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Santa princesa Isabel? – Correio Nagô

Historiadores e movimento negro questionam projeto para beatificar a responsável por assinar a Lei Áurea, que acabou com a escravidão no País

João Loes

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FIEL
Além de ter assinado a Lei Áurea, a princesa Isabel, segundo
entusiastas e críticos da sua beatificação, era muito religiosa

Na mesa do cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, d. Orani João Tempesta, repousa uma indigesta questão que ele está sendo pressionado a resolver. Desde que o pedido de abertura do processo de beatificação da princesa Isabel foi oficialmente apresentado ao religioso, autoridade máxima da Igreja do Rio de Janeiro e única figura com investidura legal para dar início à causa, o cardeal se encontra em delicada situação, acuado entre grupos de católicos. De um lado estão os que defendem com fervor a santificação da princesa, filha de d. Pedro II e signatária da Lei Áurea, liderados pelo escritor e professor curitibano Hermes Rodrigues Nery, um estudioso da família real brasileira. De outro, estão historiadores e parte do movimento negro, que questionam o papel de protagonista de d. Isabel na abolição dos escravos e não querem vê-la num altar de jeito nenhum. Diante de uma causa de beatificação envolta em polêmica, d. Orani retarda uma resposta sobre o início – ou não – do processo. Alheio às questões políticas, Nery, postulador que pesquisou durante meses documentos em lugares como os arquivos do Museu Imperial de Petrópolis e bibliotecas do Brasil, para levantar detalhes da vida da princesa e preparar sua biografia, pede uma definição. Segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ, a causa pela beatificação da princesa até tem força para caminhar, mas uma avalanche de complicadores certamente surgirão durante o processo. Afinal, d. Isabel está longe de ser uma unanimidade.

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FAMÍLIA
Exilada na França desde 1889, ao lado do marido, o conde D’Eu

Há uma representativa corrente de historiadores, por exemplo, que relativizam a atuação da princesa na abolição, tida como um dos principais argumentos de quem defende sua beatificação. “Canonizar d. Isabel a partir do episódio da assinatura da lei de 13 de maio é uma tentativa de reiterar uma memória que silencia sobre o

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