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Vamos Denegrir a Mídia!

Edição Especial do Globo News Em Pauta, de 03/06/2020, teve a participação das jornalistas Maria Júlia Coutinho, Aline Midlej, Flavia Oliveira, Lilian Ribeiro e Zileide Silva e o apresentador Heraldo Pereira.

Vamos Denegrir a Mídia!

Este foi o slogan de lançamento do Instituto Mídia Étnica em outubro de 2005, em Salvador, Bahia, cidade mais negra do Brasil que, vergonhosamente, não estampava essa negritude nos anúncios publicitários e nas bancadas dos telejornais.

15 anos depois continuamos com muitas críticas à ‘Negação do Brasil’ na mídia, e nos orgulhamos por vermos uma geração de comunicadores negros e negras construindo uma contra narrativa à hegemonia do racismo, denunciando violações de direitos e cobrando reparação nos meios de comunicação.

Precisou que tocassem fogo nas ruas dos Estados Unidos para que o maior grupo de Comunicação do Brasil reconhecesse a ausência de profissionais negros com lugar de fala na discussão do tema mais urgente neste momento: o racismo, mundialmente observado nas imagens da violência policial de Mineápolis, nas faixas e gritos das marchas norte-americanas, nas mortes diárias de negros no Brasil pela bala do Estado e nos números da letalidade pelo coronavírus (sim, há racismo e desigualdade na pandemia).    

Edição do dia anterior foi criticada pela ausência de negros comentando racismo. A Globo News reconheceu o erro apontado pelas redes sociais e dividiu a culpa com o ‘racismo estrutural’: “Eu estaria mentindo se dissesse que foi um acidente”.

Apesar das inspiradoras histórias de resistência contadas pelas jornalistas Flavia Oliveira, Zileide Silva, Aline Midlej, Lilian Ribeiro e Maria Júlia Coutinho, todas ressaltaram serem fruto de lutas coletivas, de oportunidades cavadas com muita dor e resiliência pelas gerações anteriores. “Não precisava ser assim”, disseram. A aposta familiar na educação possibilitou que construíssem trajetórias reconhecidas e elogiadas, com seus talentos e competências visibilizados. “É preciso mais oportunidades e investimentos em educação e formação que promovam igualdade”, cobraram.

Criticaram a própria mídia que não valoriza as narrativas negras, que não abre espaço para o pensamento de intelectuais negros e negras, das empresas que não possuem políticas de acesso e ascensão de profissionais negros e do incômodo em serem lembradas apenas para tratar desses temas: “Queremos ser chamadas para falar de outros assuntos também, temos competência para isso”, foi a mensagem.

A presença das jornalistas negras ontem, na Globo News, suas falas e reivindicações, uniram construções de gerações de luta. Dos que sonharam por essa presença, dos que criaram meios para que essas vozes fossem ouvidas e dos que ainda, incansavelmente, lutam pela digno tratamento midiático às nossas dores, conquistas e contribuições a este país.

Continuamos a Denegrir a Mídia!

Instituto Mídia Étnica há 15 anos construindo uma comunicação Anti Racista

André Santana é jornalista e co-fundador do Instituto Mídia Étnica

Publicado em 04/06/2020

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