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Em tempos de ódio, rappers cantam resistência e respeito

12/10/2018 | às 21h53

Em meio ao caos instaurado pela intolerância e violência,  o  rap é ainda uma importante estratégia política de resistência. No palco da Ocupação Afro.Futurista, em seu segundo ano no Terminal Rodoviário da Lapa, Dani Nega e Craca convidaram o rapper alagoinhense Hiran e Áurea Semiséria para cantar em uníssono por respeito às diferenças na última quarta (10).

“Vim à Bahia é como se eu me recarregasse”, declarou Dani. Para a rapper a Bahia é a Wakanda onde o contato com a ancestralidade reenergiza. “São Paulo engatinha num processo de reconstrução de sua ancestralidade negra e eu me sinto abastecida quando chego por aqui e vejo tantas pessoas pretas em circulação neste espaço”, relatou.  

Após passagem pela Bahia, Dani Nega diz voltar reenergizada para São Paulo |Foto: Usina Films

Durante sua apresentação, a rapper paulistana criticou a postura de conterrâneos que aproveitaram da tensão causada pelas eleições para cometer crime de xenofobia contra os eleitores da região Nordeste do país. A cantora lamentou a postura e diz se sentir envergonhada com tanto discurso de ódio disseminado nos últimos dias. 

Amar em meio ao ódio

“Um pouco de amor em meio a tanto ódio”, diz Hiran antes de cantar a faixa “Escapar”, do seu primeiro CD de estúdio, “Tem Mana no Rap”. “Eu preferi falar de amor hoje”, ressaltou o cantor. Hiran acredita que o cenário político tem repercutido numa sociedade bélica, por isso, julgou importante apostar em outra narrativa. “Meu som por natureza fala de guerra, neste momento que eu estou vendo todo mundo falar de guerra, eu achei melhor falar de amor”, reforçou.

Hiram tem se desafiado a falar mais de amor | Foto: Usina Films

O rapper ainda destacou que a Ocupação Afro.Futurista é realizada em um dos terminais rodoviários de maior fluxo da população da capital baiana e sua música poderia contribuir para que as pessoas pudessem reconsiderar o sentimento que está sendo dissolvido em meio a tantas mensagens de ódio. “Acho que minha contribuição para um evento que é realizado na rua, perto de tantas pessoas, é falar de amor. Tenho me desafiado a falar mais de amor”, afirmou Hiran.

Futuras vozes

A MC Áurea Semiséria conta que é difícil fechar os olhos e cantar sem ter vontade de chorar diante do clima de desolação diante da maratona política até o segundo turno, mas os versos de Áurea Abolicionista falam de resistência como um armamento.  “Eu subi no palco com dor no coração com vontade de chorar, mas a gente está aqui, seguimos resistindo a esta forçada que quer nos ver para baixo”, disse.

Aurea falou da importância da resistência | Foto: Usina Films

Ainda segundo Áurea a Ocupação Afro.Futurista encaminha mensagens de um futuro em que pessoas negras deterá o poder e aposta no rap como um amplificador destas vozes. “Quem passa por aqui e ver a gente dando nossas mensagens pode se convencer que merece estar neste lugar, e isso é forte. Comigo foi assim, quem sabe amanhã tem outras como eu aqui”, relatou a cantora.  

Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Portal Correio Nagô

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

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