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10 NEGROS (AS) DE DESTAQUE NAS OLIMPÍADAS DE LONDRES

Nas Olimpíadas de Londres 2012 negros e negras ampliaram a visibilidade nos jogos. Ao final, as principais modalidades de corrida no atletismo permaneceram sob domínio avassalador de jamaicanos, etíopes, quenianos e até na pequena Granada, ex-colônia britânica no Caribe. Países até em situação de extrema pobreza em que o esporte se tornou símbolo de superação, ao ser praticado a baixos custos, e por vezes, condicionado a um tipo de vida bastante simples, quando não mísera.

Contudo, a força negra não se resumiu a esses países. Delegações de holandeses, franceses e britânicos foram tomadas por melaninas pouco comuns às câmeras de televisão no ciclismo, esgrima, tiro, hipismo… Já os norte-americanos continuaram a colocar negros, e dessa vez, mais negras, sob holofotes em esportes tradicionalmente ocupados por brancos ou asiáticos: Serena Willians, no tênis, e Gabby Douglas na ginástica.

As mulheres brasileiras também obtiveram destaque, apesar da campanha ruim do Brasil, na 22º posição no ranking. A piauiense Sarah Menezes no judô e a baiana Adriana Araújo no boxe subiram ao pódio contra todas as adversidades. Negras?! Sim. Mestiças?! Também. Ambas de origens humildes devem sentir como o racismo nacional não se acanha com uma melanina menos acentuada.

 

Tipo ideal

Os jogos olímpicos remetem a um projeto de regaste de um tipo ideal helenístico: masculino, branco, europeu, ocidental. No fim do século XIX, a Europa ainda estava na dianteira do domínio econômico e militar sob os países do Sul, enquanto os Estados Unidos apontavam como nação emergente. Foram ingleses, norte-americanos e franceses, liderados por Pierre de Freddy, o barão de Coubertin (1863-1937), que puxaram os primeiros jogos da Era Moderna, em Atenas (1986).

Somente na Antuérpia (1920), na Bélgica, após a primeira grande guerra, os anéis olímpicos surgiram simbolizando todos os continentes em cinco cores distintas. Numa época de conflitos, se intensificou o significado das disputas étnicas e até ideológicas envoltas nos jogos. Em Berlim (1936), Hitler preparou o estádio para desfilar a superioridade da raça ariana, mas foi surpreendido ao ver o estádio aplaudir o negro estadunidense Jesse Owens, ao levar quatro medalhas de ouro no atletismo. Na Cidade do México (1968), negros norte-americanos erguiam o punho com luvas negras a cada triunfo, em referência ao Black Power e a luta pelos direitos civis que eclodia no seu país. 

Usain Bolt

Política e biologia

Durante a Guerra Fria, a extinta União Soviética e os EUA utilizaram os jogos para medir forças simbólicas no mundo bipolar: socialista x capitalistas. Alguns países asiáticos também veem as Olimpíadas como arena de exercício e representação do poder. Os jogos de Pequim (2008) foram marcados pelo maior número de medalhas de ouro obtidas pelos anfitriões em relação aos EUA, e demarcaram um novo ciclo histórico, no qual a hegemonia solitária dos EUA era corroída por uma crise financeira e a concorrência de Estados emergentes protagonizados pela China, que criou um imaginário de atletas concentrados e biologicamente mais aptos em algumas modalidades.    

A biologia é utilizada costumeiramente para tentar justificar a dificuldade de negros subirem ao pódio na maioria das modalidades. Mas isso explica o fato das seleções de basquete da Argentina, Espanha, Letônia e Rússia serem formadas basicamente por brancos e crescerem progressivamente em qualidade ao ponto de ameaçarem o poderio do time negro dos sonhos dos EUA? Ou então o nadador negro baiano Edvaldo Valério ter obtido o bronze no 4×100 livres da natação ao lado de Fernando Scherer, o Xuxa, e Gustavo Borges, num esporte quase não frequentado por pessoas de cor. A biologia se torna um caminho, além de perigoso, frágil frente às dificuldades da população negra ter acesso às piscinas ou mesmo terem suas práticas esportivas com origens milenares difundidas por todo mundo ao ponto de serem consideradas olímpicas.

Usain Bolt – O jamaicano ganhou seu sexto ouro em Londres 2012, tendo como bastião uma das provas mais clássicas, os 100 metros livres. Seus feitos provocam frisson e questionam o limite do corpo humano. Mas a técnica e a ciência sinalizam que o tempo poderá lhe superar, inclusive por compatriotas.

 

Serena Willians – Serena ficou doente um pouco antes dos jogos, ainda assim se superou ao arrasar todas as adversárias na grama de Wimbledon, até mesmo a final com a russa Sharapova. Traços fortes, espirituosa, bela, Serena incomodou os brios dos tradicionais Deuses do Olimpo. Mais ainda ao dançar como seus irmãos dos guetos dos EUA, e por isso foi tachada de incitar violência praticada apor gangues.  

 

Gabby Douglas – Aos 16 anos, ela foi a primeira negra a ganhar ouro na ginástica nas Olimpíadas. Ainda teve que enfrentar críticas sobre seu cabelo oriundas majoritariamente de negras do seu país. Reclamaram de um suposto descuidado ou mesmo do uso excessivo de gel para alisamento. Douglas se mostrou como uma verdadeira campeã: ficou indiferente às críticas.

 

Sarah Menezes – Ela saiu da periferia de Teresina no Piauí e levou o ouro no primeiro dia oficial dos jogos e encheu os brasileiros de esperança que poderia terminar sem mais um fracasso no quadro de medalhas. Foi a primeira mulher do país a ganhar medalha no judô. O Correio Nagô publicou matéria sobre esta conquista: http://correionago.ning.com/profiles/blogs/piauiense-sarah-menezes-primeira-mulher-a-ganhar-ouro-no-jud

 

Adriana Araújo – A ‘boxel’ de Salvador não comeu ‘reggae’ de ninguém, nem mesmo do presidente da confederação brasileira de boxe. Após levar a medalha, disse ter sido humilhada e menosprezada pelo dirigente, além de denunciar as péssimas condições de treinamento.

 

Kirane James – O atleta granadino fez a alegria da pequena ilha do Caribe com um pouco mais de 100 mil habitantes. Levou o ouro nos 400 m sem barreiras e ainda cumprimentou cada um dos adversários antes de se voltar sozinho às câmeras. James também ficou marcado por trocar a identificação com o sul-africano Oscar Pistorius após vencer a fase de classificação. Pistorius correu com pernas de fibras de carbono.

 

Fernanda Garay – Num esporte dominado por brancos(as) no Brasil, Garay desafiou as estatísticas e ganhou ‘no braço’ a vaga para Paula Pequeno, considerada a melhor jogadora dos jogos de Pequim. O ponto final, que deu o título ao Brasil, foi da ponteira brasileira, junto com Fabi, a mais poderosas das meninas super poderosas.

 

Wallace – O ponta da seleção de vôlei masculino foi vítima de racismo durante um jogo da Superliga em 2012. Wallace não se abateu e foi peça chave na boa campanha de Londres. Entrou em momentos decisivos, em todos os jogos, e não decepcionou.

 

Tíki Gelana – Oriunda do verdadeiro berço da humanidade, a Etiópia, Gelana venceu e bateu o recorde olímpico na maratona, a prova mais tradicional dos jogos.  

 

Stephen Kiprotich – O ugandês recebeu a coroa de ramos de oliveira na cerimônia de encerramento dos jogos de Londres.

 

Curiosidade: A maratona remete a um mito grego: um soldado percorreu 40 km a fim de avisar às mulheres de Atenas a não realizassem o morticínio juntamente com as crianças. Os gregos venceram a guerra, mas se os persas triunfassem a morte coletiva já tinha sido combinada. O combate foi longo e o soldado chegou tão exausto que morreu assim que deu a notícia.  

 

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