NOTA OFICIAL DA ORGANIZAÇÃO DANDARA GUSMÃO – TETAS DO RACISMO NA ETUfba .
ONTEM · PÚBLICO
Sessenta e três anos de histórias. Mais de meio século de existência forçando uma aparência que extingue o nosso povo preto. Centenas de estudantes, entre homens e mulheres pretas já passaram por essa que chamamos ESCOLA DE TEATRO DA UFBA. Erguida sob a tutela do então primeiro diretor, Eros Martim Gonçalves. Não é de hoje que sabemos como o racismo funciona na Escola de Teatro da UFBA, como também no seus diversos mecanismos se sustentam em oprimir nosso povo para conquistar nosso silêncio. O dinheiro público é manipulado de forma com que privilegie uns e menospreze outros. Deixando a relação de poder cada vez mais latente. Nessa nota deixaremos nítidas todas as motivações em que levaram a ORGANIZAÇÃO DANDARA GUSMÃO tomar a forte atitude no ultimo dia 01 de Junho de 2019.
CONTEXTO HISTÓRICO
Muito antes de nós surgirmos na UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA os casos de racismo velado e/ou escancarado já era uma realidade. A década de 80 e 90 esse desserviço a humanidade, era regado com peças de cunho racista e segregador. Em 1981, foi criado a CIA DE TEATRO DA UFBA que logo foi dirigida por um homem branco. Como contexto da época permitia, majoritariamente pessoas brancas dominavam todo espaço, assim como os dias de hoje. A cia, sempre foi questionada através de diálogos informais e amigáveis com diretores, diretoras, porém a última palavra NUNCA FOI COLEGIADA. Depois de um tempo a mesma cia que surgiu no impeto artístico de se desenvolver se tornou um projeto de extensão da escola de teatro da UFBA. Se manteve e se mantem assim, desenvolvendo uma série de absurdos. Um deles é que depois de 35 anos até hoje esse projeto, que utiliza verba pública federal, numa instituição de interesse e investimento público. A CIA DE TEATRO DA UFBA NÃO TEM REGULAMENTO DE FUNÇÃO, FUNCIONA COMO QUER.
QUESTÕES COMO:
Qual percentual mínimo de graduandos, mestrandos, doutorandos, técnicos, convidados é permitido num projeto cênico teatral?
Qual horário deve-se terminar uma apresentação teatral, tendo em vista que estamos NUMA ESCOLA PÚBLICA e não num espaço privado? Tendo em vista que grande parte dos espetadores não moram na região do centro da cidade? Tendo em vista que a segurança do local contém um alto índice de perigo a partir das 22hs? Perceba que não está sendo nem citado a vida de funcionários(as) no local.
Prestação de contas da verba utilizada. Transparência no processo do uso do dinheiro público.
A venda de produtos em que foi feito com verba pública e cobra da mesma fonte de financiamento.
Função social, justificativa, relevância, conjuntura e tantas outras pontuações que se estendem para o grande público que NÃO PODE SER RESUMIDO APENAS PARA AMIGOS DOS AMIGOS, DOS AMIGOS DOS AMIGOS, DOS FAMILIARES.
São várias questões podres em que essa cia se debruça para que o nosso povo sempre continue sendo rechaçado com a invisibilidade. A idéia que se transformou em um PROJETO DE EXTENSÃO é relevante por si só, a aplicação de seu objetivo é que deve ser fortemente questionada. Não é de hoje que nosso povo mantém uma luta antirracista dentro da mesma escola de teatro da UFBA. A tentativa através de apresentações de peças teatrais, estudos acadêmicos, defesas de teses e afins. Veja um dos exemplos:
Vinte anos depois da ETUFBa exitir, O Grupo Palmares Iñaron – Raça e posição (1976) tinha uma proposta cênica de atuação com as as questões étnicas, sociais e culturais. Seu desenvolvimento também se deu na Escola de teatro da UFBA e ajudou a estabelecer reflexões poderosas sobre a construção de uma identidade étnica e social num contexto, pós-ditadura, marcado por perseguições e censuras constantes.
CAN – Cia Teatral Abdias Nascimento nasceu na Escola de Teatro da UFBA em 2002, por estudantes negros e negras, que passaram a discutir a constante ausência do protagonismo negro na cena baiana, assim como, a mesma ausência no conteúdo epistemológico abordando nosso povo negro e a Diáspora na grade curricular da Universidade.
NATA – Núcleo Afro-brasileiro de Teatro de Alagoinhas. Nasceu em 1998, numa cidade, porém na década dos 2000, já em Salvador, na Escola de teatro, o grupo propôs outra visão de mundo no fazer teatral, através de inspirações nos orikis, dança afro e música para mostrar a beleza e a filosofia do culto às divindades.
Esses são alguns dos exemplos de pessoas que tentaram através do diálogo cênico e militante, propor pra escola de teatro que MUDASSE A POSTURA, que trouxesse outras referencias para que pudéssemos nos enxergar. Não foram citadas outras para não tornar extensa essa nota que tem a função de fazer um rápido apanhado histórico. Daí pra lá, por falta de incentivo e representatividade na instituição, não existiram mais atuações que fortalecesse a relevância pra nosso povo preto. TENDO EM VISTA QUE A ESCOLA NUNCA ESCUTOU NOSSA DEMANDA. SEMPRE EXOTIFICOU NOSSA ANCESTRALIDADE.
2016, ORGANIZAÇÃO DANDARA GUSMÃO.
Em menos de 3 anos que a Organização Dandara Gusmão está nesse enfrentamento e compromisso contra o racismo institucionalizado na escola e as representações do racismo. A contragosto de racistas, com o apoio prático e moral de outros, a organização já colhe os frutos desses anos de luta dentro da ETUFBA. Desde nossa chegada na universidade, em menos de um semestre já estávamos nos articulando pra suprir essa demanda, uma divida que a ETUFBA tem com o país tendo em vista que está NA CIDADE MAIS PRETA FORA DO CONTINENTE AFRICANO.
Esses exemplos acima foi apenas um dos exemplos, nos dedicamos muito. Porém a escola sempre ignorou qualquer esforço nosso. A demanda sempre foi pesada e perversa. sempre se faz necessário pontuar que antes da ODG (Organização Dandara Gusmão), as demandas raciais do povo preto não tinham destaque dentro da ETUFBA, eram muito pontuais. Para Gusmão, e tantas outras estudantes pretas e pretos que passaram na escola, o esquecimento foi seu único caminho. A gente sabia disso, desde o inicio, mas erguemos os nossos punhos e começamos aos poucos com várias atividades que fossem capaz de fazer nosso povo ser representado. Mantendo esse compromisso, e já conhecendo a prática racista da instituição, nós integrantes da Organização Dandara Gusmão sempre pontuamos que a luta não seria mais diplomática, pois a mesma já foi durante anos e nunca deu em nada. Precisaríamos exigir o que é nosso de direito e sempre nos foi negado. Nos reservando APENAS AO SILÊNCIO pra evitar problemas. As montagens teatrais que envolviam um chamado público para participar de um projeto de extensão como o da CIA DE TEATRO DA UFBA, CURSO LIVRE DE TEARO DA UFBA eram feito.
QUAIS CONQUISTAS FORAM ALCANÇADAS?
Literatura negra para prova do vestibular. Antes apenas obras literárias brancas eram exigidas. Hoje em dia, nomes como o de ABDIAS DO NASCIMENTO faz parte das opções de leitura.
Inserção da disciplina: “Teatro de Diáspora Afrodescendente”, primeiro e único componente que trata de teatro preto no currículo da ETUFBA. Sendo que a disciplina não é obrigatória para todos os cursos.
O Fórum Negro de Artes Cênicas, que já teve três edições na sua terceira edição teve o seu nome modificado para Fórum Negro de Arte e Cultura. Uma semana de debates e reflexões a cerca do fazer teatral afrocentrado.
Montagem de espetáculos, com a temática negra. Pontuando e exaltando nosso povo, nossa gente. Por que não é justo que dentre as mais de 50 produções em 38 anos de história da Cia de Teatro da UFBA, não se leve essa demanda em conta. Com isso, foram encenados com atrizes e atores pretos em sua maioria, em posição de protagonismo e poder: “Mário Gusmão – O anjo negro e sua legião” (2017), direção de Tom Conceição e “Pele Negras e Máscaras Brancas” (2019), e dirigido por Onisajé. Ambos escritos por Aldri Anunciação. Todos ex-estudantes da UFBA.
Contratação de professores pretos através de concurso público para cargos efetivos.
Tudo isso usando o poder radical de se organizar, diálogar muito, cobrar, exigir, passar por humilhações e mais humilhações, enfim… Conseguimos!! Porém nós desagradávamos muito os racistas da ESCOLA DE TEATRO. Criaram situações para configurar nosso trabalho de extrema periculosidade e de pertubação da ordem pública. Ou seja o teatro que fazemos de nada serve, apenas para trazer um perigo. DECRETA-SE VELADAMENTE O RACISMO!!
NÃO RECUAMOS E ESTAMOS APRESENTANDO NA RUA ATÉ HOJE EM DIA. HÁ 2 ANOS, DESDE 14 DE MARÇO DE 2017. Esperando que a UFBA possa deliberar sobre a informação de que nosso trabalho traz perigo.
SOBRE APRESENTAÇÕES DE ESPETÁCULOS:
Desde o início, após alguns relatos de participantes e nosso conhecimento sobre o racismo na ETUFBa, sabíamos que se tratava de uma apresentação que discrimina a vida e luta de nosso povo. Como de costume, assistimos tudo antes de mencionar qualquer informação. O espetáculo nomeado como: “Sob as tetas da loba”, com adaptação e direção do professor Paulo Cunha, o qual seu fazer artístico racista já é sabido por nós, no entanto, ficamos surpresas(os) em nos deparar com uma prática bem mais sadista e fetichista de racismo em cena: 4 personagens pretas e 22 outras personagens brancas compunham o “espetáculo de horrores”, onde o horror se debruçava sobre as histórias daquela minoria de personagens pretas, existente na dramaturgia de Paulo Cunha, e a redenção, a esperança, a boa estrutura de vida, a humanidade favorecida, a linhagem histórica e o bem portar-se na maioria branca do seu mundo dramatúrgico. O que esperar de uma dramaturgia que não reflete o povo? O que esperar de um fazer teatral que minoriza quantitativamente e inferioriza a maior população preta fora do continente africano? O mesmo RACISMO habitual e impune de sempre! Até agora!
Não é a primeira vez que o mesmo professor faz um despaltério como esse, fizemos um manifesto simples com alguns papeis dispostos ao chão fazendo uma pergunta simples e direta. A direção da escola, o colegiado, os departamentos do curso, o vice diretor, outros professores, todo mundo obteve conhecimento, fizeram xacota de nossa cara. nos ridicularizavam, diziam uma série de asneiras ao nosso respeito. Principalmente de que a maneira que estávamos protestando estava errada. Depois de nosso manifesto, nada aconteceu.
Como não deu em nada, não nos ouviram e nem quiseram conversar com a gente, num outro dia, numa sexta-feira, mudamos a tática e colamos as folhas num tapume, com a finalidade de chamar mais atenção. Resultado: num outro dia, num Sábado, parte do manifesto estava todo rasgado. Fizeram fora de nossa presença.
O diretor Paulo Cunha, formado pela Escola de Teatro da UFBA e professor da mesma, escolheu referenciar a 54ª produção da companhia teatral da cia em quatro obras de Jorge Andrade (“Senhora da Boca do Lixo”, “A Loba”, “Milagre na Cela” e “A Zebra”), J.A pra quem não sabe, foi um dramaturgo, BRANCO e a maioria dos grupos teatrais que apresentavam suas peças no Brasil também eram da mesma linha em sua maioria. Aqui em Salvador não foi diferente, o diretor tendenciou a execução obra em cena sem a menor responsabilidade com atual conjuntura de nosso país, onde o atual governo menospreza o povo preto, promete cada dia mais o corte de investimentos para educação. A DRAMATURGIA NÃO PODE SER DESCULPA PARA NÃO INTEGRAR O POVO PRETO NA MESMA QUANTIDADE QUE OS BRANCOS. Não pode ser desculpa para nos colocar sempre no papel de subalternidade. Isso quem decide é o diretor teatral segunda sua estirpe. Veja que estranho: Conseguiu adaptar 4 obras, do mesmo autor, mas não conseguiu se adaptar ao século 21? Não conseguiu propor nada além do subjulgamento? Subalternidade? Pois é, Não é a primeira vez, sempre foi assim com esse e outros diretores. A contar com obras apresentadas como:
Em alto mar: Cia de teatro da UFBA, Apresentada no ano de 1985, dirigido por outro homem branco, alemão, radicado no Brasil o ex professor E. Hackler. Todo elenco majoritariamente branco.
Piramo e Tisbe: Curso livre de teatro da UFBA. Apresentada no ano 2000, teatro Xisto, onde o elenco majoritariamente Foi branco. dirigido pelo professor Raimundo Mattos.
Otto Lara Rezende ou Bonitinha, mas ordinária: Curso livre de teatro da UFBA. No ano de 2004, Apresentada na sala principal da ETUFBA ainda em obras, elenco grande, maioria de brancos, dirigido pelo professor Paulo. Inclusive nesse espetáculo o corpo preto era bastante exotificado e hipersexualizado. Em 2012, o professor Marfuz, também branco, dirigiu a peça de formatura, com 19 pessoas, maioria brancas.
Longa Jornada noite a dentro: Cia de teatro da UFBA. Apresentada no ano de 2013, mais um diretor branco, Harildo Déda. Como título da peça sugere, passavam-se mais de 2hs e o elenco somente de brancos.
As Confrarias: Cia de teatro da UFBA. Apresentado no ano de 2014, pelo mesmo diretor de hoje, Paulo Cunha. Elenco grande e majoritariamente branco. Impressionante que para este espetáculo o catálogo que foi confeccionado com dinheiro público. Foi vendido para quem foi assistir o espetáculo. Prática errada por se tratar de uma escola pública e toda verba para montar o espetáculo ja tinha sido garantida pela UFBA. Resultado: Poucas pessoas compraram e sobrou bastante material e 5 anos depois até hoje distribuem esse catalogo, SÓ QUE AGORA GRATUITAMENTE!
Percebe?! Assim foi até os dias de hoje. Pretas e pretos na subalternidade. Essas são apenas algumas das dezenas de espetáculos produzidos com chamada pública por se tratar de um PROJETO DE EXTENSÃO. São dezenas de espetáculos produzidos que não valorizam nem de longe nossa gente e estamos falando SOMENTE DA CIA DE TEATRO DA UFBA. Imagine as mostras de menor alcance do público. O professor Paulo cunha, é apenas um dos diversos homens brancos que dominaram a cena teatral na ETUFBa tendo em vista apenas a sua satisfação pessoal. Existem vários casos de abusos de poder no qual nessa nota não vamos nos ater para não desviar do foco de nosso objetivo.
Acima um pequeno registro do MANIFESTO DO RESTO Como sempre fez em outros espetáculos. Tanto do curso livre, como da cia de teatro da UFBA, ambos espaços para que ele mesmo possa desenvolver seu poder de opressão sobre as pessoas participantes. É pratica natural do professor expor o racismo e a opressão postas em seu roteiro dramatúrgico; fazer o público enxergar o problema sem propor reflexões para além do que foi exposto. Nós poderíamos escolher acreditar em ingenuidade ou ignorância sobre o papel político e social da arte teatral, no entanto enfrentamos a terrível verdade do sadismo, da desonestidade e do fetiche sobre os corpos pretos e decidimos agir a respeito.
Como já descrito acima, fizemos diversos manifestos e a ETUFBA nos ignorou, fingiu que não viu, invisibilizou, menosprezou a cada nova montagem a presença de MAIS PRETAS E PRETOS EM CENA.
Com todos os atos realizados com o passar dos tempos não tinham surtido efeito e a branquitude ainda continuava a menosprezar nossa existência. Tivemos que voltar as nossas referencias de luta e compreender o que fazer. Durante dois anos de nossa existência na escola de teatro da UFBA a mesma não quis/conseguiu perceber que um número disparado de brancos em cena e um número pífio de pretas e pretos É UM ABSURDO!!
MALCOLM X, foi a nossa principal referencia de luta. Criamos uma estratégia de RADICALIZAR O MOVIMENTO, sem seguir apenas a mesma forma de protesto, agora é expor o racismo até todas as consequências possíveis. Como foi amplamente demonstramos acima, a luta sempre aconteceu, porém a classe privilégiada sempre manteve seu local intacto. Como assim? Durante o período de ensaios as mesmas pessoas brancas participavam dos espetáculos. Principalmente quem não é mais estudante da UFBA, mas tem um laço segregador com a opressão. A famosa “panelinha de sempre” SÃO SEMPRE AS MESMAS PESSOAS EM CENA.
Quais passos foram seguidos desde então?
Dia 05 de Abril de 2019: Foi realizado uma audiência com o reitor João Carlos Salles, pontuando dentre outras praticas racistas com nós da ORGANIZAÇÃO DANDARA GUSMÃO, a forma que a escola de teatro age com as chamadas públicas que lá existem. Chamadas essas que incluem: Edital interno para bolsas de extensão, Chamada para montagens teatrais da cia de teatro da UFBA atividades que sempre mantem a exclusão e racismo latentes. Estavam também presentes nessa reunião a direção da Escola de Teatro(prof. Cajaíba), ouvidora geral da UFBA(Professora Iole) Até o dia de hoje, não deram retorno a nenhuma das demandas que foram colocadas, porém, o racismo segue como num rastilho de polvora.
Dia 28 de Maio de 2019: Logo depois de termos assistido o espetáculo, buscamos o canal da OUVIDORIA GERAL DA UFBA para que pudessem nos ouvir e agir. Buscamos mais uma vez fazer a denúncia através de e-mail disponibilizado. Tendo em vista que a Pró Reitoria de ações afirmativas tem uma intenção forte de enfrentamento ao racismo, estávamos contando que no mínimo um diálogo fosse estabelecido tendo em vista que essa pratica é repudiada pela universidade. NÃO OBTIVEMOS RETORNO!!
Dia 30 de Maio de 2019: Mesmo sem nenhuma resposta, não cansamos e fomos na ouvidoria pessoalmente levar a queixa impressa, com páginas assinadas, em anexo a carta do 3º fórum negro das artes e também a lei 10.639 que rege a valorização da cultura Africana e indígena em instituições públicas de ensino. RESULTADO? Fomos totalmente ignorados(as)!! Nada aconteceu!
A gente acreditava que a questão do racismo fora dos ambientes da Escola de teatro, seria levado a sério em outros ambientes da UFBA, uma urgência, afinal a pratica do racismo é criminosa e o atual governo propõe a nossa extinção. Porém estávamos enganadas(os) enquanto os brancos avançam, a vagarosidade pra fortalecer nosso povo preto é grande. Seguimos então nossa referencia e partimos pra luta:
4. Dia 31 de Maio de 2019: Já que nenhum diálogo foi estabelecido, iniciamos a TEMPORADA MALCOLM X – A RADICALIZAÇÃO DA LUTA! Promovemos um protesto logo nesse dia, no espaço do foyer antes da sala do teatro, como sempre fizemos, mas dessa vez deixando muito explicito cada momento o por que estamos de volta em protesto.
5. Dia 01 de Junho de 2019: O DIA DA RADICALIZAÇÃO DO MOVIMENTO
DEMOCRACIA RACIAL: NÓS NUNCA ACREDITAMOS! ESSA ILUSÃO TEM QUE ACABAR JÁ!
Durante apresentação(anestesia) do espetáculo interrompemos a continuação do RACISMO naquela noite. Erguemos os nossos punhos e enfrentamos a ira de mais de 200 pessoas na platéia da sala principal. Só quem sente vontade de mudança viu que o nosso ato foi legítimo, não partimos pra luta corporal com ninguém, porém contra gente foram feita várias provocações afim de nos desestabilizar. Quando nos levantamos das poltronas onde assistíamos 4 artistas pretos(as) colocadas apenas como marginais e posição de tensão, miséria e subjugamento foi o momento certo pra ABRIR AS PORTAS PARA DEMANDAS DE EMERGÊNCIA.
Já aceitamos o racismo há mais de 70 anos, NÃO DÁ MAIS!! Somos sempre o motivo do para o riso, o ridículo do mal portar-se, colocadas sob o poder social e ideológico de personagens brancas, outro obediente, reprimia e inferiorizava outro preto, colocadas em servidão, outra era disponível sexualmente em sua cela imunda para amansar presos a mando de carcereiros, colocadas em bestialidade, o outro chamado de “negro bem dotado” era posto em uma cela, junto a uma personagem branca de uma freira, no intuito de estuprá-la.
Nos levantamos e colocamos nossa insatisfação contra a grosseria do diretor racista e sua falta de cuidado, compromisso ao expor tudo isso em cena, sem nenhuma crítica ou reflexão, reforçando esteriótipos e posições sociais racistas, contra sua hipocrisia, pretensão e desonestidade ao insinuar que essa sua obra dramatúrgica tem algum teor “revolucionário”, e nós dizemos: “O racismo não é revolucionário!” Interrompemos sim aquilo que chamamos de “show de horrores”, em um ato político, e àquelas e aqueles que de forma infante entoavam em nossa direção gritos repetitivos com os dizeres: “FALTA DE RESPEITO!”, viemos lembrar do teor, do papel político e social do teatro, do direito de manifestação do público, se não estão preparados(as) para isso, não sabem o que é o teatro, não conhecem a história daquilo que se propõem a fazer! Nós, sim, estamos nos propondo a resgatar o teor revolucionário da arte teatral, e dizemos: “Sim! É legítimo, é necessário!”
Nas redes sociais a repercussão está gerando um grande debate sobre os nossos últimos atos, gregos e troianos estão se acirrando e vão ter que ACEITAR OS AFRICANOS!! A GRÉCIA CAIRÁ POR TERRA. Ou subimos junto ou ninguém sobe mais!! O apoio a nós e a insatisfação de muitas de nossas e nossos colegas pretos sobre o espetáculo só nos mostra que essa demanda não é individual, por outro lado, acreditamos que a opinião contrária, também fomenta e colabora com esse diálogo sobre justiça racial, tão necessário em nosso meio artístico. No entanto estamos presenciando nas redes algo que vai além da divergência de ideias, opiniões de formados e formandos da ETUFBA que ilustram o racismo que é parte integrante desses indivíduos e de sua formação. Uma tentativa constante de inferiorizar o nosso intelecto e deslegitimar o nosso pertencimento para com o teatro, atitudes preguiçosas que evidenciam a incapacidade dos mesmos de dialogar aberta e sinceramente, pretensiosos que, no alto de suas pompas, se colocam e auto proclamam como os únicos porta-vozes de uma arte milenar como o teatro, grosseiramente se dão o direito de julgar se somos de teatro ou não, se temos a capacidade de refletir sobre uma obra teatral, querem o monopólio de opinião, mas esse direito não lhes damos!
Os brancos nos julgam de diversas formas negativas, intitulam nós, estudantes e artistas, como “meliantes”, usam de um vazio malabarismo discursivo na tentativa de defender o indefensível e ainda menosprezar a qualidade do trabalho de atores e atrizes pretas, a supor que apenas a “qualidade do trabalho” é a justificativa para a escolha da formação racial desproporcional do elenco em cena. Apesar de grotescas, essas práticas não nos surpreendem, pois são historicamente parte da prática do Racismo! E o que esperar daqueles que se formaram e estão sendo formados por uma escola que tem o racismo institucionalizado e não se propuseram ou se propõem a romper com essa prática racista durante sua formação?
Na tentativa de deslegitimar as nossas ações que estão falsamente agora espalhando que o nosso ato aconteceu de forma agressiva, que nós mesmos somos agressores e formalmente nos acusando de agressão. Estamos tranquilos, nós podemos provar o contrário!
6. Dia 02 de Junho de 2019: O DIA DA RADICALIZAÇÃO DO MOVIMENTO CONTINUOU!!
Além do que já foi explicito acima, ficamos durante 3h30 falando sem parar, cercadas e cercados por mais de 10 seguranças contratados pela UFBA. Fomos ameaçados, provocados, porém não perdemos a nossa estabilidade emocional. A gente sabe que incomoda muito a voz da mulher preta altiva. Do homem preto que alça sua voz. A nossa revolta tem nome e sobrenome. Não estamos disponíveis a brincar de lutar. Pra gente foi uma TEMPORADA DE LUTAS difíceis. Nossa diversão em familia, saúde, vida social, amorosa, acadêmica, foi comprometida. TÍNHAMOS QUE FAZER! SE NÃO FOSSE A GENTE NÃO IA SER NINGUÉM MAIS!! Nos sacrificamos, acertamos em cheio, quase iamos desistir. Choramos muito, mas tivemos que persistir!
NÃO DAVA PRA ESPERAR OS TRAMITES E OS RITOS SEREM SEGUIDOS!!
NÃO DA MAIS!!
Estamos aguardando a dois anos o posicionamento da UFBA a respeito do processo injusto que aplicaram sobre nós. Estamos a dois anos expulsos e expulsas de apresentar teatro dentro da escola de teatro. Estamos a dois anos APRESENTANDO TEATRO NA RUA! Quem está se preocupando com isso? Somente nós!! Estamos aprendendo a lhe dar com a rua, com o descaso e com toda sorte de coisas que acontecem conosco
SOBRE A MENTIRA DA AGRESSÃO!!
Antes de qualquer palavra veja o vídeo com a verdade:
CLIQUE AQUI E VEJA O VÍDEO
A VERDADE IMPERA SOBRE O RACISMO (Vídeo 2 de 3)
Sim, sabemos muito bem que a intenção da professora é marginalizar e entiquetar um estudante preto que proferiu em alto e bom som: PARE DE FILMAR POR FAVOR! Porém o que relata essa professora? Onde esta a verdade? Bem, o vídeo deixa explicito que:• Veio atingindo com seu braço meu rosto: – MENTIRA!! ELA QUE TENTOU BATER NELE E NÃO CONSEGUIU• Parti para cima dele na tentativa de me defender e recuperar meu telefone: MENTIRA!! ELE MESMO DEVOLVEU!!• Consegui recuperar meu telefone mas sai com os braços marcados pela violência da criatura!MENTIRA DE NOVO!! SOMENTE ELA PEGOU NOS BRAÇOS DELE!!ELE TOCOU APENAS NO CELULARA MENTIRA SERÁ DESMASCARADA E O RACISMO VAI CAIR!!!
Publicado por Dandara Gusmão em Quinta-feira, 6 de junho de 2019
A exemplo de uma acusação leviana e desonesta temos a alegação da professora Deolinda Vilhena, presente no nosso ato no último domingo, que com melodrama e sensacionalismo, dignos dos programas de meio-dia e final de tarde, acusa um dos integrantes da nossa organização de tê-la agredido. O estudante e corpo da nossa organização, em questão, sequer levantou o braço em direção da acusadora com intenção de feri-la ou mesmo ocorreu algo do tipo de forma desproposital. A professora Deolinda Vilhena, de forma prepotente, está levantando falso testemunho contra um estudante da ETUFBA!
Talvez essa prepotência tenha se tornado um hábito dentro do corpo docente da escola, formado por professores que, em sua maioria, agem como deuses cegos e surdos às demandas sociais e do corpo discente da ETUFBA, que está a cada dia se modificando e ganhando outras cores mais fortes, prepotência essa que não enxerga ou escuta as mudanças pertinentes ao povo e a classe artística, prepotência essa que muitas vezes premia ou pune alunos não somente por sua capacidade e atitudes, mas também pelo simples e pleno afeto que o professor(a) tem, ou não, para com ele(a), prepotência que estagnou o fazer e a formação teatral na escola de teatro da UFBA, e a inexistência de um regimento interno institucional só faz com que a escola esteja constantemente vulnerável aos mandos, desmandos e ao bel prazer individual de cada professor(a)!
Essa prepotência grotesca digna de Paulo Cunha e do racismo e etnocentrismo em “Sob as tetas da loba”, que obriga atrizes e atores pretos a representar papéis de inferioridade, marginalidade, subalternidade e servidão, para estarem em cena e como uma provocação e demarcação de território racista, vem após o grandioso “Pele negras, máscaras brancas”, que levou o público a formar filas cerca de duas horas antes da abertura da bilheteria, filas que tomavam toda a entrada da ETUFBA e a calçada fora, e após “Mário Gusmão – O anjo negro e sua legião”, também sucesso de público!
Por vezes esse etnocentrismo branco, a não nos deixar espaço, simbolicamente vem nos dizer e falsamente nos tentar provar que nossas produções pretas não obterão sucesso de público e crítica, mas os recentes espetáculos da Cia de Teatro da UFBA, conquista de luta da ODG, os únicos 2 dentre 54 produções da escola com temática preta, está para nos mostrar o oposto disso! O nosso povo, as nossas atrizes e atores, diretoras(es), dramaturgos(as) e suas produções atraem o público pela sua qualidade e comprometimento com o nosso povo preto e nossas histórias, porque os representam e os fazem vê-se, não trata-se da falta de artistas pretas e pretos ou da qualidade de seus trabalhos, trata-se apenas do espaço que o racismo toma e que a ODG está constantemente a recuperar dentro da ETUFBA!
A Organização Dandara Gusmão segue, como sempre determinada, forte e resistente! Pacífica e perseverante na luta pela visibilidade, espaço e reconhecimento do nosso povo preto, como da sua arte e cultura!
UHURU!!!! 📷🏿
NÃO ESTAMOS SÓS! SOMOS UM QUILOMBO!
Em apoio à Organização Dandara Gusmão:
▪️Coletivo Luiza Bairros
▪️Programa de Direito e Relações Raciais ▪️Organização Reaja ou será morta.
▪️Rolezinho das Caras Pretas
▪️Bando de Teatro Olodum
▪️NATA -Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas
▪️Congresso de Pesquisadorxs Negrxs da Bahia.
▪️ÀRÀKÁ – Plataforma de Criação em Arte
▪️Teatro da Queda.
▪️Coletivo Fraude Pura
▪️Docentes/Discentes Negrxs da ETUFBa.
▪️Coletivo de Docentes Negrxs da Faculdade de Educação da UFBA.
Coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia
Nova Frente Negra Brasileira
AGANJU – Afro Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica
Pró- reitoria de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas da UEFS
Comissão de Ações Afirmativas da UEFS
Grupo de Pesquisa Cogitare
Grupo de Pesquisa Firmina Pós Colonialidade e Ações Afirmativas
Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador
Coletivo Ogum’s Toques Negros
Coletivo Corpos Indóceis e Mentes Livres
Grupo de Pesquisa Traduzindo no Atlântico Negro
Hilton Cobra
AfroUneb
Uneb – SAJ
Frente Makota Valdina
ICEAFRO
Instituto Búzios
Fórum Marielle Franco
Sarau Enegrescência