. Por isso, o capital social e o networking é um ponto importante na vida de jovens que querem empreender, principalmente no campo da tecnologia.
O VJ Gabiru pontuou no evento a necessidade de se fortalecer e ocupar espaços que são negados à população negra com muita dignidade. Em seguida, o artista apresentou um trabalho visual exibido em 2017 no Fórum Ruy Barbosa, onde texturas, estampas e ícones negros da diáspora africano foram exibidos e homenageados.
Ashley Malia é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô
Com a supervisão de Donminique Azevedo