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Que masculinidade é essa?!!!

Sou Alan Costa Bispo, 27 anos, bixa preta natural de Santo Antônio de Jesus – BA, formado em Letras Vernáculas pela UNEB e idealizador do Coletivo Afrobapho. Esse é o meu primeiro texto como colunista do Correio Nagô. Sinto-me completamente honrado e feliz com o convite, principalmente por ser uma possibilidade de compartilhar minhas ideias e opiniões sobre as demandas do universo LGBT negro. A coluna “Afrochegue-se” será um espaço de discussão sobre vivências, experiências e enfrentamentos, numa perspectiva interseccional entre raça e sexualidade. Afinal, uma bixa preta tem que saber resistir e sobreviver entre os rojões de racismo na comunidade lgbt e os rojões de homofobia na comunidade negra heterossexual.

Fotos: João Lima para a AfroBapho

Fotos: João Lima para a AfroBapho

O Brasil é um país que funciona a base do racismo estrutural. Todas as relações – sejam elas políticas, profissionais, educacionais, afetivas – são interpeladas por uma ideologia racista, que coloca os negros no lugar da invisibilidade e subalternidade. Paralelamente a essa construção, a branquitude transformou o corpo negro em signo marcador de estereótipos racistas, através da desumanização, objetificação e hipersexualização, que podem ser notados explicitamente em livros, revistas, filmes, novelas e principalmente na indústria pornográfica.

Nesse viés, o homem negro sempre é idealizado como o hipermacho-viril-pauzudo-insaciável, que deve atender a essas expectativas para legitimação de sua condição social. Alguns homens negros compreendem os estereótipos sexuais como configurações vantajosas no sistema patriarcal, principalmente em relação aos homens brancos. Dessa forma, potencializam um modelo hegemônico, descartando outras possibilidades de se pensar masculinidade.

A imposição dessa hipermasculinidade hegemônica reverbera principalmente na formação de homens gays negros, que destoam completamente desses estereótipos, através de aproximações com a feminilidade. Segundo Ribeiro (2017, p. 87), para gays negros, o uso do modelo branco ocidental na abordagem de suas experiências e subjetividades fica em evidência na medida em que são descaracterizadas pela leitura feita a partir de uma heterossexualidade homogênea e de uma branquidade monolítica, causando distorções e interpretações parciais. Logo, entende-se que essa masculinidade enlatada e estereotipada não dialoga de forma alguma com as peculiaridades e multiplicidades de performances dos gays negros – sobretudo daqueles que rompem com a heteronormatividade.

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Fotos: João Lima para a AfroBapho

Na comunidade gay, o homem negro que não corresponde ao imaginário sexual de viril-ativo-pauzudo, geralmente é colocado no campo da abjetificação. Nesse sentindo, o corpo negro que é tratado como um objeto, passa à condição de abjeto, por não constituir-se de valores esperados. Isso acontece constantemente com as bixas pretas, que ao legitimarem suas re-existências através de uma performance não normativa, são invisibilizadas e preteridas nas relações afetivo-sociais.

Nos últimos anos, as discussões nas redes sociais têm possibilitado a construção e a globalização de saberes, que muitas vezes são silenciados em detrimento de uma voz hegemônica. Bixas pretas estão se organizando, criando espaços de resistência e discutindo sobre questões que engendram suas vivências numa sociedade racista e homofóbica. Por isso a interseccionalidade é de extrema importância nesses debates, principalmente para que seja possível conviver em todos os lugares.

Sejam bem-viados à coluna Afrochegue-se!

Alan Costa, 27 anos, bixa preta de Santo Antonio de Jesus, formado em Letras Vernáculas pela UNEB, idealizador do Coletivo AfroBapho.

Alan Costa, 27 anos, bixa preta de Santo Antonio de Jesus, formado em Letras Vernáculas pela UNEB, idealizador do Coletivo AfroBapho.

conteúdo desta coluna é de responsabilidade da autora.

 

 

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