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Enderson Araújo, o empreendedor das vozes do Subúrbio

 

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O jovem baiano é referência em comunicação nas periferias
Foto: Divulgação

E na hora que a televisão brasileira/distrai toda a gente com a sua novela/é que o Zé põe a boca no mundo/ele faz um discurso profundo/ele quer ver o bem da favela/está nascendo um novo líder/no morro do pau da bandeira. É difícil conhecer a história do jovem empreendedor social baiano Enderson Araújo, de 21 anos, e não associá-la ao samba Zé do Caroço, de autoria de Leci Brandão, e regravado por nomes como Revelação, Seu Jorge e Juliana Ribeiro.

O que teriam eles em comum? A origem humilde no Subúrbio, repleta de dificuldades, e a utilização da comunicação como ferramenta para despertar e dar voz àqueles que não costumam ter voz, mas que têm muito o que dizer ao mundo. Enderson é um dos criadores do Grupo de Comunicadores Jovens Mídia Periférica – referência em comunicação nas periferias, com site, jornal comunitário e programa de audiovisual na web.

Enderson já recebeu prêmios como o Laureate Brasil – Jovens Empreendedores Sociais, e viaja atualmente por todo o país para realizar atividades com jovens de outras comunidades. Ele integra também a Renajoc (Rede Nacional de Jovens Comunicadores), colabora com o programa Câmara Ligada e escreve para o portal de notícias Correio Nagô. Seu maior sonho no momento? Ter uma Redação própria para o Mídia Periférica no bairro Sussuarana, em Salvador, onde mora.

EcoD: O que te inspira?

Enderson Araújo: Eu penso que posso ajudar a inspirar os jovens da minha comunidade a ter um futuro melhor do que o que nós costumamos ver. A grande mídia vende a ideia do dinheiro rápido, o que faz muitas vezes com que os jovens da periferia sejam seduzidos pela criminalidade ou mesmo por sonhos que nem sempre são possíveis de realizar, como ser jogador de futebol ou músico. Mas é possível também cursar uma universidade de Direito, por exemplo, ser dono de empresa. Por que não?

Eu quero ser empreendedor, gerir negócios. Dentro das comunidades falta esse tipo de incentivo do poder público”

Como tem sido a sua trajetória?

Eu já fiz de tudo um pouco nessa vida, até estágio de gari. Larguei o emprego para seguir a minha ideologia, por meio do projeto Mídia Periférica, onde criamos programas interativos para dar voz às lideranças sociais e moradores das comunidades de baixa renda. Tudo começou quando Ana Paula Almeida, Liege Viegas e eu, que éramos alunos do curso de direito à comunicação e produção de vídeo ministrado pelo Instituto de Mídia Étnica (IME) e realizado pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA), passamos a nos reunir depois das oficinas. Passamos a ter várias inquietações.

Quais, por exemplo?

A periferia não tem só misérias, ao contrário do que a mídia sensacionalista mostra. Tem as senhoras que se reúnem para tricotar, fazer crochê, tem as crianças que batem uma pelada no final de linha ou empinam pipa enquanto os senhores de meia idade jogam dominó na praça ao fim de tarde.

Passamos a registrar essas imagens em vídeo-slides e divulgamos na internet em forma de repúdio ao que a mídia convencional pregava sobre as comunidades periféricas. Ao sentirmos que esse trabalho ficava um tanto solto na internet, sem nenhuma referência, tivemos a ideia em 2010 de criar o Mídia Periférica.

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Enderson Araújo: “Minha comunidade não é violenta. Ela é violentada”
Foto: Estação Periferia

É verdade que você já perdeu uma vaga de trabalho por morar na periferia?

Sim. O empregador não gostou muito quando eu disse que morava em Sussuarana, um bairro suburbano de Salvador. Ele me disse: “A comunidade lá é violenta, né”? Respondi: “não é violenta. Ela é violentada, porque não conta com as políticas públicas fundamentais para o seu desenvolvimento”. Isso que eu passei não me faz melhor do que ninguém. Esse tipo de coisa acontece todos os dias com milhares de pessoas da periferia. Mas eu continuo contrariando as estatísticas.

Como você analisa a luta contra os preconceitos (pré-conceitos)?

Uma das formas de ver mostra que o sistema quer que sejamos consumistas. Mas para consumir é preciso trabalhar (risos). E não é fácil arranjar emprego. Esse é um problema. Existe muito assistencialismo. Uma empresa grande chega na comunidade para dar um curso voltado à formação de monitorador de caixas de supermercado. Será que os jovens querem isso? Eu quero ser empreendedor, gerir negócios. Dentro das comunidades falta esse tipo de incentivo do poder público.

Qual é o maior sonho do Enderson?

Ter uma Redação própria para o Mídia Periférica. No empreendedorismo temos que seguir uma linha, alguém em quem se inspirar. Minha inspiração foi o Paulo Rogério [Paulo Rogério Nunes, um dos fundadores do IME], meu maior mentor. Aquele sonho que eu tinha lá atrás, de ajudar as comunidades a ter voz, hoje eu estou realizando em partes.

No dia 12 de outubro, Enderson Araújo foi um dos palestrantes do TEDxJovem@Pelourinho, que abordou a temática do empreendedorismo. Sua apresentação foi uma das mais aplaudidas no evento. Como diz o samba: Está nascendo um novo líder…

 

Fonte: Portal ECOD, por Murilo Gitel

 

 

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