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“Vistamos nossas saias, Lutemos.” Nota de pesar pela morte de Lucas Fortuna

Em 2004, uma das sedes do Congresso Brasileiro dos Estudantes de Comunicação Social (COBRECOS) foi a Universidade Católica de Brasília que, por meio da reitoria, dividiu os alojamentos em feminino e masculino. Na ocasião, um estudante da Universidade Federal de Goiás (UFG), Lucas Fortuna, dirigiu-se à reitoria vestindo uma saia para tentar constranger a administração superior e “agradecer” à Universidade por incentivar a prática homossexual. Ele já usava saia desde 2002, quando o Cobrecos foi realizado em Maceió – AL. Na época, outros estudantes da UFG decidiram aderir à vestimenta, instituindo nos encontros da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS), um dia em que os homens vestiriam saia – surgindo assim o Movimento Pró-Saia.

Lucas Fortuna formou-se em Jornalismo, deixando de ser militante da executiva de estudantes, naturalmente. Mas continuou militante ativo do Movimento Gay em Goiânia, além de ter sido fundador do Grupo Colcha de Retalhos, que luta pela causa LGBT na UFG. Organizou diversas paradas gays na capital goiana e lutou pela aprovação do Projeto de Lei 122, que assegura a punição à homofobia no Brasil.

E na manhã deste domingo, aos 28 anos, foi encontrado morto na praia de Cabo de Santo Agostinho, próxima à cidade de Recife, no Estado de Pernambuco. Seu corpo foi encontrado trajando apenas cueca, com sinais de espancamento.

Durante o ENECOM DF, realizado em julho deste ano, participei do movimento pela primeira vez. Vesti saia não só por um dia, mas em vários momentos durante a semana que durou o encontro, pelo combate às opressões e apoio à Diversidade Sexual. Foi divertido participar do movimento. Foi divertido compartilhar as fotos no facebook e ouvir os comentários das pessoas que não sabiam do que se tratava.

Mas hoje, é com pesar que revejo as fotos daquele encontro. E em todas as ocasiões em que vestir uma saia, daqui para frente, será pensando no Lucas, e em todas as vítimas da discriminação, da ignorância e do preconceito, e no real significado desse gesto. Mais que pela criminalização da homofobia. Mais que por um pedido de respeito. Por amor. Em sinal de luto.

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