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A defasagem do Brasil na controversa exploração do petróleo do pré-sal

O ufanismo continua figurando como um dos pilares mais proeminentes da nossa cultura, e esse aspecto do nossa abordagem da realidade não deixou de ser perigoso enquanto ameaçador ao nosso futuro, em consequência da sua contribuição contraproducente a marcha na direção da plena cidadania internacional.
O dia 5 de março de 2013 começa e um dos telejornais matutinos informa que o programa do governo federal denominado “Ciência sem fronteiras” vive um dilema com relação ao envio de estudantes para o exterior. O que acontece pode ser resumido pela seguinte frase: O programa tem dinheiro, mas os candidatos não dominam o idioma Inglês. E aí aflora à mente outra pergunta: Como fazer uma Ciência antenada com a realidade internacional sem falar, ler e escrever em Inglês? Essa situação se torna emblemática do nosso ufanismo quando lembro que nós percebemos o Português como “um dos idiomas mais difíceis do mundo…”, o que parece nos desobrigar a estudar outros idiomas. Seguindo a sequencia de análises passamos para outro questionamento que vem na contramão daquela primeira pergunta: Como então se justifica a visão que se “vende” aqui no Brasil de que nos temos tecnologias avançadas nas mais diversas áreas da atuação humana, inclusive tecnologia para a exploração do petróleo do pré-sal?
Em geologia, o termo “camada pré-sal” é usado para designar aglomerados de certos tipos de rochas sob a crosta terrestre, formadas exclusivamente de sal petrificado, depositado sob outras lâminas menos densas no fundo dos oceanos e que formam a crosta oceânica. Segundo os estudiosos do assunto, esses tipos de rocha mantém grandes reservas de petróleo aprisionadas. Entre a costa ocidental da África e a oriental da América do Sul existem depósito riquíssimo de matéria orgânica que viria se acumulando ao longo de milhões de anos sob o sal petrificado e posteriormente prensado por pesadas lâminas, transformando-se, assim, em petróleo. Recentemente tais reservas foram descobertas no mar da costa do Brasil, e a nossa petrolífera estatal já alardeia que “no pré-sal, desde que começamos a produzir, em 2008, superamos 100 milhões de barris de petróleo. Diariamente são mais de 200 mil barris, nas bacias de Santos e de Campos. Em 2017, estimamos alcançar 1 milhão de barris por dia…”
A verdade do dia-a-dia dessa nova e particularmente desafiadora área da tecnologia humana no nosso país tem como desafios rotineiros contornar obstáculos hercúleos para produzir óleo e gás a sete mil metros de profundidade no oceano, embaixo do leito marinho abrindo perfurações através de três mil metros de rochas que cobrem uma camada de sal com (e que podem chegar até a cinco mil metros de espessura). Recentemente, durante a Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, alguns dos maiores desafios relativos à exploração do pré-sal foram debatidos. Engenheiros e palestrantes afins pontuaram que um dos principais desafios é representado justamente pela tarefa de perfurar os reservatórios de petróleo do pré-sal. As camadas de sal são tão instáveis que podem engolir as brocas de perfuração e derrubar a carcaça que envolve o tubo de perfuração, etc.:.
Por outro lado, cientistas e engenheiros do Centro de Pesquisas da Petrobrás, o CENPES, ainda tentam encontrar uma maneira de instalar plantas de processamento automatizadas para separar o gás, o petróleo e a água no leito marinho, a cerca de dois mil metros de profundidade. Caso seja mantido o ritmo da pesquisa tecnológica que tem caracterizado o Brasil dos últimos vinte ou trinta anos, depois de desenvolvidas as tecnologias que possibilitem a compatibilização desse estágio da produção (ou “upstream”), com a entrega do óleo e do gás como produto primário para as fases subsequentes, como, transferência, processamento e entrega do produto para a estocagem primária, que é o estágio básico da fase “downstream”, vamos precisar de mais trinta anos antes que cosigamos contar como o uso corrente dessas práticas tecnológicas. Até lá, como estará o mercado de petróleo no mundo, em face das crescentes ameaças a sua comercialização e uso, mais e mais em “xeque” pelas agencias ambientais, por exemplo?
As plantas para a execução dos processamentos primários de óleo e gás exigidos pela exploração petrolífera do pré-sal, funcionarão movidas por geradores elétricos submarinos que também bombearão petróleo e gás, através de dutos instalados no fundo do oceano para estações coletoras a centenas de quilômetros de distância segundo uma sequencia de tarefas que impõem o desenvolvimento de uma nova e revolucionária logística. Por isso, os investimentos na área do pré-sal se ampliam cada vez mais e chegarão a US$ 69,6 bilhões até 2016, de acordo com o Plano de Negócios da Petrobrás.Mas, as pesquisas e ensaios mais importantes e promissores relativos a essa nova logística ainda estão no curso primário. E isso graças a iniciativas pioneiras de empresas privadas de médio porte, as quais se pautam pela agilidade intelectual e são portadoras de alta capacidade de investimento seletivo. Essas empresas não podem se dar ao luxo do desperdício, praga indissociável do investimento público no Brasil. Empresas do porte da nossa Petrobrás, que funcionam como autarquias monolíticas jamais terão essa agilidade, e assim, nesse campo da atividade humana essas gigantes são como dinossauros.
A tarefa de transferir os equipamentos de produção de petróleo para o leito do mar já é meta da indústria global do petróleo, que explora em águas cada vez mais profundas.
Por fim, vale enfatizar um contraponto importante do quadro dos desafios do pré-sal, evidenciado, pela inaplicabilidade da geofísica regular, uma ciência aliada tradicional da exploração de petróleo, que não encontra uso frutífero na exploração de petróleo em águas profundas. É que um dos métodos geofísicos mais aplicados em prospecção de petróleo toma como base a captação de ondas sonoras. Mas a presença do sal na lamina de água oceânica distorce essas ondas sonoras, as quais se propagam muito mais rapidamente através do sal do que através das rochas do entorno, mudando as imagens da mesma maneira que um lápis parece ficar torto quando colocado dentro de um copo de água, um efeito físico conhecido como “paralaxe”. Uma das tecnologias usadas para resolver esse problema assim como implementar com maior eficácia as tarefas submarinas nas profunidades oceânicas onde estão os reservatórios do pré-sal, usa veículos robôs de última tecnologia. São empresas privadas que estão desenvolvendo veículos operados remotamente (Remoted Operated Vehicles) os ROV´s, usados hoje no lugar de mergulhadores para apoio em operaçoes de localização real de poços de produção e de propecção.assim como em construções em águas profundas, e nenhuma dessas empresa é brasileira, pelo menos por enquanto.

*Adelson de Brito, foi diretor da Divisão Internacional da Spec Engenharia, Ltda, uma empresa especializada em engenharia de exploração de petróleo e gás natural.

Referencias:

1. Franciso, W. de C. e; (2013); Pré-sal desafios;Brasil Escola Acesso: http://www.brasilescola.com/brasil/presaldesafios.htm (acessado em 05/03/2013);
2. Atuação no pré-sal; Acesso: http://www.petrobras.com.br/pt/energia-e-tecnologia/fontes-de-energia/petroleo/presal/ (acessado em 05/03/2013);
3. O pré-sal e suas dificuldades, tecnologias e logística em águas profundas; Paraíba.com. br (2013); Acesso: http://www.paraiba.com.br/2011/02/28/09291-o-pre-sal-e-suas-dificuldades-tecnologias-e-logisticas-em-aguas-profundas (acessado em 06/03/2013);
4. Zupt; (2013); http://zupt.com/inertial-positioning-technology/ (acessado em 06/03/2013);
5. Imagem: O petróleo brasileiro: História e pré-sal; Acesso: http://economia.culturamix.com/investimento-2/o-petroleo-brasileiro-historia-e-pre-sal (acessado em 06/03/2013);

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