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Patrimônio Cultural Brasileiro, ofício das baianas é celebrado com missa no Pelourinho

Foto I André SantanaRedação Correio Nagô*

Uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, celebrou na manhã de hoje, 25 de novembro, o Dia da Baiana. Organizado pela Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos e Similiares – ABAM, a cerimônia reuniu dezenas de mulheres que preservam a tradição deste ofício, reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/MinC.

Durante a missa, as baianas, devidamente vestidas com suas batas e torços de pano da costa, celebraram o diálogo entre a crença católica, representada pelas imagens dos santos da igreja, seus cânticos e rituais, e a religiosidade afro-brasileira, presente nos atabaques, no ijexá, nas contas de orixás que adornavam seus pescoços, junto com outros balangandãs de fé. Na procissão das oferendas, além do pão e do vinho, as baianas levaram ao altar seu tabuleiro, sua colher de pau, panela e, claro, seus quitutes sagrados: acarajé, abará e acaçá. “Quem disse que não somos nada, que não temos nada para oferecer?”, cantavam, enquanto ofereciam os valiosos símbolos da sua profissão, que mistura práticas e saberes tradicionais para o sustento econômico e o exercício da fé.

“Acarajé não é bolinho de Jesus. Acarajé é de Oyá e de Xangô. Saiu dos terreiros e continuará sendo sempre um alimento sagrado, uma comida de santo. De santo não, de orixá”, ensina Maria Emilia Bittencourt, que há 50 anos exerce o ofício de baiana. Depois de começar, muito jovem, no Largo de Amaralina, dando continuidade ao trabalho de sua mãe e de sua avó, Dona Emília se instalou no Porto da Barra, onde atualmente está o tabuleiro ‘Acarajé de Oyá’. “Quem hoje pode colocar uma bíblia em seu tabuleiro deve respeitar a memória daquelas que lutaram para garantir a permanência e o respeito a essa profissão, por meio da fé aos Orixás”.

Durante a celebração, momentos para refletir sobre muitos problemas que afligem as profissionais, como a violência doméstica, tema de uma campanha da ABAM, que visa chamar atenção dessas mulheres para a não aceitação de nenhum tipo de agressão, especialmente em seus lares. Houve também protestos contra os governantes. “Nossa festa, que acontece todos os anos, esse ano não foi realizada por falta de apoio das autoridades deste estado e desta cidade. As secretarias do governo alegaram que não podiam dar apoio por conta de um decreto recente. E a prefeitura, essa parece que nem sabe que nós existimos”, denunciou Rita Santos, presidente da ABAM. “Diferente do Rio de Janeiro, onde a prefeitura já concedeu o título de patrimônio municipal às baianas, em Salvador, esse reconhecimento não é dado. Logo aqui”, reconhece Rita Santos, listando apenas o reconhecimento federal e estadual. Ainda na igreja, algumas baianas criticavam o prefeito ACM Neto, por não apoiá-las, comparando-o ao avô, Antônio Carlos Magalhães. “Não tinha um evento que o velho não estivesse cercado de baianas”, era a lembrança compartilhada por algumas das mais velhas, presentes à cerimônia.

Para 2015, quando completam 10 anos da inscrição do Ofício de baiana de acarajé no livro dos saberes do Brasil e do reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro, Rita Santos calcula muito trabalho para a organização das baianas. “Além das preocupações com a saúde das baianas, da garantia dos seus espaços de trabalho, discussão sobre aposentadoria entre outros temas urgentes, haverá uma avaliação do IPHAN que decidirá manter ou não o reconhecimento como patrimônio”. E o que pode ser contrário? “A descaracterização que a cidade de Salvador passa ao não respeitar esse ofício que tem mais de 300 anos de existência”, aponta a presidente que promete reunir todos os esforços para unir as baianas de diversas cidades do Brasil para chamar atenção da UNESCO/ONU da necessidade de proteger o ofício como um “patrimônio imaterial da humanidade”.

Por André Santana

 

 

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