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Negros continuam com indicadores baixos em todos segmentos produtivos

473628_484084784935452_1772663236_oO secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Elias Sampaio, comentou, em entrevista ao Portal Correio Nagô, os dados do levantamento realizado pelo Sebrae, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), segundo o qual Quase metade (49%) das micro e pequenas empresas brasileiras são comandadas por empreendedores negros.

Economista, doutor em Administração Pública, mestre em Economia, professor da Uneb, Elias já ocupou o cargo de sub-secretário municipal da Reparação. Atualmente titular da Sepromi, ele destaca que o dado deve ser analisado em suas diversas facetas. Confira entrevista:

Portal Correio NagôEsse dado é algo que deve ser comemorado pela comunidade negra?

Elias Sampaio – A palavra comemoração não é apropriada para especificar esses dados. No entanto, este é um dado que tem que ser observado para que façamos, de forma cuidadosa, uma análise do que ele de fato significa. Na verdade, se formos olhar todos os dados estatísticos dos últimos dez anos, verificamos que há um aumento significativo da participação no mercado de micro e pequenas empresas daqueles que se auto denominam como negros. Penso que: existe um aumento real nessa área, em função dos dez anos de política de desconcentração de renda, de maiores políticas sociais, mas há outro detalhe: nos últimos dez anos as políticas de ações afirmativas e de igualdade racial passaram a fazer parte das pautas do governo e da sociedade de uma forma muito maior do que em qualquer outro momento da história. E as pessoas se identificaram com isso. Acho esse crescimento que tem a ver com o processo de reconhecimento das pessoas em relação a sua identidade étnica, obviamente, tem o aumento da participação a partir desse novo momento da sociedade brasileira.

CNAs micro e pequenas empresa formam um segmento menos lucrativo que grandes empresas que concentram boa parte das riquezas/lucros. Não é estranha a participação negra crescente no segmento de menor lucratividade?

ES Não é estranho. Tem duas lógicas que devemos pontuar. A primeira é que o acesso ao grande capital, o acesso às possibilidades de grandes investimentos seguem a mesma linha que historicamente acompanhou a trajetória dos negros no Brasil, que é a dificuldade em ter acesso a várias áreas. Em algum tempo atrás discutimos o acesso a educação, ao emprego de melhor qualidade. E nos últimos dez anos o governo tem tratado de forma mais agressiva a questão da empregabilidade e a melhora dos níveis educacionais da população negra. Por isso hoje falamos desse empoderamento do negro na economia.
No entanto, sabemos que a população negra continua com indicadores baixos em todos os segmentos produtivos, inclusive enquanto produtores detentores de empresa. Em relação à lucratividade, sim, as estatísticas mostram que não são as pequenas e médias empresas que tem o maior nível de lucratividade.
Porém são elas as que mais empregam. Boa parte das micro e pequenas empresas são formadas ou por familiares ou tem uma base familiar muito forte. Se por um lado ela (a micro ou pequena empresa) tem baixa lucratividade, por outro consegue preservar a empregabilidade ou mesmo o acesso a um tipo de regimento para uma população negra que por sua vez tem dificuldades a outros acessos no mercado de trabalho como um todo.
Tem outro aspecto nesse meio termo: as estatísticas mostram que a maioria das micro e pequenas empresas tem índice de falência grande, não sobrevivem por mais de 3 anos e sequer conseguem se estruturar para deixar de ser pequena e passar para media ou grande empresa.
No caso da comunidade afrodescendente me parece que segue a mesma lógica. Do meu ponto de vista o que a gente precisa é de políticas e articulações que já estamos realizando na Sepromi, que é o projeto de empreendedorismo negro, com objetivo de trazer para o mercado um conjunto de ações, ferramentas e iniciativas que empoderem esse segmento dentro do mercado, dando acesso à capacitação técnica, acesso a possibilidade de instrumentos adequados de trabalho, maior formação, capacitação e, de certa forma, melhor acesso a um capital que possa servir como investimento para robustecer a qualidade principalmente de competição dessas micro e pequenas empresas no mercado. Por isso desenvolvemos essa política de empreendedorismo que até o final do ano deve estar concluída.

CN – Na sua opinião, há participação de negros nas chefias de grandes empresas/multinacionais, por exemplo?

ES – As estatísticas mostram que tem um número pequeno de negros nas grandes empresas. Nas multinacionais acredito que tenha um pouco mais, pois elas tem uma política maior de diversidade do que as empresas genuinamente brasileirass. Mas ressalto que não tenho dados estatísticos que mostrem esse percentual. No geral, negros na chefia do governo, por exemplo, são poucos.

CNO que falta nesse cenário do mercado para maior ascensão do negro?

ES – Uma política específica de empoderamento econômico para a população negra e para empreendedores negros, que no caso do Governo da Bahia, está sendo elaborada com ampla discussão com os movimentos sociais e órgãos governamentais competentes.

 

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