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Rumo ao topo da pirâmide   

*A.C. Ferreira

A desigualdade racialnão é uma novidade, assim como o fato de que ela é mais acentuada nas camadas mais elevadas de riqueza e de ocupação de cargos. Iniciativas que visam quebrar este padrão são sempre bem-vindas porque promovem um equilíbrio.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somamos 54% da população brasileira, representamos mais de 45% da população economicamente ativa (PEA), mas somos apenas 17% dentre os mais ricos do país. Nos altos escalões do governo a nossa presença é ínfima: não há ministros negros no STF desde a saída de Joaquim Barbosa; dentre os deputados federais há 80% de brancos e chega a 75% por cento o número de senadores brancos.

No ambiente corporativo a pirâmide de cargos é igualmente desfavorável às pessoas negras. Somos cerca de 31% nos postos da base da hierarquia, cerca de 26% nos cargos de supervisão, número que se reduz a 13,25% nos cargos gerenciais e pouco mais de 5% nos cargos de alta direção. Há quem diga que estes números são mera consequência da realidade socioeconômica e da dificuldade de acesso à educação de qualidade. O argumento se revela frágil se lembrarmos que as políticas de inclusão aumentaram o ingresso de negros e negras nas universidades, em 40%, de 2001 a 2013.

A dificuldade de acesso a postos de liderança no mercado tradicional tem levado negros e negras a buscarem o empreendedorismo como alternativa. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) confirmam o aumento na quantidade de pessoas pretas e pardas que abriram empresas próprias a ponto de, pela primeira vez terem superado o número de empreendedores brancos.

Mas, se “o lugar da gente é onde a gente quiser”, não temos porque abdicar do desejo de estar na direção de grandes corporações como executivos. E se este for um objetivo, contamos agora com mais uma ferramenta de apoio. Lançada em junho de 2017, a Protagonizo se define como “uma startup social que age como um agente entre empresas e corporações que buscam talentos afrodescendentes, que buscam se desafiar, crescer e se reinventar. “ A empresa firmou convênio com 56 multinacionais e já dispõe de um cadastro de 2 mil currículos de afrodescendentes, com formação de nível superior e domínio de inglês.

Rachel Maia é CEO da Pandora no Brasil. Foto: https://www.napratica.org.br/mulher-negra-e-brasileira-conheca-rachel-maia-ceo-da-pandora-no-brasil/

As empresas clientes disponibilizam as vagas e a Protagonizo encaminha os currículos com perfis mais adequados a cada posto. Segundo Tatiana Rocha, Secretária Executiva da Diretoria de Relacionamento da Protagonizo, a empresa tem feito acompanhamento de efetividade, e a satisfação de clientes e candidatos tem sido manifestada em redes sociais e mensagens de agradecimento. A Protagonizo tem sede física em São Paulo e atende empresas clientes e candidatos pelo Portal www.protagonizo.com. O portal anuncia um Programa de Mentoria, para auxiliar no desenvolvimento de pessoas talentosas, cujos trabalhos serão iniciados a partir de novembro, segundo também nos informou Tatiana por e-mail.    

A startup tem como fundadores Anderson Carvalho e Alexandra Loras Baldeh, ex-consulesa da França no Brasil que, em recente entrevista à revista da Gol manifestou qual o seu desejo de mudança: “uma distribuição democrática e justa com a população brasileira, com 54% de pessoas negras e 52% de mulheres ocupando cargos no Congresso, no Senado, na mídia e nos bancos executivos das empresas.”

Sem prejuízo de outras ações e reinvindicações, esta é uma janela de oportunidades, que pode ser aproveitada e ampliada com o aumento na base de currículos. Se o que algumas empresas alegam é dificuldade de encontrar afrodescendentes com a formação requerida, já existe um banco com mais de 2 mil potenciais candidatos. E com certeza podemos ser muitos mais.

…mas minha alma resiste, o meu corpo é de luta, eu sei o que é bom e o que é bom também deve ser meu” – Música “14 de maio” de autoria de Jorge Portugal e Lazzo Matumbi

1 acepção sociológica do termo utilizada inclusive por Loras na entrevista à Veja.

Referências:

Com metade da população, negros são só 18% em cargos de destaque no Brasil:

http://temas.folha.uol.com.br/desigualdade-no-brasil/negros/com-metade-da-populacao-negros-sao-so-18-em-cargos-de-destaque-no-brasil.shtml

Negros ainda são minoria absoluta em cargos de chefia no Brasil:

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/08/1483374-negros-ainda-sao-minoria-absoluta-em-cargos-de-chefia-no-brasil.shtml

Exclusão racial no topo:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/tf_carreira/2017/03/19/tf_carreira_interna,581923/exclusao-racial-no-topo.shtml

Revista Veja – 07/10/2016 – Entrevista Alexandra Loras:

http://veja.abril.com.br/complemento/entrevista/alexandra-loras.html

Revista Gol – Nº 185 – Agosto/2017 –  Orgulho e Preconceito (pág. 19):

https://www.voegol.com.br/pt/servicos-site/Magazine/revista_GOL_185.pdf

O conteúdo desta coluna é de responsabilidade dX autorX.

Administrador, Especialista em Política e Estratégia, Mestre em Relações Internacionais, explorador e observador do planeta.

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