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Uso de drogas não é problema, defende Carl Hart

Reprodução I Facebook

Redação Portal Correio Nagô*

Para falar sobre a relação entre jovens e drogas, o neurocientista Carl Hart esteve presente ontem (02), às 10h, no Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), que fica localizado no Pelourinho, em Salvador. As abordagens sobre o tema foram feitas comparando a situação dos Estados Unidos e do Brasil.

Carl Hart comenta que antigamente achava que o problema dos jovens afroamericanos estava no uso de drogas. Ele acreditava que se esta questão fosse resolvida, a situação da comunidade negra seria modificada. Entretanto, o cientista constatou que a dificuldade encontrada por esta parte da população é a desigualdade na garantia de direitos e oportunidades. “Eu descobri que o problema estava na pobreza, na educação e na discriminação racial, mas as esferas governamentais não se sensibilizam com estes dados”, diz.

Segundo o professor titular na Universidade de Columbia, há mais de dois milhões de presos nos Estados Unidos, sendo que a maioria dos presidiários são homens negros. “Isso é uma vergonha para um país em que somente 13% da população é afro”, comenta.  De acordo com o docente, antes de ele publicar o livro Um Preço Muito Alto: A jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas, pediram que algumas informações não fossem reveladas, mas ele não acatou a solicitação. “Eu sei que envergonhar os nossos governantes sobre a questão não tem trazido resultado, mas precisamos revelar o que as pessoas querem silenciar,” diz. “Grande parte das pessoas que usam drogas não são viciadas. Nos Estados Unidos, a maioria delas são brancas, porém não enfrentam a prisão, o desemprego. A dificuldade que encontramos na nossa sociedade não está ligada ao uso da maconha, crack, cocaína, e sim à falta de oportunidade”, salienta o pesquisador.

Representantes de movimentos sociais, professores, estudantes presenciaram Carl Hart afirmar que não tem medo de que os seus filhos usem drogas. Ele teme que estes jovens não tenham sucesso na escola, nos estudos. “Eu explico aos meus filhos quais são os efeitos provocados pelo uso das drogas e sobre o que eles precisam saber caso presenciem ou tenham algum sintoma proveniente do uso de certas substâncias”.

O estudioso diz que há situações, no Brasil, muito semelhantes à dos Estados Unidos. Ele afirma que em seu país existe uma lei que pode ser comparada aos “autos de resistência”, mas revela que os brasileiros que vão para a sua terra não mencionam que na sociedade brasileira há discriminação racial. “Isso precisa ser dito, esclarecido”, observa. Para ele, a questão racial não é específica de uma nação, pois, segundo Hart, ela acontece de forma muito parecida em todos os territórios da Diáspora Negra.

Carl Hart explica que é preciso legalizar o uso das drogas, pois só os negros são penalizados. Países como Portugal, República Tcheca já se encontram em situações bem melhores após liberarem o uso das substâncias consideradas ilícitas, diz o pesquisador. O representante do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Dudu Ribeiro, diz que criminalizar os usuários de drogas não é uma estratégia de proteção para a sociedade, mas de subalternação das classes populares. Sobre isso, Hart completa dizendo que a guerra às drogas tem sido bem sucedida, porque sustenta muitas empresas e muitos pesquisadores. Então, continuar com o processo de não legalização é permanecer mantendo a lógica de faturamento em contratação de policiais e agentes carcerários. Esta guerra é um grande empreendimento financeiro, pontua o pesquisador.

O membro do Conselho em Assuntos de Abuso de Drogas prometeu articular a relação entre a coordenadora do CDCN, Vilma Reis, e a Senad, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, para que a discussão sobre o assunto seja continuada.

 

Sobre CARL HART

Primeiro professor negro da Universidade de Columbia, Estados Unidos. Membro do Conselho em Assuntos de Abuso de Drogas e pesquisador da Divisão de Abuso de Substâncias do Instituto de Psiquiatria de Nova York. Bacharel em Psicologia e doutor em psicologia experimental e neurociência pela Universidade Wyoming.

Ele estuda o tema sobre as drogas há 25 anos. Segundo conclusões da sua pesquisa, somente 20% dos usuários são viciados e boa parte do uso problemático de substâncias consideradas ilícitas é ocasionada pela dificuldade de acesso a garantias de direitos.

 

* Por Taciana Gacelin

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