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População negra é mais suscetível a doenças evitáveis no Brasil, diz ONU

02/03/2018 | às 18h

Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, a população negra é mais suscetível a doenças evitáveis no Brasil. Com base em dados oficiais, a ONU revela que a mortalidade de recém-nascidos antes dos seis dias de vida, mortes maternas, tuberculose e infecções sexualmente transmissíveis são alguns dos problemas de saúde evitáveis que são frequentes entre pessoas negras.

Segundo o Ministério da Saúde, 55% dos casos de Aids registrados em 2016 ocorreram em pessoas negras; em casos de sífilis, os negros eram 42,4% dos que adquiriram a doença no mesmo ano. Além disso, são mais incidentes ainda doenças como hanseníase, que se relacionam com as condições precárias de moradia e higiene. Em 2014, 31.064 casos da doença foram notificados e, desse número, 21.554 dos casos era na população negra.

A maior incidência da população negra a problemas de saúde que são evitáveis dá indicativos sobre como a população negra, uma das mais vulneráveis no Brasil, está exposta a doenças que já são consideradas superadas, preveníveis e evitáveis. “O racismo tem um importante papel de expor a população negra a maior incidência das doenças e outros aspectos da vida”, diz Edna Araujo, Doutora em Saúde Pública e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana.

A Dra. Edna chama a atenção para a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que tem a perspectiva de fazer valer a equidade, um dos princípios do SUS. “Se a gente tratasse diferente quem é diferente nesta sociedade, teríamos uma possibilidade de alcançar a equidade. A experiência de saúde e de adoecimento da população negra em comparação com a população branca é muito diferente, com essa equidade poderemos diminuir a desigualdade que existe entre a saúde da população negra e não-negra”, completa.

SUS

Atualmente, 80% da população que tem apenas o Sistema Único de Saúde (SUS) como plano de saúde é negra. O estudante de 22 anos, Lucas Freitas, conta que para ele é complicado marcar consultas pelo SUS. “Minhas experiências com consulta são péssimas, eu já desisti de algumas especialidades por causa da demora. Para eu marcar um dermatologista, por exemplo, demorou uns seis meses”, diz. Entretanto, apesar de toda a dificuldade em conseguir marcar consultas, Lucas revela que é bem tratado durante o atendimento e considera de boa qualidade, dependendo do local em que se marca. “É uma questão de escolha do paciente, não abro mão do IBOPC [Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira] para oftalmologista, aí vai do quanto a pessoa está disposta a esperar pela vaga”, completa.

Já a estudante de 19 anos, Brenda Cruz, relata falta de confiança no SUS: “Falar da minha experiência com consultas e tratamentos é falar de aflição, falta de fé e de imensas tentativas. Na última tentativa da minha mãe de marcar uma consulta no oftalmologista, ela teve como resultado três idas e voltas inúteis a centros de saúde do SUS”, conta Brenda. Segundo ela, quando entra nos casos emergenciais a coisa só piora: “Quando se trata de casos emergenciais é temer pela própria morte e pensar se realmente vale a pena sair, ou esperar pelo pior em casa”.

Ashley Malia é repórter-estagiária do Correio Nagô

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo

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