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Projeto Visual “Afro-Amazônia” dá visibilidade às comunidades quilombolas que resistem na Floresta Amazônica

Quando pensamos nos povos que habitam a floresta Amazônica, logo nos vêm à cabeça os povos indígenas e as populações ribeirinhas. Entretanto, recentemente o cineasta e fotógrafo Miguel Pinheiro nos trouxe o conhecimento de comunidades quilombolas que residem no Pará, em uma parte da Amazônia, através do projeto Afro Amazônia. 

A Amazônia é um lugar cheio de cores e culturas, por lá a cultura preta resiste em quilombos formados desde meados do século XIX, quando aconteceu a revolta popular no Grão-Pará, a Cabanagem, fazendo com que alguns escravos fugissem floresta adentro, buscando outras possibilidades de vida. Em alguns quilombos, naquela época, além dos escravos negros, também estavam presentes indígenas. Todos os quilombos visitados pelo projeto são rurais e sobrevivem há gerações da agricultura, do extrativismo, da caça e da pesca.

O Afro Amazônia é um foto-livro com exposições virtuais de imagens e vídeos disponíveis na página do projeto, o conteúdo visual foi coletado entre os anos de 2016 e 2018, contando a história e mostrando as vivências dos quilombos no Pará. “Um registro inédito que nos transporta para o cotidiano de populações remotas, quase-invisíveis na Floresta Amazônica, e nos revela histórias de resiliência em meio a uma grande riqueza cultural, talvez única em todo o planeta!”, conta Miguel.

Miguel conta que a ideia do projeto nasceu após uma conversa com o africanólogo brasileiro Alberto Costa e Silva, que despertou nele um interesse em buscar populações quilombolas pelo Brasil. Alberto acredita que o processo de escravidão, para além da violência, trouxe para este país culturas que foram invisibilizadas, mas que seguem vivas e escondidas nos tempos atuais.

“A ideia inicial do projeto se centrava na memória, no registro de histórias contadas pelos mais velhos, nas reflexões que alimentavam a construção identitária das várias comunidades visitadas. Contudo, o foco de atenção do projeto passou a ser outro. Sem exceção, as comunidades enfrentavam um processo acelerado de perda cultural, devido a constantes desequilíbrios no seio dos seus territórios. Além de uma imersão nas  histórias destes quilombos, o projeto ajuda a amplificar as vozes e as denúncias dos seus habitantes.” , relata o fotógrafo.

Através do Afro Amazônia os quilombolas entrevistados por Miguel e sua equipe denunciaram, dentre tantas dificuldades vividas (desmatamento, diminuição das águas dos rios e de animais para caça), o apagamento cultural por meio das igrejas católicas e evangélicas que rondam a região e insistem em desconstruir o legado ancestral dos quilombos. Uma das entrevistadas por Miguel, Dona Antunina, revela que a cultura de seu povo é demonizada pelas instituições religiosas que encontram sua comunidade.

O Afro Amazônia foi incentivado pelo Edital de Artes Visuais da lei Aldir Blanc – Estado do Pará. Além de mostrar as complicações quilombolas na Amazônia, mostrou a resistência e capacidade de resiliência desse povo. O projeto resgata o passado e preserva a história e cultura dessas comunidades.

Maira Passos
Com supervisão de Valéria Lima

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