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Tradição, revitalização e beleza marcam desfiles dos blocos Apaxes e Commanches

Os desfiles dos blocos de índio no carnaval de 2014 foram marcados pela beleza estética de suas fantasias, pela tradição e resistência que são as marcas do Apaxes do Tororó, que completa 45 carnavais, e do Commanche do Pelô, que fez 40 anos na folia de momo. E a revitalização do Apaxes do Tororó, que voltou a desfilar com sua bateria no chão e trouxe para a Avenida o Boi Garantido de Parintins, uma das representações indígenas do Estado do Amazonas.

O bloco Apaxes do Tororó desfilou no domingo de carnaval, na passarela do Campo Grande, no Circuito Osmar, celebrando 45 anos de história no carnaval da Bahia. Para a alegria dos associados e foliões que esperaram pela passagem do bloco, o Apaxes trouxe como presente de aniversário a sua bateria, composta por cerca de 300 componentes, revivendo os antigos desfiles. Além da atração do folclore da Amazonas, o bloco veio para a Avenida com uma ala especial composta por índios das tribos Tuxá, Pataxó, Kirirí e Kaimbé, além das alas de dança e de baianas.

Após quatorze anos, o bloco Apaxes volta a desfilar com a bateria no chão. Para Neuza Pereira, 63 anos, rever o seu bloco do coração se apresentar como há muito não via, foi emocionante. “Achei lindo o desfile desse ano, relembrei de muitas coisas aqui ao ver o Apaxes passar”, conta saudosa. Para ela, a noite só seria melhor se ela “estivesse no chão, desfilando com as amigas na ala das baianas”, conta, da arquibancada, de onde acompanhava a passagem cantando as antigas músicas do bloco, junto com suas irmãs.

Para o presidente do bloco Apaxes do Tororó, Adelmo Costa, trazer a cultura indígena para o carnaval é muito importante para preservar e representar o diverso na festa. “Nós somos o veículo e eles são a atração, eles são a festa do Apaxes na Avenida”, reforçou Costa ao falar do público. Sobre o aniversário de 45 anos do bloco, diz, “É algo inexplicável, são tantas coisas que acontecem antes para fazer o nosso carnaval se tornar realidade, que só vou dar conta na Quarta-feira de Cinzas”.

 

Foto: Blocos de Índios mantem valorização das nossas heranças culturais. Foto: Rosilda Cruz

Foto: Blocos de Índios mantem valorização das nossas heranças culturais. Foto: Rosilda Cruz

Commanche – O bloco Commanche do Pelô, apesar de vir para o desfile com lindas fantasias e com sua ala de Caciques Commancheiros, há alguns anos vêm com uma banda de pagode em cima do trio, para divertir o público e os associados. O que para muitos pode ser uma descaracterização do bloco, que anos atrás era formado por ala de grupo percussivo.

Perguntado sobre essa nova característica do bloco, o diretor do Commanche, Jovicélio dos Santos, 58, informa que o bloco busca suprir os anseios do público. “Nós buscamos dar o melhor para nosso associado. A escolha pela banda de pagode contempla o desejo do povo, que com o passar do tempo vem pedindo”, informa Santos que há 40 anos desfila e participa como diretor do bloco.

O surgimento de blocos de índio no carnaval de Salvador ocorreu no final da década de 1960, influenciados pela cultura cinematográfica norte-americana e seus filmes de faroeste. Durante muitos anos costumavam sair às ruas durante o carnaval ao som da bateria de percussão e com figurino repleto de referências indígenas. As baterias eram formadas por ex-integrantes das antigas escolas de samba de Salvador que migraram para os Blocos de Índio.

“O Apaxe do Tororó foi uma importante referência para nós, do Ilê Aiyê. Era na quadra do Apaxés que nos encontrávamos em torno da música, do samba, que alimentou as nossas inquietações e luta. O Ilê Aiyê é fruto desse momento cultural de Salvador”, explica Arany Santana, fundadora e diretora do bloco afro Ilê Aiyê.

Apesar do desaparecimento de muitos blocos frente às dificuldades financeiras e da perda de parte da identidade original, os Blocos de Índio passaram por um processo de modernização, incluindo elementos como os abadás e os trios elétricos em seus desfiles. A partir deste ano, o Apaxes do Tororó começa a fazer o caminho inverso e o primeiro passo foi o retorno da bateria no chão.

Fidelis Tavares

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