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Quarto Ato do Programa Abdias Nascimento segue em exposição no Inhotim

O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista celebra a perenidade da vida e obra de Nascimento em exposição até maio de 2024

Foto: Ícaro Moreno/ Início da 4º Ato

Um movimento para tornar o maior museu a céu aberto da América Latina amigável às pessoas pretas foi inaugurado pelo Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra há dois anos. A primeira exposição da jornada de vida e obra do poeta, dramaturgo, ator, escritor, curador, artista e político negro foi lançada em 2021, no Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais. 

Embora a parceria entre os guardiões do legado de Nascimento, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro), e Inhotim tenha lançado o quarto e último ato de exposições no último sábado (11), a vida inteira do multifacetado antirracista realiza um marco para a representação do povo negro, em contexto positivo, nos espaços de destaque do museu. 

Desta vez, denominada como Quarto Ato – O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista, a arte de Abdias é costurada por Xangô, em oito núcleos distribuídos na Galeria Mata. Xangô é presença constante em suas obras e, logo na entrada, somos orientados por uma falange formada por Oxóssi, Ogum e o Orixá da justiça, guiando a trajetória do visitante à jornada de combate contra a desigualdade racial do autor.

Foto: Daniela Paoliello/Sortilégio por Adyr Assumpção

Vale ressaltar que Nascimento documentou uma tecnologia que nos remonta a posição de protagonista, autônomos e, com isso, poderemos nos fortalecer e combater as diversas formas de racismo, essas são as premissas do quilombismo. 

Além do Último Ato, que se estenderá até maio de 2024, três apresentações da peça Sortilégio – Mistério Negro (1951), complementaram os dias de lançamento (11 e 12 de novembro), com bjetivo de aprofundar o entendimento da obra e linguagem cênica de Abdias. 

O texto foi adaptado pelo dramaturgo brumadinhense Adyr Assumpção, que dirigiu parte do elenco natural da mesma cidade, com a participação da Orquestra Inhotim, comandando a trilha sonora.

Para se aprofundar ainda mais sobre o projeto confira aqui o texto completo sobre o Primeiro Ato

O quilombismo como tecnologia da prática

“O quilombismo é uma referência não somente para o Brasil, mas para os povos que buscam a sua independência, sua libertação, do jugo colonial e racial”, definiu a socióloga Elisa Larkin Nascimento, diretora do Ipeafro e co-curadora da exposição.  

Se, para ser eficaz, essa tecnologia ancestral precisa atender às exigências do tempo histórico, situações do meio geográfico e protagonismo da população negra, como disse Abdias, podemos considerar o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra fundamentais para dar cara nova a relação de Inhotim com seu entorno quilombola e funcionários, a maioria composta por pessoas negras. 

“A gente não conquistou tudo que a gente queria; certamente, essa experiência desenha um caminho para discutir questões raciais no âmbito dos museus e como essas pessoas se veem nesse espaço”, avaliou o jornalista, pesquisador, do Ipeafro e co-curador da mostra, Julio Menezes Silva.

Dessa maneira, o projeto incentiva que as instituições reflitam sobre os efeitos políticos na sua existência, no seu território e entendam o quanto é importante abrir diálogo com as comunidades, com a diversidade e sustentabilidade; neste caso, através da arte. “[O Programa] Não é uma experiência encerrada, nem perfeita, mas uma experiência que ousou começar a pensar o que a gente poderia fazer para a discussão das questões raciais no âmbito do museu”, acrescentou Menezes, deixando escapar a sensação de esperança de mudanças a cada ato do projeto.

Afinal, a construção de novas práticas e reflexão sobre as questões do nosso tempo têm permeado o processo curatorial do museu no programa 2021-2023  e, ainda que tardio, a representatividade realizada e praticada por nós mesmos entra com o pé na porta em arenas de visibilidade internacional.  

Foto: Ícaro Moreno/ Exposição Giro de Luana Vitra

Artistas negros por todos os lados em Inhotim

Ocupação em galeria, adaptação de peça sobre os problemas de um homem preto e o conflito com suas origens, a perenidade da vida e obra Abdias do Nascimento, se estendeu também por outros espaços do Instituto. O Programa e o Museu de Arte Negra trouxeram a voz de artistas que se inspiram na diversidade, territorialidade ou dialogam com a multiplicidade de Nascimento, durante esses dois anos de vigência, em exposições temporárias e comissionadas para o momento.  

Para o Quarto Ato, a artista plástica, dançarina e performer Luana Vitra lançou seu primeiro trabalho comissionado em Inhotim, a exposição Giro. Inspirada na relação entre as pessoas e a paisagem local, a multiartista, em parceria com o Benedikt Wiertz e Alex Santana, harmonizou materiais como o cobre, pedras coletadas no próprio museu e cerâmica, para criar peças de uma beleza profunda e delicada.

“Cada material utilizado é um campo de discurso e não está por acaso. E minha pesquisa tem um desejo de escuta e cura da matéria, das vidas não humanas, no meu campo de afeto que são as terras de Minas Gerais”, disse.

Vitra nasceu em Contagem e, ainda que sua fonte de criação seja baseada na paisagem, sua ancestralidade tem bastante ligação com o trabalho manual e a vivência na marcenaria de seu pai.  

Luana Vitra ocupa a Galeria Marcenaria durante todo mês de novembro com a sua tradução da paisagem mineira, suas dores, o processo de exploração e cura dessa terra.

Leia também sobre a exposição de Mestre Didi e Mônica Ventura em Inhotim como desdobramento do movimento de Abdias.

Fabiana da Guia

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