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Jovens, mulheres, lésbicas. Por que não, negras?

Não poderia comentar outro assunto em minha primeira postagem nesse espaço do Correio Nagô. O brutal assassinato de um casal de mulheres em Camaçari, no sábado 25 de agosto passado, é uma cruel demonstração de como estão entrelaçados os marcadores sociais das desigualdades. E, embora o crime não tenha evidência aparente de racismo, acredito que machismo e lesbofobia devem nos causar indignação suficiente.O duplo assassinato ocorreu às vésperas do dia da Visibilidade Lésbica, 29 de agosto, como uma demonstração do vigor da lesbofobia como tema a ser debatido em sociedade. Na mesma cidade, em junho passado – e às vésperas do Dia do Orgulho Gay (28 de junho) – um jovem foi assassinado por andar abraçado a outro homem, seu irmão.O assassinato anterior já demonstrava que a homofobia ultrapassa as fronteiras das identidades sexuais, atingindo também heterossexuais. O atual demonstra como as discriminações se articulam, ao invés de se somar, de uma forma que é difícil de saber se pesou mais as questões de gênero ou de sexualidade. Mais do que isso, se é correto que a lesbofobia reúne homofobia e machismo como conceitos diferentes e interligados, pergunto se vale a pena “medir” qual pesa mais, qual é pior – se essa mensuração é possível por algum critério. Mais importante é concluir que a associação entre raça, classe, gênero e sexualidade torna as violências sociais mais letais.

Esse blog pretende refletir sobre as intersecções entre raça, classe, sexualidade e gênero – nem sempre nessa mesma ordem, nem sempre seguindo alguma ordem. Reconhecer as identidades, investigar os interstícios e provocar os símbolos associados. Meu objetivo é derrubar barreiras que impedem o movimento negro, por exemplo, de se indignar com um caso como esse. Sendo negro e gay, isso não me passa despercebido. Por isso mesmo, minha admiração pelas lésbicas negras. Um dos segmentos mais avançados do debate político, elas lideraram o movimento LGBT na produção de uma carta aberta pedindo a aprovação da lei que criminaliza a homofobia. Nessa carta, lê-se na primeira frase: “a Bahia se comoveu e se indignou com as notícias veiculadas nos jornais locais sobre o assassinato de um casal de jovens lésbicas negras no município de Camaçari”.

Nos próximos artigos, vamos tentar enegrecer porque a lesbofobia, o machismo e o preconceito de classe não são identificados (e combatidos) pela comunidade negra.


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