Adekunle acredita que alegria e carisma do povo brasileiro, tão valorizada pelo mundo, são heranças africanas e não europeias: “O povo brasileiro se esquece disso”
Bioquímico de formação, ele veio ao Brasil há 20 anos para uma pós graduação na USP. Ao chegar em São Paulo, Adekunle constatou que para um país com maioria negra, a população não sabia muito sobre a cultura afrodescendente. Que as noticiais ruins de seu continente era mais valorizadas do que os aspectos positivos. A alegria e o carisma do povo brasileiro, tão valorizado pelo mundo, são heranças africanas e não europeias, segundo ele.
– Em cada esquina você vê um pouco da África. Os costumes e o jeito de ser dos africanos estão presentes mesmo sem que os brasileiros notem. Comida, dança e a alegria, muitos dos nossos hábitos são parecidos e foram trazidos pelos nossos ancestrais africanos. O europeu é fechado. O brasileiro é como o africano, é caloroso. Se eu não sou italiano, russo, espanhol ou português, quem eu sou? Sem história você não tem autoestima. A África não é só fome e miséria. A África é muito mais do que isso – explicou Aderonmu, que preside o Centro Cultural Africano me São Paulo, dividindo sua rotina entre a capital paulista e Arujá, na região metropolitana de São Paulo, local onde vive.
A comunidade desse nigeriano radicado no Brasil é Edbas, com o governo monárquico, e é comandado por cinco famílias que dividem o reinado entre elas por gerações. Da realeza africana ao trabalho cultural no Brasil, o Otunba (que significa rei em Iorubá), acredita que o futebol foi uma ferramenta de união de todos os povos, sem distinção de raças, credos e classe social. Graças ao esporte, os países africanos passaram a ser reconhecidos inicialmente pelos seus jogadores até o fortalecimento da imagem, de maneira continental, com a Copa do Mundo na África do Sul, em 2010.
– A África se uniu para receber o mundo na Copa de 2010 na África do Sul. Muitas pessoas achavam que seria ruim uma Copa lá. Nós estávamos preparados um ano antes, diferente do que foi no Brasil. Pudemos mostrar ou pouco a parte positiva da África.
Thiago Gelix, G1