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Jogar Free Fire no apartamento é a mesma coisa que jogar Free Fire na favela?

Por Anderson Shon para a Coluna “Black Nerd”

Não, esse não será um texto sobre como jovens são influenciados negativamente por jogos de tiro. Também não será um que afirma que, se os games fossem influenciadores determinantes, jogar FIFA demais nos faria o novo Messi.

Free Fire é um dos entretenimentos mais populares da atualidade. Sua mistura de Counter Strike com Minecraft o faz ser bem dinâmico, além de ser um jogo de rodadas, onde constantemente é reiniciado, prato cheio pra quem não fica muito preso na mesma coisa sempre… em outras palavras: prato cheio para jovens.

Vale uma ressalva antes de começarmos a analisar hipóteses: o único jogo a estar no top cinco dos mais vendidos que tem como protagonista um negro (excluindo jogos de futebol) é o GTA, onde o personagem principal é envolvido em criminalidade, contravenções e acaba reforçando um estereótipo que tanto queremos apagar.

Free Fire não é responsável por nenhuma morte, nenhuma catástrofe, nenhum ódio, mas será que é bom viver uma realidade em que o crime se avizinha e ir espairecer dando uns tiros e indo a loucura por cada headshot bem sucedido?

Ilustração do game Grand Theft Auto – GTA

Infelizmente, as favelas, morros, áreas de alta periculosidade tem, em sua maioria, moradores negros, muito por questões históricas que até hoje não foram resolvidas. O Free Fire é um jogo de celular que pode acompanhar um jovem 24 horas do dia, se ele assim quiser.

Imagine-se jogando um game de tiro enquanto ao redor se escuta o som da polícia invadindo, dos fogueteiros avisando a chegada dos homens da lei, dos traficantes brigando por sobrevivência.

Será que o Free Fire é o melhor entretenimento em situações como essa? Não tenho nada contra esses tipos de jogos, mas tenho uma preocupação tamanha com nossos jovens negros e creio que algo que parece inofensivo, aliado a um contexto desfavorável, pode ser um problema.

Esse é um assunto muito delicado e um pequeno texto não tem a pretensão de fazê-lo mudar de opinião ou chegar a determinada conclusão. Só creio que é preciso pensar que nossos jovens negros, que vivem em uma condição social adversa, devem ser influenciados por arte que os mostre uma realidade capaz de desligá-lo momentaneamente do que é real. Talvez, dar uns bons tiros seja entretenimento pra quem sabe que isso está distante.

Que tal trocarmos o Free Fire pelo Free Peace?

#WakandaForever

Apaixonado por poesia e pela cultura geek, Anderson Shon (Anderson Mariano de Santana Santos) é escritor, poeta e professor, com graduação em Comunicação Social. Autor do livro Um Poeta Crônico(2013), divulga seus escritos por meio de um blog, um canal no youtube e em seus perfis nas demais redes sociais digitais. A partir de abril de 2019, integra o grupo de colunistas do portal Correio Nagô, assinando textos para a coluna Black Nerd.

Este conteúdo é de responsabilidade do autor.

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