Evento começa 24 de outubro e confirma filósofa Djamila Ribeiro em conferência de abertura. Iniciativa oferece orientações gratuitas de suporte teórico e metodológico, além de apoio psicológico e acompanhamento dos projetos
Enfrentar as dinâmicas sociais, econômicas e políticas que precarizam a educação pública no Brasil e dificultam o acesso e ingresso da população negra nos cursos de nível superior nas universidades estaduais e federais, não tem sido tarefa fácil para negros e negras. No campo da pós-graduação, as barreiras impostas ainda são maiores, tanto nas aprovações dos projetos, quanto na permanência destes/as estudantes negros (as) – sobretudo daqueles (as) que tratam de temáticas raciais em suas pesquisas. Por isso, na compreensão de que é preciso dar suporte teórico e metodológico para estas pessoas, surge o ciclo formativo “Opará Saberes”, que chega à 2ª edição em Salvador/BA, como apoio à ocupação negra nas vagas de mestrado e doutorado, por meio da valorização e instrumentalização dos saberes com epistemologias feministas, afrocêntricas e decoloniais.
Neste ano, assim como ocorreu em 2016, o 2º Ciclo Formativo Opará Saberes contará com referências acadêmicas. Para a conferência de abertura prevista para a data 24 de outubro, no auditório do Pavilhão de Aulas I (PAF I), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no bairro Ondina, foi confirmada a mesa “Teoria do Pensamento Branco: Branquitude e Branquidade”, com o professor Lourenço Cardoso, agendada para 14h00, e na sequência, às 17h00, a feminista Djamila Ribeiro chega com o “O Pensamento de Simone de Beauvoir sob o olhar de uma filósofa negra”. Já na data 06 de novembro será a vez do Dr. Hélio Santos abordar a discussão sobre “O Feminismo Negro como vetor para o Desenvolvimento do Brasil: um contraponto ao racismo institucional”.
“A Universidade é um espaço de disputa de poder, então é inadmissível nossa produção intelectual beber quase exclusivamente da Europa e Estados Unidos. A Opará Saberes vem como fonte contra o epistemicídio, para valorizar o pensamento decolonial, as epistemologias feministas das africanas, os astros e todo céu sabendo que aquele símbolo fêmea, chamado de vênus, na verdade é Osum. Lutamos por monografias, teses e dissertações capazes de responder pautas como aborto, feminicídio, encarceramento, mas para isso as ferramentas teóricas não podem mais ser as da Casa Grande”, destaca Carla Akotirene, assistente social, doutoranda e professora da UFBA.
A população negra ainda representa menos de 30% na pós-graduação brasileira, segundo levantamento realizado em 2015 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O evento é aberto ao público com inscrições no local, segue até 09 de novembro, e contribuirá para que outras pessoas, assim como as vinte aprovadas após a primeira edição do Opará Saberes, possam encarar o desafio e permanecer nessa luta política contra a invisibilidade negra. À exemplo, Vagner Rocha, Mônica Santana e Shirlei Sanveja, que foram aprovado/as para vagas de doutorado nos programas do Centro de Estudos Afro Orientais, de Artes Cênicas e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher, respectivamente, todos na UFBA. O ciclo formativo ainda conta com profissionais que contribuirão na qualificação dos/das estudantes em diversas etapas, desde o projeto, até a entrada e acompanhamento das vivências acadêmicas.
A Rede Dandaras auxiliará na abordagem psicossocial junto às candidaturas, tendo em vista que o racismo boicota o desenvolvimento intelectual e a autoestima de pessoas negras inscritas em processos acadêmicos. Já a preparação instrumental para provas de inglês e língua portuguesa terá orientação da Dra. Raquel Luciana Souza, tradutora reconhecida pela capacidade em traduzir simultaneamente referências nacionais e internacionais em pautas pró-direitos humanos e de enfrentamento ao racismo, como a ícone feminista Angela Davis e o neurocientista Carl Hart.
Os suportes teóricos sobre criminologia crítica, direito e racismo estão no comando das formadoras – e advogadas – Gabriela Ramos e Tatiana Emília Dias, ambas do Programa Direito e Relações Raciais da UFBA. E, somando ao time, o Dr. Cristiano Rodrigues, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) assume o compromisso de colaborar e acompanhar projetos voltados aos estudos feministas, gênero e mulheres, ao lado das Dras. Ângela Figueiredo, Zelinda Barros e Cristiane Souza.
São parceiros desta iniciativa que já contou com as presenças de intelectuais negras como Ana Flauzina, Denize Ribeiro, Claudia Pons, Ana Claudia Pacheco, Denise Carrascosa, Emanuelle Góes, Florita Telo, Elisabete Pinto, Dayse Sacramento, Josane Silva, entre outras grandes mulheres, o Grupo Gira/UFBA, o projeto Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras e o Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (GEDEM) do Ministério Público do Estado da Bahia.
Da Redação.