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Série inédita retrata origens genéticas e culturais dos afro-brasileiros

Entre os séculos XVI e XIX, mais de 4,8 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil.  De acordo com dados do Slave Voyages, foram 29 mil travessias transatlânticas de navios negreiros. Apesar da existência de estudos sobre o assunto, as origens genéticas do povo brasileiro ainda é pouco conhecida.

Com o intuito de abordar este assunto, o Cine Group mapeou genes de 150 afrodescendentes brasileiros.  A pesquisa resultou na série inédita Brasil: DNA África que começa a ser exibida  a partir desta sexta-feira (11), às 20h10 (horário de Brasília), no canal BBC Earth.

“Foi uma surpresa para mim saber que não era de origem angolana nem iorubana. O teste revelou que eu era de origem Tikar, que eu não conhecia. A partir daí, foi um outro trabalho de pesquisa no qual eu pude saber a importância que esse povo tinha, as contribuições no continente africano e a localização”, narra o  arquiteto baiano e atual diretor da Fundação Pedro Calmon Zulu Araújo, que viajou para a República dos Camarões, com o objetivo de conhecer o povo de origem dos antepassados.

“Desta experiência é possível pontuar algumas descobertas. Primeiro, o reencontro com minhas origens. Segundo, a descoberta que o tráfico negreiro foi muito mais amplo do que aquilo que a gente pode imaginar. Somente do Porto de Tikar saíram mais 2500 navios para as Américas. Uma outra questão a se observar é a dificuldade que boa parte da elite africana ainda possui no trato da questão do tráfico negreiro e da escravidão. Isto porque uma parte dessa elite foi conivente e participou deste processo”, revela o militante do movimento negro, que traz mais detalhes da viagem no primeiro episódio da série.

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Zulu Araújo, um dos 150 convidados para investigar suas origens. (Foto: BBC)

 

Esse mapeamento deveria ser um programa dentro uma política pública de ações afirmativas. Isto é absolutamente possível, Zulu Araújo.

Todos os selecionados para participar da pesquisa são de estados que mais receberam escravos: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro. Dos 15o, 30 são baianos entre eles: o presidente do bloco afro Olodum João Jorge Rodrigues, o coreógrafo José Carlos Santos (Zebrinha), o mestre de capoeira e cantor Tonho Matéria, o compositor José Carlos Capinam e o presidente do Ilê Aiyê Antônio Carlos Vovô.

Eunice jorge, mais conhecida como Dona Nicinha, integrante do grupo Ganhadeiras de Itapuã, também participou. “Quem é que não gostaria de saber suas origens. Minha mãe sempre dizia que nós descendemos de índios e de negros que foram escravizados no Brasil. O resultado deu índia sul-americana”, conta, emocionada.

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Print da Série Brasil: DNA África.

 

Outros baianos que integram a pesquisa são: Jucilene Vieira, Rejane Maia, Altair Lira, Ivete Sacramento, Claúdia Assis, Mille Fernandes, Alaíde do Feijão, Aldo Rosário, Anamaria Conceição  (Ganhadeira de Itapuã), Claudio Souza, Carlos Marighella, Enzo Quirino, Jorge Vieira, Margareth Menezes, Verônica Santos, Jorge Washington, Mário Pamm e Dody.

O segundo episódio mostra a viagem até a Nigéria da consultora de moda Juliana Luna, do Rio de Janeiro, que descende do povo Iorubá. O jornalista e poeta maranhense Raimundo Garrone, que descende do povo Balanta, viaja para Guiné-Bissau no terceiro episódio. O mestre de maracatu Levi da Silva Lima, de Pernambuco, descobre que descende dos Makua e visita Moçambique no quarto programa. No último episódio, o músico Sérgio Pererê, de Minas Gerais, conhece Angola após descobrir que os seus ancestrais são do povo Mbundu.

A série traz dados ainda sobre a origem dos artistas Zezé Motta, Antônio Pitanga, Luiz Melodia, Martinho da Vila, Ana de Holanda, Selminha Sorriso e José Carlos Capinam, da deputada Benedita da Silva e dos jornalistas Ancelmo Góis, Flávia Oliveira e Luciana Barreto.

O trabalho tem direção geral e roteiro de Carlos Alberto Jr, criação e concepção de Mônica Monteiro e produção executiva de Mônica Monteiro e Luciana Pires.

 

Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô

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