07/08/2018 | às 20h18
Dirigido pelo cineasta baiano Antonio Olavo, o documentário 1798 REVOLTA DOS BÚZIOS conta a história de um dos mais importantes acontecimentos da história do Brasil. O longa metragem, produzido pela PORTFOLIUM Laboratório de Imagens, estreia nesta segunda (13). O lançamento será às 20h, na Sala Walter da Silveira (Biblioteca Central do Estado da Bahia – Barris), com entrada franca (limitada a lotação da sala).
O filme registra um movimento conspiratório ocorrido na Bahia em 1798, protagonizado por dezenas de homens negros que planejaram um Levante com o objetivo de derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma República democrática, livre da escravidão. Esse episódio cruzou a linha do tempo e recebeu diversas denominações, entre elas Revolta dos Búzios, Revolução dos Alfaiates e Conjuração Baiana.
Este ano de 2018, celebra-se os 220 anos da eclosão do movimento, que foi deflagrado no amanhecer de um domingo, 12 de agosto de 1798, quando surgiram afixados em pontos de grande movimentação da cidade, papéis manuscritos que em nome do “Poderoso e Magnífico Povo Bahiense Republicano”, chamavam o povo para fazer uma revolução, onde haveria igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos, salários dignos para os soldados e comércio livre entre as nações.
O documentário foi selecionado no Edital de Fomento à Produção Audiovisual Baiana 2014 promovido pelo Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia – IRDEB, através da Chamada Pública 01/2014 do Programa Brasil de Todas as Telas da Agência Nacional do Cinema – ANCINE.
Este é o quinto longa-metragem dirigido por Antonio Olavo, também autor de Paixão e Guerra no Sertão de Canudos (1993), Quilombos da Bahia (2004), Abdias Nascimento Memória Negra(2008) e A Cor do Trabalho (2014). É dele também o roteiro, extraído dos “Autos da Devassa”, fonte primária de grande valor, com mais de duas mil páginas que detalham minuciosamente o processo de 1798.
A Revolta dos Búzios é um movimento de importância fundamental para a história política do país, visto que já em 1798, em pleno regime colonial, os conspiradores baianos levantaram as bandeiras da Independência, que só viria em 1822; do fim da escravidão, conquistada somente em 1888; e da República, proclamada tardiamente em 1889. O movimento foi denunciado e o governo instalou uma Devassa que durante 15 meses convulsionou a cena política regional, atingindo centenas de pessoas com ameaças, interrogatórios, detenções, condenações de açoites públicos, prisões, degredo perpétuo, e até a pena de morte, sentença máxima que se abateu sobre quatro homens negros: os soldados Luiz Gonzaga e Lucas Dantas, e os alfaiates João de Deus e Manoel Faustino, enforcados e esquartejados em 8 de novembro de 1799 na Praça da Piedade, em Salvador.
Para Olavo“ no Brasil atual, onde a população afrodescendente é majoritária, não é mais possível continuar desconhecendo movimentos sociais protagonizados pelo povo negro, que teve grande importância na formação histórica e política do país. É neste sentido que a realização deste filme contribui para preencher uma lacuna na história da Bahia e do Brasil, que necessitam de iniciativas como esta, fundamentais para a afirmação e consolidação da autoestima e identidade étnica de seu povo. Queremos com isto, contribuir com o resgate da memória de um episódio que marcou profundamente a vida do povo baiano durante décadas, posto que essa grandiosa conspiração republicana, mobilizadora de tantas emoções e sentimentos, regionais e nacionais, ainda hoje, passados 220 anos de sua eclosão, permanece ignorada pela historiografia tradicional”.
Da Redação do Correio Nagô.