Por Rosângela Accioly
“O peso do silêncio vai terminar nos engasgando” – Audre Lorde.
O conceito de gênero é uma categoria de análise normatizada pela nossa sociedade, que se refere à existência de uma separação de homens e mulheres a partir de construções socioculturais baseadas apenas em sua biologia, formando assim um padrão binário onde o feminino e o masculino se definem por um conjunto de regras construídas socialmente e que, compreende-se que não devem ser desrespeitados. Entretanto, gênero vai muito além de uma divisão binária e biológica, dependendo de mais fatores do que se pode enumerar, podendo ter em cada pessoa maior ou menor influência. No contexto escolar, a inclusão das diversidades é um importante instrumento de enfrentamento ao sexismo, ao machismo e as LGBT fobias. Oportunizar práticas pedagógicas que incluam discussões acerca da identidade de gênero, orientação sexual, sexualidade e LGBT fobias contribuem para a construção de uma sociedade mais igualitária. Este também é o papel da escola que pretende ser cidadã.
Assim que, os temas transversais direcionam novas práticas acerca desta temática no cotidiano escolar, entretanto pouco se tem visto no que diz respeito à construção de práticas pedagógicas que incluam estes sujeitos e suas demandas. Quando falamos de gênero, o currículo dialoga com uma problemática que aflige muitas mulheres, a violência doméstica, a cultura machista, o sexismo, as desigualdades laborais em razão do gênero e da sexualidade e também a perversa violência e violação de direitos a que sofrem as pessoas que têm orientação sexual fora do padrão da heteronormatividade.
Segundo AUGUSTA Laura, “a violência contra a mulher é um problema de saúde pública que se constrói no Brasil numa perspectiva colonizadora e escravagista, onde todos os dias, cerca de 13 mulheres são assassinadas e destas, 7 são negras”. (1ª edição do Jornal Tamo Juntas! Maio de 2017, ano I)
A ausência dessas discussões e práticas inclusivas, tem como consequência, a exclusão dos estudantes que têm sua orientação sexual fora padrão social que foi convencionado, a certeza da impunidade dos agressores a meninas em situação de violência, isto é uma realidade nas escolas brasileiras, entretanto é urgente entender que estes sujeitos são cidadãos/ãs e que têm direitos, sendo assim precisam realizar o ciclo escolar como quaisquer outros estudantes. Entendemos que o currículo que não lida com a diversidade contribui para atitudes de intolerância, a impunidade e faz com que a evasão seja uma realidade para alunos/as.
Abordar diretamente estas temáticas reconhecendo que elas se convergem é fundamental em qualquer faixa etária, discutir papéis femininos e masculinos, os ‘borramentos’ de fronteiras de gênero e desconstruir estes referenciais são atribuições da escola contemporânea, para isso é preciso ter a coragem de enfrentar grupos historicamente hegemônicos.
A pergunta do título do texto tem sido nacionalmente articulada pela direita conservadora e reacionária. Grupos fundamentalistas que representam o patriarcado em nosso país nas Câmaras de Vereadores/as das cidades brasileiras, interferindo na efetivação de políticas afirmativas nos Planos Municipais de Educação usando como argumentos “para que esse discurso de gênero nas escolas? Eles querem perverter nossos filhos” e com isso de maneira absurda reduzem o discurso sobre tão importante temática; do outro lado, aqueles que defendem o currículo afirmativo são acusados/as de serem, a favor do aborto, e chamados de “esquerda assassina”.
Há décadas esses mesmos grupos aparentemente do “bem”, de moralidade ilibada, nunca se importaram com a violência simbólica, sexual, psicológica as quais mulheres, foram e são submetidas todos os dias, nunca se comprometeram com as demandas escolares de meninos e meninas, que em razão de sua opção sexual, só lhe restavam subempregos. Será que essa gente nunca foi às escolas ou nas universidades e viram que muitos jovens não frequentam as academias brasileiras? Pois é, historicamente essa é a realidade, a escola não quer a diversidade sexual lá, é isso que acontece. Esse currículo discriminatório e preconceituoso retira esses/as cidadãs/os dos bancos das escola, mandando-os para as ruas e empregos informais.
Por outro lado, as altas taxas de feminicídio e estupros – como mostram os dados – são alarmantes, quantas Marias, Paulas, Joanas, Vilmas, Luanas; quantas mulheres são violentadas e/ou mortas pelo ódio machista ou sexista.
Sim, identidade de gênero, sororidade, solidariedade são conteúdos para uma escola que pensa em igualdade, respeito, diversidade e inclusão. Estes conteúdos apontam um caminho para a convivência entre homens e mulheres, que precisam aprender a amar e se respeitar, com eles nossas crianças e jovens são fortalecidos/as para não se tornarem agressores nem vítimas de agressões. Por tudo isso, estas discussões devem está no cotidiano escolar, e desde a mais tenra idade. É preciso entender a diversidade das orientações sexuais, as demandas da mulher na atualidade, a sexualidade, o respeito às diferenças, é o desafio da formação intelectual e moral.
O espaço da escola não é o de defender este ou aquele conceito e sim, o de também, oportunizar uma convivência pacífica e respeitosa entre os cidadãos/as que convivem em sociedade. Assim sendo, o currículo escolar necessita discutir os fatos que ocorrem na contemporaneidade, pois é um espaço de formação de cidadania extremamente importante. A escola pensada para a diversidade apoia que o direito a estudar, que é um direito de todas/os as/os cidadãos brasileiros/as.
Portanto, é preciso discutir políticas públicas educacionais vigorosas com formação continuada de educadores/as para a construção de uma cidadania plena e de liberdade de expressão e que, sobretudo prime pela diversidade, levando em consideração a diferença como um elemento constituidor da humanidade.
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