Salvador se tornou, mais uma vez, um centro pulsante de articulação do pensamento negro global. Na última sexta-feira (05), estudantes, pesquisadores e instituições reuniram-se na histórica Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Terreiro de Jesus, para o lançamento dos Clubes Universitários Pan-Africanos e do Portal TCU — um marco para a circulação internacional do conhecimento e para o fortalecimento da educação antirracista.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre a True Culture University (TCU), instituição internacional dedicada à formação de jovens lideranças negras, e o Instituto Cultural Steve Biko (ICSB), referência nacional na promoção da igualdade racial na educação. O encontro, realizado das 14h às 17h, marcou a chegada oficial do ecossistema TCU ao Nordeste e inaugurou os primeiros núcleos dos Clubes Pan-Africanos na UFBA e na UNILAB.

Permanência estudantil, formação política e pan-africanismo no centro do debate

O evento foi um espaço potente e necessário de diálogo sobre permanência estudantil, formação política de jovens negros e circulação do pensamento panafricanista no Brasil e no mundo. A tarde reuniu nomes fundamentais para o campo dos estudos africanos e das relações raciais.

Entre os convidados estavam Dr. Pedro Leyva, professor da UNILAB e referência em pesquisas sobre relações raciais; Dra. Andréia Lisboa, responsável pelas Relações Internacionais do Instituto Steve Biko e articuladora de redes educacionais no Brasil e fora dele; e Miles Henderson, Diretor Executivo da TCU, liderança envolvida na expansão global do ecossistema pan-africano.

As presenças reforçaram a construção de pontes entre universidades brasileiras e instituições da diáspora africana, alinhando agendas comuns de produção acadêmica, cooperação internacional e formação de juventudes negras.

Clubes Universitários Pan-Africanos: novos espaços de organização e liderança

Os Clubes Universitários Pan-Africanos chegam à Bahia como parte de um ecossistema global que envolve estudantes negros de diversos países. Os núcleos propõem:

• promover o pan-africanismo nos campi universitários;
• conectar saberes ancestrais a perspectivas contemporâneas;
• impulsionar a formação de lideranças negras em escala internacional;
• criar redes de pesquisa, estudo e colaboração entre jovens da diáspora.

A ativação dos Clubes na UFBA e na UNILAB estrutura espaços permanentes de formação e articulação, com atividades que incluem grupos de estudo, rodas de conversa, produção editorial, encontros acadêmicos e ações comunitárias.

Portal TCU: circulação global do conhecimento negro

Durante o evento, também foi apresentado o Portal TCU, plataforma que reúne iniciativas, pesquisas, conteúdos e projetos vinculados à True Culture University e seus parceiros. O objetivo é fortalecer o intercâmbio internacional, facilitar o acesso a produções acadêmicas negras e difundir perspectivas pan-africanas em diferentes países.

O portal consolida o papel da TCU como articuladora de comunidades acadêmicas negras, ampliando fronteiras para estudantes, docentes e instituições comprometidas com a educação transformadora e com a construção de uma narrativa global da diáspora.

Parcerias que ampliam horizontes

No Brasil, a TCU já desenvolve ações em parceria com o ICSB, UFBA, UNILAB, UNEB, o Latitudes Africanas: Núcleo Ancestral de Arte, Cultura e Tecnologia (Proex/UNILAB), e a Liga Acadêmica de Estudos da Saúde da População Negra (Lanegra). As colaborações reforçam o compromisso de fortalecer pontes entre universidades e comunidades da diáspora africana.

O evento também contou com o apoio de organizações internacionais como a C.A.S.T.N.E.T. International Chamber of Commerce e a Chanay Publishing, ampliando o alcance do projeto e inserindo a Bahia em um circuito global de formação e cooperação negra.

Um marco para o futuro da educação negra

O lançamento dos Clubes Universitários Pan-Africanos e do Portal TCU reafirma Salvador como território estratégico para a produção intelectual e política da juventude negra. Em um momento em que o debate sobre permanência estudantil, equidade e internacionalização da educação se intensifica, a iniciativa se apresenta como ferramenta essencial para construir novas narrativas, fortalecer identidades e ampliar oportunidades.

Mais do que um evento, o encontro representou a abertura de caminhos para que estudantes negros e negras da Bahia ocupem o mundo — conectados, organizados e guiados por uma perspectiva pan-africana que reconhece a ancestralidade como força para projetar o futuro.