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“Queremos celebrar nossos corpos dissidentes, ainda que no caos de que vivemos“, afirma idealizador do Afrobapho que se prepara para conferência na Jamaica

10/01/2018 | às 22h54

De collant multicolorido, make com emblemas africanos coberto de glitter e vídeos que estampam afirmação os integrantes do Coletivo Afrobapho apresentam um reino em que bichas pretas existem. Com proposta de dialogar sobre raça, gênero e sexualidades, o idealizador Alan Costa, não tinha previsto que poderia conversar com a diáspora em alcance global até receber o convite  da Universidade das Índias Ocidentais, na Jamaica.

Formado em Letras Vernáculas, Alan Costa atua visibilizando vozes marginalizadas ao interseccionar raça, gêneros e sexualidades | Foto: divulgação/Afrobapho

Alan Costa irá representar o Brasil no “Beyond The Homophobia: Navigating the State”, conferência LGBT, que acontecerá entre os dias 24 à 26 deste mês, em Kingston. No entanto, a participação no evento não custeava as passagens aéreas, que custam aproximadamente R$ 5 mil reais. Em conversa com o Portal, Alan contou como foi encorajado e a importância do evento para a comunidade LGBTQ.  

“Eu fui encorajado por amigos e componentes do grupo a tentar fazer com que isso tornar-se palpável”, afirma Alan. De acordo ao idealizador, cerca de 40% da meta foi alcançada por pessoas próximas que passam apertos financeiros. A cantora Linn da Quebrada e Jup do Bairro, além do blogueiro Spartakus usaram suas plataformas para divulgar a Vakinha que se encerra no próximo dia 23. 

Foto: Victor Mota

“O coletivo Afrobapho é idealizado como instrumento de diálogo sobre raça, gênero e sexualidades de maneira interseccional por meio da arte”, define o idealizador. Há 3 anos em atividade, o coletivo conseguiu repercussão nacional e foi inserido no circuito de artivismos que inspira pessoas de todo Brasil. “Achei que não passaríamos de um grupo local”, revela. Com as redes sociais, o coletivo conseguiu chegar em outros países.

Conferência

A conferência reunirá militantes da comunidade LGBTQ+ para se posicionar em relação aos governos caribenhos que ainda mantém leis duras para dissidentes sexuais. Com a recente descriminalização da homossexualidade em Trindad e Tobago e o apoio do primeiro ministro Britânico pela revogação das leis de sodomia dos países que compõem a Comunidade Britânica de Nações.

Para finalizar o ano, os membros do coletivo Afrobapho fizeram um vídeo em homenagem ao grupo Rainbow Riot, organização que luta pelos direitos LGBTQ em Uganda, em que a homossexualidade é ilegal. “Criamos uma conexão diaspórica, por sermos corpos dissidentes que lidamos com situações diárias de opressão e ainda continuamos em atividade”, analisa.

Recentemente, o presidente eleito Jair Bolsonaro assinou a medida provisória 870/19 das diretrizes do Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos, em que a citação a comunidade LGBTQ foi retirada. “Sabemos que os próximos anos tendem a ser duros, já começamos o ano com a retirada de direitos”, afirma Alan.

“Vivemos em um país que mais mata LGBTs no mundo, país em que impera o genocídio da juventude negra. Com o Coletivo Afrobapho queremos falar  de nossos corpos em existência, não só como resistência”, aponta. “Naturalizar esses corpos na sociedade, para que não sejamos objetificados e restrito aos guetos, por isso estamos na disputa de narrativas urbanas”, endossa o idealizador.

Paris is Burning em Salvador

“Recebemos muitas mensagens em que nossos seguidores estavam com saudades das festas que realizamos”, conta Alan. Com o apoio do Casarão da Diversidade, Pelourinho, “Afrobapho – A Festa”, acontecerá às 22h do próximo sábado (12). “Será um baile a lá Paris is Burnning, será de resistência e de apoio”, afirma Alan.

Paris is Burning” é o título do premiado filme-documentário que retrata a cultura, histórica e estética de LGBTs negros estadunidenses da década de 80 e é tomado por conceito para a festa que busca completar a meta para a viagem.“Um dos nossos objetivos é celebrar os nossos corpos dissidentes, ainda que no caos de que vivemos”, reforça.

Com ingressos a R$ 5, 10, 15 e 20 reais, a entrada, a estratégia é possibilitar que o público sinta-se à vontade em contribuir. “Muitas pessoas acham que R$ 5 reais não é colaboração, mas para nós já é de grande ajuda. É gratificante saber que quem nos apoia, são pessoas que se sentem próximos e representados por nós”, conta.  

A programação conta com colaboração diversas, entre elas o Thiago Almasy que interpreta o Junior, do canal Na Redéa Curta e um pocket show de Diih Cerqueira, rapper que lançou recentemente seu primeiro single “Lendária”. A expectativa é de alcançar a meta, mas de que as pessoas curtam”, diz Alan.

Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Correio Nagô.

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

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