O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi marcado por passeatas em Salvador. Partindo do Campo Grande ou da Ladeira do Curuzu, centenas de militantes se uniram em protestos conta o racismo, que culminaram no Pelourinho, destino das duas caminhadas.
A XXXVI Marcha de Zumbi dos Palmares aconteceu no Campo Grande e seguiu em direção à Praça Municipal. Militantes do movimento negro e políticos que defendem a causa racial se posicionaram e pediram igualdade para o povo afrodescendente. Ressaltando as contribuições do Movimento Negro Unificado (MNU), o vereador Silvio Humberto destacou que a comunidade negra deve ocupar certos lugares. “Chegou a hora do povo que tem cabelo duro, nariz largo conquistar os espaços de poder. A luta continua até que chegue o fim da praga do racismo, que desperdiça talentos e põe fim nos sonhos”, destaca.
Segundo os dados da pesquisa desenvolvida pelo Mapa da Violência, os jovens negros brasileiros, pessoas com idade entre 15-29 anos, possuem 2,5 mais chances de serem mortos por homicídios que os brancos. De acordo com o relatório, o número de negros que morrem violentamente tende a crescer, enquanto o de não negros reduz. Manifestantes afirmavam que o próprio Estado é condizente com essa situação. Indo em direção ao Pelourinho, manifestantes solicitavam o fim de veículos da imprensa que, segundo eles, estigmatizam a imagem dos negros, como o Se Liga Bocão e Na Mira, telejornais denunciados ao Ministério Público pelo Movimento Negro como violentos. “O racismo não nos representa. Não queremos Se liga Bocão. Não queremos na Mira”, afirma manifestante em cima do trio.
Lojistas e pessoas que passavam pela Avenida Sete pararam para ouvir discursos que relembravam mortes de cidadãos negros que ocorreram no Brasil, como a do jovem Davi Fiuza, de 16 anos, que desapareceu em 2014, na capital baiana, após policiais militares o abordarem. Outro caso relatado foi o de Amarildo, ajudante de pedreiro que sumiu, na Rocinha, no Rio de Janeiro, depois de ter sido detido por agentes da polícia.
Falando da importância da Marcha, o mobilizador do projeto Brasil Afroempreendedor, Cristiano Lima, diz que o 20 de novembro é marcado como um dia de denúncia. “Hoje, nós estamos denunciando o racismo, as desigualdades e a morte dos jovens negros. Enquanto houver racismo, estamos nas ruas”, pontua.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os trabalhadores negros ganham menos que os brancos. A senadora Lídice da Mata, que esteve presente na Marcha de Zumbi dos Palmares, destacou a questão da realidade do negro dentro do mercado de trabalho. “Nós não nos calaremos diante do racismo. Nós conquistamos cotas nas universidades públicas e concursos públicos, mas os salários dos negros ainda são menores que os dos brancos, mesmo exercendo os mesmos cargos, salienta. Lídice da Mata aproveitou o momento para falar da “força” do MNU. Ela ressalta que as conquistas alcançadas pelo povo negro se devem ao Movimento. “Não estamos conquistando nada de graça”, pontua.
Também homenageando a Década Internacional de Povos Afrodescendentes, que tem como objetivo “promover o respeito, a proteção e a realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais dos povos afrodescendentes”, a 15ª Caminhada da Liberdade fez, com música de grupos afro, como Muzenza, Ilê Aiyê, Cortejo Afro, o trajeto Curuzu – Pelourinho. Conforme o presidente do Fórum de Entidades Negras, Jorge Santos, a Caminhada foi uma referência a Zumbi dos Palmares e uma forma de buscar, para a população negra, o “desenvolvimento, a justiça e o reconhecimento”, finaliza. A Caminhada da Liberdade também prestou homenagem ao ex-presidente Lula, que esteve presente à mobilização na Liberdade, ao lado do governador da Bahia, Rui Costa, despertando tanto aplausos, como vaias do públicos presente, que se dividiu em relação ao tratamento ao ex-presidente.
Da Redação do Correio Nagô