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Seminário de abertura do Julho da Pretas aborda comunicação, mídia e representatividade da mulher negra

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As convidadas da noite foram Djamila Ribeiro e Rosane Borges mediadas por Valdecir Nascimento, do Odara

Na noite de ontem (07), o Auditório da Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador, foi palco de abertura para a 4ª edição do Julho das Pretas, uma iniciativa do Odara – Instituto Mulher Negra articulada com organizações de mulheres negras da Bahia. A agenda deste ano visa discutir novas narrativas de representação negra na produção da comunicação e iniciou os trabalhos com o tema: “Mulheres Negras em Foco: Mídia e Comunicação” com as especialistas Rosane Borges, que é jornalista, professora e doutora em Ciências da Comunicação e Djamila Ribeiro, secretária municipal de Direitos Humanos de São Paulo, colunista da revista Carta Capital e do blog Boitempo, mediadas pela Coordenadora Executiva do Odara, Valdecir Nascimento. A programação do Seminário se estende até o final desta sexta-feira, 08/07, com mesas reunindo comunicadoras de diversas partes do país.

“A gente tem parido, ao longo da nossa existência, estratégias de representação nos espaços políticos. E esses cabelos, todos ‘pixaim’, vermelho, azul e das cores que eles são que estou vendo é fruto da contra informação do que é cabelo ruim”, disse Valdecir Nascimento, apontando para o plenário lotado de mulheres negras e crespas do Auditório. A militante foi questionada sobre o enfrentamento ao racismo através da estética, um dos artifícios na busca por representatividade negra.

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A ocasião também evidenciou a internet como um dos instrumentos de organização política e construção de narrativas que dialogam com as questões que envolvem a população negra. “As redes sociais é um espaço importante para disputar estas narrativas. A gente tem que enxergar as redes sociais como um espaço a mais para resistir”, analisou Djamila, ao apontar a necessidade de ocupar essas ferramentas com a pauta negra. “A gente traz com o nosso olhar, as nossas experiências e produções um novo fazer político. E utilizamos Angela Davis, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Valdecir, Dandara, a Irmandade da Boa Morte para subverter o discurso europeu”, enumerou a secretária.

Compartilhando do mesmo princípio, Rosane Borges acredita que a estrutura social atual se alimenta da construção desse imaginário cultural que dita as posições sociais antecipadamente. “Nós já nascemos com partido. A família toma partido, a escola toma partido, as pessoas tomam partido. E isso determina o modo em que a gente deve se vê e se reconhece”, explicou, discordando em parte do famoso conceito do filósofo francês, Michel Foucault, “Todos nós nascemos alienados do nosso discurso”. “É preciso que a gente construa uma nova lógica de representação. Deslocando sentidos de nós mesmo, quebrando os sentidos dos estereótipos”, orientou Rosane.

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Sobre a luta política travada por meio da estética, Rosane Borges, alertou: “Temos que ser, além de visuais, visíveis, pois aí impactamos e, de fato, existimos. A partir da visualidade eu me torno um signo de poder. Se o visual não se constituir em um regime de poder será apenas um desfile egoíco”.

Pelos questionamentos e observações das mulheres da plateia do Julho das Pretas tem-se a certeza de que aqueles cabelos, turbantes e estilos afirmativos já se constituíram, sim, signos de poder. São visíveis.

Texto e fotos de Fabiana da Guia, especial para o Correio Nagô

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