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Religiosos do candomblé vão ao Ministério Público após morte de yalorixá

Atos de perseguição religiosa são recorrentes em Camaçari

Reunião no Ministério Público_arquivo pessoal Babá Roberto D´Oxossi

Arquivo pessoa Babá Roberto

A comoção causada pela morte da yalorixá Mildreles Dias Ferreira, do terreiro Oyá Denã, a mãe Dede de Yansã, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, levou cerca de 20 representantes dos terreiros de candomblé da região para uma audiência na sede do Ministério Publico do município, no último dia 10, a discutir ações para refrear a intolerância religiosa contra o povo de santo.

Considerada uma das mais antigas e respeitadas lideranças do município, a yalorixá, de 90 anos, foi vítima de um infarto na madrugada do dia 1º de junho. De acordo com reportagem do jornal O Globo, familiares relataram que o mal-estar foi resultado de ação de seguidores da Casa de Oração Ministério de Cristo, que, na véspera, teriam passado uma madrugada inteira em vigília, proferindo ofensas em direção à casa de santo. Ainda segundo o jornal, Poucas horas depois do falecimento de Mãe Dede, parentes procuraram a 18ª Delegacia Territorial de Camaçari para registrar o episódio. A polícia já havia sido procurada em ocasiões anteriores.

As lideranças foram recebidas pela promotora Thiara Bezerra e, no encontro, ficou definido a produção de um dossiê com a intenção de avaliar os danos causados pelos ataques diretos aos cultos e, consequentemente, para pôr fim às perseguições e desrespeitos às religiões de matriz africana, no local. “Os ataques a nossa fé têm atrasado as cerimônias. Eu me coloquei a disposição porque nós do Asé Olóodé Omilolá fazemos parte da estatística de ataques a nossa religião”, conta ao portal Correio Nagô o babalorixá Roberto D’ Oxossi, sacerdote do terreiro localizado na região da Via Parafuso. O líder religioso também reclama da perda de espaço do seu terreno para uma construtora em obras na região.

As ofensas proferidas por um grupo de evangélicos que vitimou Mãe Dedé se somam às manifestações de intolerância que acontecem de diferentes maneiras, seja por meio de invasões, ameaças e construções de empreendimentos em terras sagradas para o povo de santo. Como, aconteceu com o babalorixá Livramento Junior, que em 2010 teve a sua casa, o Ilê Axé Iji Omin Toloyá, invadida por um fanático de outra religião que destruiu artefatos religiosos, conforme relatou ao portal Correio Nagô.

Outros Casos

Desde a criação do Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, vinculado à Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, no fim de 2013, foram registrados 38 casos de intolerância religiosa, 11 deles apenas em 2015.

Em Salvador, a Pedra de Xangô, monumento sagrado para o candomblé, localizada no bairro de Cajazeiras, sofreu depredações, pichações e oferendas, que estavam depositadas no local, foram destruídas, no ano passado. Para evitar novos casos, representantes de diferentes terreiros foram ao local pedir proteção com cânticos, orações e rituais. E para além da proteção sagrada, pediram aos órgãos responsáveis, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultura (IPAC) e Fundação Gregório de Matos, o tombamento da Pedra de Xangô.

Mãe Gilda – Um dos casos mais graves, que também culminou em fatalidade, ocorreu no ano 2000. Quando a yalorixá, Mãe Gilda, fundadora do Ilê Axé Abassá de Ogum, em Itapuã, na capital baiana, veio a falecer vitima de um enfarto. Com a saúde fragilizada, a morte foi decorrente de agressões morais divulgadas no jornal Folha Universal, que utilizou a imagem da yalorixá ao lado dos dizeres: ‘Macumbeiros chalatões lesam o bolso e a vida de clientes’.

Além do legado religioso, a filha de Mãe Gilda, a também yalorixá Mãe Jaciara dos Santos, empenhou-se na justiça frente às agressões e moveu uma ação contra a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), responsável pelo jornal. Como reconhecimento, foi instituiu, em 2007, o dia 21 de janeiro, dia da morte de mãe Gilda, como o Dia de luta contra a intolerância religiosa.

Da Redação do Correio Nagô

 

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