Home » Revista » Racismo no Brasil e afetos correlatos

Racismo no Brasil e afetos correlatos

Racismo no Brasil e afetos correlatos

Por Cidinha da Silva

Na novela Lado a lado três personagens femininas são centrais para pensar o tema do racismo. Laura (Marjorie Estiano), mocinha branca, filha da vilã, professora idealista e mulher divorciada, melhor amiga da mocinha negra. Constância (Patrícia Pillar), baronesa cruel, saudosa dos tempos escravistas e Isabel (Camila Pitanga), mocinha negra, arrojada, bela, libertária e pertencente a uma comunidade negra. Três excelentes atrizes potencializadas por belos papeis. Patrícia e Camila conseguem ser magistrais e ratificam o lugar de seguidoras de grandes atrizes como Fernanda Montenegro, demonstrado nas múltiplas e surpreendentes personagens que ambas vêm interpretando com competência ao longo da carreira.

Constância é protótipo da elite escravista decadente que manteve o poderio econômico, a mentalidade de subjugo aos negros e que consegue se reinventar na política, da corte imperial a família migra para o Senado.

Laura faz oposição à mãe: é humana, honesta, respeita as outras pessoas, acredita em uma sociedade igualitária e empenha-se para construí-la nas mínimas atitudes.

Isabel é a rainha negra, a mulher que vence pelo trabalho artístico e emprega o dinheiro economizado durante seis anos no exterior para comprar uma casa, um teatro e construir uma escola para as crianças do Morro, do qual também é originária.

Isabel tem um filho, fruto de relação acidental com o filho da vilã. O recém-nascido é raptado no momento do parto e trocado por um bebê morto entregue à parturiente enfraquecida pelo clorofórmio. Tudo isso planejado por Constância e executado por suas comparsas, a saber, a empregada branca e pobre que, por sua vez, contrata um homem branco que compra o corpo de um bebê para trocar pelo nascido vivo; uma parteira, também branca, reconhecida pela “habilidade” de matar crianças indesejadas no momento do nascimento e outra mulher (branca) que ajuda a parteira ao fugir com o bebê de Isabel.

Talvez o leitor ou a leitora tenha sentido certo desconforto na reiteração da branquitude das personagens da novela Lado a lado, escrita por Cláudia Lage e João Ximenes Braga. Paciência! Mas considerem que pela primeira vez há mocinhas e vilãs negras e brancas, portanto, é necessário distingui-las.

scroll to top