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Vera Lopes apresenta monólogo sobre vivências de mulheres negras

Vera Lopes é atriz, gaúcha, mora em Salvador há quatro anos e assina a co-autoria da peça “Eu tenho medo de monólogo”.

A leitura dramática da peça “Eu tenho medo de monólogo”, será apresentada no I Fórum Negro das Artes Cênicas, no Teatro Martin Gonçalves.

O espetáculo trata de temas importantes, narra os dramas e a afetividade da mulher negra.

Na quinta-feira (16), às 19h, no Teatro Martin Gonçalves, será realizada essa mostra artística seguida por um bate-papo.

Para saber um pouco mais sobre a atriz, a sua carreira artística e a peça “Eu tenho medo de monólogo”, o Correio Nagô entrevistou Vera Lopes.

Correio Nagô – Dona de uma voz potente e com uma excelente interpretação, poderia falar um pouco sobre você, sua carreira artística e as pretensões para o futuro?

Sou Vera Lopes, gaúcha, atriz, moro em Salvador há quatro anos e estou neste fazer teatral há mais de 30. Transito tanto pelo teatro, quanto pelo cinema, recitais poéticos-musicais e em comerciais. Gosto imensamente da arte de atuar.
Eu faço parte de um grupo chamado Caixa Preta, formado por artistas negrxs lá em Porto Alegre e mesmo eu não estando em Porto Alegre eu continuo sendo do Caixa Preta porque a minha ligação com esse grupo vai além do estar em cena. O tempo inteiro eu estou me reportando ao aprendizado que esse grupo me proporcionou, ao convívio com outras pessoas, outros atores e atrizes negras e poder exercitar a dramaturgia negra. Então eu continuo muito ligada ao grupo Caixa Preta.

Minha perspectiva de futuro é continuar atuando, continuar fazendo o que eu gosto. Podendo me desafiar, podendo dar vida a personagens negros e negras. Trazer para o palco a obra de autores e autoras negras, isso é algo que eu pretendo continuar fazendo por muito tempo. 

Foto: Fafá Araújo

Foto: Fafá Araújo

A peça “Eu tenho medo de monólogo” narra a história de luta de uma mulher negra, ao tempo que também traz a questão da afetividade desta mulher. Para você, qual a importância de abordar emum espetáculo temas como estes?

No texto “tenho medo de monólogo”, do Cuti, no qual eu assino a co-autoria a gente traz uma personagem, a Ana Cruz. Ela é uma mulher negra semelhante a muitas outra mulheres negras. Com uma história de vida de superação.
A importância de trazer essa personagem é a gente poder discutir, trazer para o palco, essa mulher que pode ser qualquer uma de nós, que tem uma história de vida semelhante a história de muitas de nós. Muitas mulheres negras experimentaram situações semelhantes ao que vivencia Ana Cruz. Ela é uma mulher que é mãe de dois filhos, ela perde um filho pra violência, ela não aceita perder esse filho, ela vai buscar saber o que aconteceu com esse filho dela e quantas mulheres negras vivem esse drama? Mas a vida de Ana Cruz, como as nossas vidas não são feitas apenas de dramas. Nós temos dramas, nós superamos esses dramas, nós buscamos outras formas de viver. A Ana Cruz está o tempo inteiro se superando, ela não aceita o que é posto pela vida, ela vai dando voltas, ela vai buscar a sua realização. Eu gosto muito de trazer esse espetáculo da forma como ele até então tem se apresentado, que é através da leitura, porque fazer leitura de um texto possibilita para mim que estou lendo e pra quem está me ouvindo criar a sua imagem, a sua história. E aí, quando a gente conversa com as pessoas que ouviram aquela história que foi apresentada através da leitura, vem tanta contribuição, é tão rica essa troca, que me encanta imensamente fazer leitura desse texto.

Sua apresentação fará parte do 1° Fórum Negro das Artes Cênicas, um espaço que abre as portas para que artistas, especificamente, negros apresentem os seus trabalhos. Você considera necessário ações como essa? Por quê?

O I Fórum Negro das Artes Cênicas está sendo proposto dentro da escola de teatro da UFBA em 2017. A Escola de Teatro da UFBA até então não tem no seu currículo esse referencial negro com a abrangência que nós temos. Então um grupo de alunos da casa e professores egressos da casa de teatro resolveram organizar esse fórum de teatro, que é pra dentro da escola e também para fora. O que se quer é que a escola de teatro traga para o seu currículo e tenha no seu referencial a cultura negra. Nós somos mais de 50% da população. Nós somos pessoas que construíram também essa nação. Nós temos uma contribuição imensa para com esse país. É necessário que estejamos em todas as partes, em tudo que se faz e se fala sobre esse país. Então é necessário que a gente esteja também dentro da escola de teatro. Esse fórum é importantíssimo e as discussões que estão se estabelecendo, as mesas de debate, os grupos de trabalho estão sendo extremamente ricos, existe um saber que precisa ser compartilhado e que precisa estar dentro da escola de teatro, eu estou imensamente feliz por ter sido convidada e por fazer parte desse fórum que já está sendo histórico.

Joyce Melo é repórter do Portal Correio Nagô

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