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Superação e luta das pessoas com deficiência no Brasil.

Conheça histórias de quem venceu as barreiras impostas pela condição física e quebraram esteriótipos em uma sociedade preconceituosa

A inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais em todos os âmbitos da sociedade brasileira ainda está dando os primeiros passos. Diversos movimentos sociais nacionais e internacionais têm buscado mudar essa realidade e tentam entrar em consenso para formatar políticas públicas eficientes de inclusão, para garantir o acesso à educação de qualidade, e principalmente à empregabilidade.

No mês de setembro foi comemorado o dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, mas você sabe como determinar que uma pessoa tem alguma deficiência? De acordo com a Lei Nº 13.146/15, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Assim sendo, o dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência surgiu como forma de garantir a integralização dessas pessoas na sociedade de maneira igualitária e sem preconceitos. 

Os portadores de deficiência enfrentam desafios diários que vão além da falta de assistência dos poderes públicos. O preconceito enraizado é um dos seus principais desafios, tendo em vista que na sociedade o indivíduo portador de deficiência ainda é visto como uma pessoa doente, fragilizada e incapaz. Tudo isso em uma época onde a inclusão é assunto frequente.

“Inclusão não é convidar para a festa, é na festa tirar para dançar”, explica o advogado e militante Tiago Silva, 37 anos. A vida dele mudou aos nove anos,  quando um banho de cachoeira resultou numa doença advinda da esquistossomose, doença transmitida por contato com água doce contaminada com parasitas, que são liberados a partir de caracóis infectados.

Natural de Itajibá, cidade a 370 km da capital baiana, Tiago perdeu a mobilidade das pernas e com ela passou a enfrentar os desafios impostos a um cadeirante. Por morar em uma cidade pequena, a acessibilidade a sala de aula era complicado, essa dificuldade ia desde o percurso para a unidade de ensino,  até a preparação da escola para receber alunos portadores de necessidades especiais. Mas  nada disso fez o rapaz desanimar, “no decorrer da minha educação básica, comecei a sonhar com direito, comecei a sonhar com a causa da militância dos portadores de deficiência, vendo o que eu enfrentaria na minha vida”, conta.

Dez anos atrás, Tiago se mudou para Salvador onde deu continuidade ao seu tratamento médico e iniciou o processo de preparação para cursar direito. Porém, foi recentemente que ele conseguiu entrar numa universidade e concluir seus estudos. Na capital, ele enfrentou os desafios de um local despreparado para atender as necessidades de pessoas com deficiência, como ruas sem rampas, ônibus sem elevador “muitas vezes chegava atrasado na aula por causa desses problemas, os ônibus não paravam pois pessoas ocupavam o espaço separado para o cadeirante, ou então demorava para aparecer um ônibus com elevador, já que nem toda frota tem”, fala.

Hoje Tiago viu nas batalhas a superação de um longo caminho, na última edição da prova da OAB, ele foi aprovado. O bacharel em direito representa os ideais das pessoas com deficiência física.

A inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho também é de suma importância, principalmente no que se refere aos desafios para a ocorrência da mesma. Essas dificuldades são diversas, desde o tipo de deficiência, aceitação, motivação, preconceito, qualificação e até mesmo o fato de as empresas aderirem às cotas e, consequentemente, abrirem vagas, bem como a adequação da mesma para receber esses novos funcionários.

Afinal quem disse que deficiência é ineficiência? O motorista por aplicativo Alex Silva*, 45 anos, é a prova disso. Para ele a deficiência não o impediu de trabalhar, Alex amputou a perna esquerda devido a um tumor que o deixou hospitalizado por cerca de um ano, até que por decisão própria, ele optou por ter a perna amputada e seguir a vida adiante , “ eu sentia muita dor, o tratamento não estava fazendo efeito, então pedi ao médico para tirar minha perna e assim eu poderia seguir minha vida fora das paredes de um hospital”, explica.

Sem emprego e recebendo várias negativas, ele teve a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho como motorista de aplicativo, função que exerce há três anos. Seu carro é adaptado para sua condição física e com sinalizações adesivas para informar ao passageiro, que está sendo conduzido por um portador de deficiência, “ geralmente eles ficam surpresos, elogiam minha forma de dirigir”, relata.

Porém Alex já passou por situações difíceis na condição de motorista especial, chegando a ser multado por estacionar em local próprio para deficientes e no processo de se preparar para sair do carro, recebeu uma multa por “demorar para pagar”, mesmo apresentando os documentos que comprovam suas limitações, foi ignorado e multado, “além da multa, muitas vezes tenho dificuldades para estacionar, não posso ter um lazer por exemplo, pois as vagas são longe e em pouca quantidade, além disso pessoas ditas como normais estacionam na minha vaga e não existe uma fiscalização funcional para isso, me sinto impedido do direito de ir e vir”, fala.

Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no censo demográfico de 2010, 45.606.048 de brasileiros, 23,9% da população total, têm algum tipo de deficiência – visual, auditiva, motora, mental ou intelectual. 25.800.681 (26,5%) são mulheres e 19.805.367 (21,2%) são homens. Essa parcela da população brasileira precisa ser vista pelos gestores públicos para a construção de uma sociedade inclusiva e igualitária.

As políticas públicas devem ser resultado de uma participação popular, através de um diálogo democrático entre a sociedade e o governo, para que sejam implementadas ações por parte do Estado, que realmente tenha eficácia no bem-estar social dos deficientes, buscando valorizar esse indivíduo como cidadão, respeitando suas características e particularidades.

Alice Souza
Com supervisão de Valéria Lima

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