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Orixás como super-heróis não são bem recebidos por povo de santo

Ade, personagem do filme Oya – Rise Of the Superorisha (Oya- A ascensão do superorixá), do diretor e roteirista Nosa Igbinedion, é umas das poucas mulheres que ainda conseguem manter contato com entidades africanas. Após anúncios de um sacerdote fanático de que os deuses africanos querem provocar a destruição da raça humana, a heroína, que tem o poder de se transformar na Orixá Oyá, deusa da mudança e das tempestades, deve procurar a chave para abrir a porta que liga a humanidade aos Orixás e, assim, proteger os inocentes.

O cineasta Nosa Igbinedion acredita que a relação entre Orixá e super-herói é importante para a valorização do culto afro. “Esses mundos e histórias estiveram na mente das pessoas por milênios, e foram contadas de forma oral. Surpreendentemente, essa cultura ainda não foi vista nas telas dessa maneira – até agora. ‘Oya – Rise Of the Superorisha’ é mais do que um filme, é um movimento! Nosso objetivo é expandir os limites dos filmes africanos e contar novas histórias. Que melhor maneira de fazer isso do que fazendo um filme de super-herói africano?”, comenta o diretor em site oficial.

O antropólogo Marlon Marcos pontua para o Correio Nagô que “esteticamente o filme é muito bom”. Contudo ele, que é o filho de santo do Terreiro Unzó Tumbenci, localizado na cidade de Lauro de Freitas-BA, diz que teme que este filme colabore para “dessacralizar o que é sagrado e termine transformando os Orixás, na mente das pessoas que não cultuam o candomblé, como seres mitológicos e não em entidades religiosas vivas”. O pesquisador da temática do candomblé explica que os Orixás foram e são entidades importantes para o processo de construção identitária do povo brasileiro. “Eu não quero que ninguém pense em Iansã [Oyá] como Mulher Maravilha. Iansã existe. Nós referenciamos, ‘batemos cabeça para ela’. Eu não quero ver minha mãe Oyá tratada como superorixá. Eu, como filho de santo, não gostaria de passar por isso”, resume.

Pensando de maneira semelhante ao do antropólogo Marlon Marcos, a ideia de transformar Orixás em super-heróis não agrada também a outra religiosa do candomblé, Emanuelle Goes, integrante do Instituto da Mulher Negra Odara. De acordo com ela, “esta relação não é boa para um país, como o Brasil, que ainda vive a intolerância religiosa e tem preconceitos com o candomblé”. Daqui a pouco tem gente querendo se vestir no Carnaval de Orixá. Orixá não é super-herói”, completa.

Antônio Olavo, cineasta baiano que produz vídeos abordando a temática racial, diz que não teve acesso ao filme, mas conta que todas as linguagens que falam com qualidade sobre o candomblé, do culto afro são vistas, por ele, como positivas para a cultura africana. Mas, ele afirma que precisa ainda observar a proposta do conteúdo de Oya- A ascensão do superorixá para ser mais preciso no seu posicionamento.

Ainda sem data prevista para exibição e produzido com financiamento coletivo arrecadado pela internet, Oya – Rise Of the Superorisha é o primeiro filme que conta a história africana pelo viés de super-heróis.

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