Home » Revista » Organização denuncia tortura e abuso como tratamento psiquiátrico em Gana

Organização denuncia tortura e abuso como tratamento psiquiátrico em Gana

gana 2a

Com 22 anos, Doris Appiah foi levada para um centro religioso de assistência a pessoas com transtornos psiquiátricos em Gana para ser tratada de sua condição bipolar, caracterizada por abruptas mudanças de humor e comportamento. Durante os cinco anos em que permaneceu no local, Doris foi amarrada com uma corda em parede por dois meses, forçada a permanecer em jejum, incluindo de água, por dias, e obrigada a fazer suas necessidades em espaços abertos.

O seu caso não é único entre os moradores de Gana. No país africano, todas as pessoas que apresentam qualquer tipo de distúrbio psiquiátrico, independente de sua idade, são submetidas a práticas de abuso entendidas como “tratamento” e outros tipos de violações de direitos humanos em centros religiosos e instituições psiquiátricas.

A história de Doris e de 170 outros ganenses estão no relatório da HRW (Human Rights Watch) “Como uma sentença de morte: Abusos contra pessoas com deficiências mentais em Gana”, divulgado nesta terça-feira (02/10). O documento mostra como milhares de pessoas são obrigadas a viver nestas instituições mal preparadas, contra sua vontade e com poucas possibilidades de sair da condição de confinamento.

Segundo a HRW, as autoridades ganenses fizeram muito pouco para combater as violações e assegurar os direitos dessa população, incluindo o de viver em comunidade. “O governo precisa tomar ações imediatas para terminar com os abusos contra pessoas com deficiências mentais em instituições, centros religiosos e na comunidade”, disse Medi Ssengooba da organização.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) estime que cerca de 3 milhões de pessoas vivem com deficiências e distúrbios mentais no país que possui apenas três hospitais públicos psiquiátricos. Em todas as unidades, a HRW encontrou corredores e quartos em péssimas condições com fezes e urinas no chão, sistemas hidráulicos quebrados e superlotação.

Como complemento ao serviço público de saúde, existem centros religiosos vinculados às igrejas pentecostais que abrigam milhares de ganenses com distúrbios mentais. Administrados por profetas autoproclamados, essas instituições consideram que seus pacientes estão possuídos por demônios e que a “cura” será realizada por meio de milagres e consulta com “anjos”, negando, assim, qualquer tipo de medicamento.

Entre as formas mais comuns de tratamento, os residentes são amarrados a árvores em seus tornozelos por dias, aonde tem que dormir, urinar e defecar sem nenhuma assistência higiênica ou médica. Muitos acabam doentes e com hematomas nas partes atadas. Os centros religiosos também obrigam seus pacientes a permanecerem de jejum, incluindo de líquido, por mais de 36 horas como parte do processo de “cura”.

Foi em um destes locais que Doris ficou internada por meses a fio e que muitos permanecem por cerca de cinco meses. De acordo com o relatório, a condição destes centros chega a ser mais precária do que nas instituições psiquiátricas, onde o governo ainda tem o mínimo de controle.

acorrentados

“Gana merece crédito por ratificar a Convenção de Direitos das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas”, disse Ssengooba. “Agora, está na hora de mudanças verdadeiras na politica e na prática em relação a pessoas com deficiências mentais”, acrescentou.

Como afirmou Doris, que hoje luta pelos direitos dessa população, ter deficiência psiquiátrica ou mental em Gana é quase como “uma sentença de morte“.

Fonte: Opera Mundi

scroll to top