Para celebrar os 80 anos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira Rio), órgão consultivo do Sindicato, nos brinda com uma exposição sobre a vida e a obra da intelectual e ativista negra Lélia Gonzalez. Parte do Projeto Memória, realização da Fundação Banco do Brasil, BrasilCap e Redeh, a exposição itinerante “Lélia Gonzalez – o feminismo negro no Palco da História” tem a curadoria de Antonia Ceva e será lançada no dia 06/05, às 18h, no auditório João Saldanha (Rua Evaristo da Veiga 16, 17º andar). O evento terá ainda coquetel e debate com a professora Rosália de Oliveira Lemos, coordenadora estadual da Marcha das Mulheres Negras 2015, e a socióloga Elizabeth Viana, que estuda a obra de Lélia, com a mediação da jornalista Sandra Martins, da Cojira.
Professora acadêmica, historiadora e geógrafa, Lélia Gonzalez (1935-1994) denunciou o racismo e o sexismo como mecanismos que subalternizam mulheres negras. Ela é considerada uma das precursoras do movimento de mulheres negras no Brasil. Para Sandra Martins, membro da Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do Rio (Cojira Rio), a exposição mostra a paulatina transformação de uma jovem mulher em uma mulher negra. “Este despertar para uma nova concepção de vida é, no meu entendimento, um processo político ao mesmo tempo doloroso e fundamental. É a luta contra a tentativa de invisibilidade de nossa humanidade. Lélia Gonzalez colocou-se como sujeito da ação com direito a voz própria. À nossa voz própria. A conscientização é fundamental, vital, para nós negras e negros assim como para todas(os) as(os) brasileiras(os), para que possamos efetivamente termos uma nação que de fato e de direito nos respeite e valorize”, afirma.
“‘Enquanto a questão negra não for assumida pela sociedade brasileira como um todo: negros, brancos e nós todos juntos refletirmos, avaliarmos, desenvolvermos uma práxis de conscientização da questão da discriminação racial nesse país, vai ser muito difícil no Brasil, chegar ao ponto de efetivamente ser uma democracia racial’. Essa reflexão foi feita há 30 anos por Lélia Gonzalez, no ano de 1985 e percebe-se é que pouca coisa mudou em nossa sociedade. A Marcha das Mulheres Negras 2015 contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver – 2015 pretende desnudar o racismo, o sexismo e outras formas de opressão vividas pelas mulheres negras e apontar para que a Nação Brasileira garanta o Bem Viver para todas nós!’, afirma Rosália de Oliveira Lemos, professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro, Doutoranda em Política Social/UFF, ativista do Feminismo Negro, fundadora da E´LÉÉKÒ.
“Lelia Gonzalez foi uma das intelectuais e militantes que questionava as relações raciais brasileiras. Desta forma indagava: ‘o que foi que ocorreu para quê o mito da democracia racial tenha tido tanta aceitação e divulgação? Quais foram os processos que teriam determinado sua construção? O que é que ele oculta para além do que mostra? Como a mulher negra é situada no seu discurso?”, afirma Elizabeth Viana, socióloga e mestra em História comparada pela UFRJ.
“Lélia Gonzalez deixou um grande legado para as universidades e para os movimentos feministas, negros e de mulheres negras. Desde seu falecimento, em 1994, estudiosas/os, pesquisadores/as e ativistas têm empreendido um esforço para recuperar e manter a sua memória, a sua História, que é a História de muitas mulheres negras brasileiras as quais enfrentam, cotidianamente, o racismo e o sexismo na sociedade brasileira”, afirma a curadora da exposição, Antonia Ceva, que é Coordenadora de Pesquisa da Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH).