11/01/2018 | às 14h38
Por Donminique Azevedo*
Uma das manifestações mais representativas do calendário de festas populares baiana, a Festa do Nosso Senhor do Bonfim, contou com a cuidadosa cobertura especial da TVE Bahia. Somaram à equipe da emissora, a jornalista e doutora em Antropologia, Cleidiana Ramos e o doutor em Antropologia Vilson Caetano.
Com análises e observações pertinentes, Vilson e Cleidiana apontaram tentativas de normatização, a exemplo das intervenções da Igreja Católica.
Vilson Caetano alertou que algumas mudanças podem invisibilizar a cultura afro-brasileira. A Festa de Nosso Senhor do Bonfim é Patrimônio Imaterial Nacional, justamente por ser uma das mais simbólicas na Bahia que articula duas matrizes religiosas distintas – a católica e a afro-brasileira.
Em 2014, a Igreja Católica passou a fazer Caminhada de Corpo e Alma, precedendo o rito de lavagem do adro e da escadaria da basílica. Este ano, pela primeira vez, o cortejo contou com um andor de madeira para amarração de fitinhas com pedidos – elemento criticado pelos comentaristas. O andor esteve exposto desde 29 de dezembro do ano passado na Igreja do Senhor do Bonfim.
“Se essas modificações continuarem sendo introduzidas no sentido de controlar, de fato, essa influência afro-brasileira, eu acredito que no momento que isto for revisado – porque o processo de registro de uma festa é revisado – isso pode pesar muito e esse trajeto possa ser que perca o título de patrimônio imaterial”, considera Vilson Caetano.
“A Festa do Bonfim é uma festa da espontaneidade… A Igreja retornou para a Lavagem talvez não de uma forma se integrando ao que já tinha. Ela está criando outras formas”, pontua Cleidiana.
A cobertura especial foi abrilhantada também com a participação das jornalistas Vânia Dias e Érica Latiff. No estúdio do TVE Revista, os cantores Lazzo Matumbi e Claúdia Costa ecoaram potentes canções negras. Jhonatan Gabriel apresentou o programa.
DESAFIOS DO VIVO
Coberturas ao vivo é sempre um desafio. No entanto, a TVE Bahia pode ficar mais atenta às passagens de repórteres e apresentadores. Muitas delas foram bruscas e deixaram importantes comentários dos especialistas no estúdio sem conclusão, no vácuo. Mostrar autoridades faz parte da transmissão, porém menos, neste caso, poderia seria mais.
A transmissão completa está disponível na página do Facebook da TVE Bahia.
Donminique Azevedo é jornalista e editora do Portal Correio Nagô.