23/08/2018 | às 18h50
Quebrar muros e fazer o impossível. É assim que Vanessa Ribeiro, a Nêssa, descreve o intuito da música “Eu Não Ando Só”, que teve seu clipe recentemente lançado no YouTube com roteiro e produção de Daiane Rosário.
Daiane e Vanessa se conheceram em um grupo de amigos em comum. Daiane conta que depois de ver o primeiro trabalho de Nêssa decidiu propor um trabalho em parceria para se ajudarem. E é assim que surge “Eu Não Ando Só”, sem nome e muito menos música inicialmente, mas que foi ganhando uma narrativa. A música só saiu depois e já com essa característica que a comunidade negra conhece muito bem, a de estar em rede.
Pensando no clipe, Daiane relata que não queria algo linear à música, mas que fizesse sentido. O clipe se divide em três personagens com cotidianos diferentes, cada um em seu “corre” e com o objetivo de realizarem seus sonhos. Há o rapaz que trabalha numa borracharia, mas não recebe como deveria, a garota que trabalha em uma loja de roupas e precisa lidar com o humor dos clientes e o pai que cuida da criança enquanto a mulher vai trabalhar e tem a demanda de assumir a responsabilidade como pai.
O primeiro clipe de Nêssa, “Só Vem”, foi mais dançante e dentro de estúdio. Segundo Daiane, nesse segundo trabalho da artista elas quiseram levar outros atrativos ao público. “A gente ousou dentro dos limites que tinha. Foi muito ousado o que a gente conseguiu fazer. Gostamos da experiência, do resultado, mas também da sintonia entre a equipe. Foi uma junção muito legal”, conta a produtora e roteirista do clipe.
Elas revelam também a questão da espiritualidade presente no trabalho. Onde cada personagem possui uma religião. A cantora tem fé no espiritismo e revela que é muito religiosa, por isso quis passar a mensagem de fé e união religiosa. Mas para ela, faltava ainda outros elementos e é quando a Família Tríplice é convidada para fazer uma participação e foi com essa contribuição que a questão do empoderamento negro entrou no contexto, fazendo a música ganhar outros atributos além da religiosidade.
Narrativas Negras no audiovisual
“Quando você vê cantores negros e uma produção toda preta, é muito legal saber que a gente pode reconstruir isso” – Daiane Rosário
Pensando em outras narrativas, Daiane Rosário entra com a proposta de parceria trazendo o tempero a mais, as narrativas negras no audiovisual. “O audiovisual é uma ferramenta muito potente com o poder de reconstruir o imaginário e contar nossas próprias histórias com uma perspectiva mais próxima da realidade”, conta Daiane.
Segundo ela, o audiovisual ainda permite o trânsito entre teatro, música e outras áreas. E nessa junção de audiovisual e música nasce “Eu Não Ando Só” que, além de trazer a história presente no clipe, carrega também o seu significado mais literal, de que as pretas constroem redes. Ninguém anda só.
Ashley Malia é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo