Do “quilombo” do Cabula, Luedji Luna é cantora e compositora soteropolitana, radicada em São Paulo. Seu trabalho traz com influências do Jazz e da MPB, tendo iniciado os estudos em música na Escola Baiana de Canto Popular, fundada pela professora da Universidade Federal da Bahia Ana Paula Albuquerque. Luedji é cofundadora do M.O.V.A., coletivo de compositoras de Salvador. Além disso, foi membro do Bando Cumatê, coletivo engajado na pesquisa, difusão e fomento das manifestações artísticas tradicionais da cultura brasileira. Em um bate-papo com a repórter Donminique Azevedo, do Portal Correio Nagô, a artista falou da carreira e sobre o retorno à Salvador para uma série de apresentações na cidade.
O primeiro desafio é ser mulher negra num país racista como o nosso. Em segundo lugar é ser mulher preta compositora, o desafio de cantar as próprias canções, pois quem dá escuta as mulheres?
CORREIO NAGÔ – Ne domingo (15), você se apresenta em Salvador. Além disso, este mês você já fez e fará outras apresentações. Como tem sido esse retorno à terra natal?
LUEDJI LUNA – Sim, tenho alguns shows marcados em Salvador esse mês e me fevereiro: Dia 15/01, às 17 no Rango Vegan, e dias 4 e 5 de fevereiro no Teatro Gamboa. Voltar à minha terra tem sido um pouco nostálgico, eu ando pelas ruas rememorando pessoas e experiências com muita saudade, mas com a noção de que ficou no passado mesmo, que tudo mudou, e tá tudo bem..Eu não sou mais a mesma, a cidade também não seria.
CORREIO NAGÔ – Como surgiu a canção “Um Corpo no Mundo”?
LUEDJI LUNA – Um Corpo no Mundo é uma canção que eu fiz em São Paulo a partir do encontro com imigrantes africanos na cidade. Eu sempre digo que nós negros da/na diáspora sentimos uma saudade ancestral, me deparar com aqueles corpos negros despertou em mim o desejo de saber qual daquelas Áfricas eu poderia chamar de minha. A canção tem norteado todo o meu trabalho, dá nome ao show que venho apresentando, um clip, dirigido pela cineasta Joyce Prado da Oxalá Produções, e também intitula meu primeiro disco a ser gravado ainda esse ano.
CORREIO NAGÔ – Qual o lugar do corpo de Luedji no mundo?
LUEDJI LUNA – Meu lugar é onde a música me levar, ela tem sido guia dos caminhos nesse últimos anos…
A expectativa que se gera sendo negra e baiana é que eu cante samba ou axé. Eu escolhi cantar minhas próprias verdades!
CORREIO NAGÔ – Conte-nos sobre sua participação na série Cantoras do Brasil?
LUEDJI LUNA – Foi uma surpresa ter sido convidada e minha primeira experiência em programa de TV.
CORREIO NAGÔ – Como tem sido a repercussão do clipe lançado recentemente?
LUEDJI LUNA – O feedback tem sido muito positivo. Esse clipe tem sido um divisor de águas na minha carreira.
CORREIO NAGÔ – Quais são os maiores desafios encontrados na sua trajetória enquanto mulher, negra, cantora e baiana radicada em São Paulo?
LUEDJI LUNA – O primeiro desafio é ser mulher negra num país racista como o nosso. Em segundo lugar é ser mulher preta compositora, o desafio de cantar as próprias canções, pois quem dá escuta as mulheres? Quem dá escuta as mulheres negras? Ocupo um lugar não esperado, a expectativa que se gera sendo negra e baiana é que eu cante samba ou axé. Eu escolhi cantar minhas próprias verdades!