Redação Correio Nagô* – Uma pesquisa recentemente divulgada aponta oportunidades para o aumento na captação de recursos para Organizações da Sociedade Civil (OSC’s). O resultado deste trabalho executado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e encomendado pela Articulação D3 (Diálogo, Direitos e Democracia), que reúne instituições como Abong, Fundação WK Kellogg, Fundo Baobá para Equidade Racial, Instituto C&A e Fundação Avina, está sendo apresentado oficialmente nesta quinta-feira (4) durante o seminário “Arquitetura Institucional de Apoio às OSC’s”, em São Paulo.
Uma das considerações é a de que 17 milhões de brasileiros (9% da população) façam doações individuais para entidades, totalizando cerca de 5,2 bilhões de recursos doados ao ano. Além disso, quando considerado o apoio feito diretamente a pessoas ou comunidades necessitadas, sem passar formalmente por nenhuma entidade, o percentual da população que realiza doações pode chegar a 70%.
A estimativa é que cerca de 80% do valor dessas doações são destinadas para conhecidos, pessoas ou comunidade próximas, e, apenas 20% são destinadas a 290 mil fundações e associações sem fins lucrativos (último levantamento da Fasfil do IBGE), sendo que desse grupo, 42 mil são voltadas para a defesa de direitos – foco da pesquisa.
“Por isso, existe a necessidade de estudar formas de comunicação entre as OSC’s e a população para que esses recursos sejam destinados as suas causas e, assim, aumentar o número de arrecadação das OSC’s”, destaca a Articulação D3.
Outra oportunidade para captar recursos é a criação de Fundos capazes de elaborar indicadores de performance e realizar um acompanhamento consistente dos projetos apoiados. Exemplo disso é o Fundo Baobá para Equidade Racial, que atua no Brasil desde 2011 apoiando projetos pró-equidade racial de OSCs afro-brasileiras.
“Elaborar um plano de ação, trabalhar com transparência e critérios éticos para a escolha de projetos, é fundamental para conquista de recursos financeiros”, afirma Athayde Motta, diretor executivo do Baobá.
Para mapear o cenário de financiamento das organizações, a pesquisa realizada pelo CEAPG-FGV em parceria com a D3 foi dividida em quatro eixos: Cooperação Internacional, Novos Formatos, Recursos Públicos e Investimento Social Privado (ISP).
De acordo com a Pesquisadora do CEAPG-FGV, Patricia Mendonça, os principais entraves estão relacionados com a burocracia governamental, acesso aos recursos corporativos, que preferem os assuntos relacionados à educação, saúde, entre outros temas, além da falta de incentivo por parte das pessoas físicas. “Garantir o funcionamento e investimento das OSC’s significa assegurar a luta pelos direitos humanos, igualdade, liberdade, atenção a grupos vulneráveis e outros”, afirma Patricia.
A Articulação D3 – Constituída em 2009, a Articulação D3 (Diálogo, Direitos e Democracia) é composta por um grupo de organizações não-governamentais, institutos e fundações privadas nacionais, agências de cooperação internacional bilaterais e multilaterias. Seu objetivo é sensibilizar e articular representantes de distintos setores – social, empresarial e governamental – para construir uma estratégia conjunta voltada à sustentabilidade das organizações da sociedade civil, bem como ao aprimoramento da influência dessas organizações sobre políticas relacionadas às áreas em que atuam.
Baobá – Criado em 2011 e com sede em Recife (PE), o Fundo Baobá para Equidade Racial é uma organização sem fins lucrativos e tem como objetivo mobilizar pessoas e recursos no Brasil e no exterior para apoiar projetos pró-equidade racial de organizações da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras.
O Fundo Baobá também promove uma agenda para estimular a filantropia para a justiça social no país, baseada nos princípios de efetividade, transparência e ética. A Fundação Ford e a Fundação Kellogg são as duas mantenedoras da entidade. A Fundação Tides, o Synergos e o Africare também são parceiros do Fundo Baobá.
A ideia que deu origem ao Fundo Baobá surge em 2008 com a decisão da Fundação Kellogg em deixar o Brasil até 2012. Intelectuais e ativistas afro-brasileiros foram convidados pela Fundação para discutir alternativas para a sustentabilidade das OSCs afro-brasileiras e a criação de um legado, a ser deixado pela Fundação, para apoiar o trabalho destas organizações no país.
*Com informações da assessoria do Fundo Baobá