Por Pedro Caribé
Desde cinco horas da manhã de sexta-feira, dia 20 de fevereiro, quilombolas da Ilha de Maré ocupam entrada do Porto de Aratu na Bahia. A ação foi influenciada pela negligência das autoridades após explosão de navio cargueiro Golden Muller com gases tóxicos em dezembro de 2013. Responsável pelo porto e seus impactos, os dirigentes da Companhia de Docas do Estado da Bahia (Codeba) só procuraram diretamente a comunidade após a ocupação que paralisa mais de trezentas carretas num dos maiores terminais do país.
Os quase 10 mil moradores da Ilha de Maré apontam que os vazamentos são constantes nas águas, e são acompanhados por poluição do ar, sonora e principalmente indiferença pelas autoridades: “O racismo é o que mais nos incomoda, é como se não existissem pessoas na comunidade”, destaca a líder Eliete Paraguaçu. Ela também contesta os estudos divulgados pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) e reproduzidos pela imprensa tradicional: “Para a explosão não se alastrar, jogaram mais produtos químicos na água, e esparramou junto com o óleo pela coroa e manguezal gerando mortandade de mariscos e peixes”.
Quanto ao ar atmosférico, desde 2010 foram realizados estudos que comprovam a contaminação da população por metais pesados que já levou pessoas à morte, aumento no número de pessoas com asma, infecções respiratórias e câncer. Segundo Eliete, os técnicos identificaram poluição dez vezes superior a Cubatão em São Paulo, mas nada foi feito.
A explosão em dezembro deixou os moradores assustados, as casas balançaram, algumas racharam, e foi seguida por três dias e três noites de fumaça. Sem rota de fuga, as comunidades de Botelho e Bananeira passaram a sensação de estar cercada apenas por uma fumaça preta. O impacto é visual, na saúde e também no psicológico dos quilombolas. A Codeba só enviou assessor de comunicação para as reuniões convocadas, e a diretoria se recusou a tratar diretamente com os moradores.
Membros da Comissão Pastoral a Terra (CPT) estão acompanhado o caso e pontam que já tem estudos preliminares comprovando altos índices de contaminação na região. A pauta que vai desde solicitação de serviços de saúde adequado, até paralisação e adequação de algumas empresas poluentes. O porto é responsável por operações do Pólo Petroquímico de Camaçari, o Centro Industrial de Aratu (CIA), o Complexo da Ford e a Refinaria Landulfo Alves.
Já a presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), Vilma Reis, se mostra preocupada porque a área é estratégica para operações comerciais e pode acontecer uma ação desproporcional das forças policiais com os manifestantes. Ela entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do estado para evitar a violência.
Vale recordar que os traumas da relação entre quilombolas e forças policiais na região estão latentes devido a ação do exército com a comunidade do Rio dos Macacos, vizinha da Ilha de Maré.
Fonte: Fanzine Virtual, blog do jornalista Pedro Caribé
Confira abaixo o vídeo que o CORREIO NAGÔ gravou, há dois meses, com a comunidade sobre o desastre natural