Leituras sobre como funciona o racismo e os meios de combate através da arte e da comunicação
Joyce Melo, poetisa, integrante do Grupo Ágape, estudante de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo no Centro Universitário Jorge Amado – UniJorge.
O racismo é tema de diversas discussões, seminários, palestras e debates. Além disso, é pautado em poesias, músicas, peças teatrais, e em outros formatos da arte. Hoje, a ascendência de mídias negras tem se tornado cada vez mais evidente e inegável e têm contribuído muito para a divulgação de diversos eventos e ações promovidas pela população negra. No entanto, ainda ecoa em algumas pessoas, questionamentos acerca da real necessidade de criar meios que abordem questões raciais.
Segundo a CPI, que tomou por base os números do Mapa da Violência, a cada 23 minutos um jovem negro de 15 a 29 anos é assassinado no Brasil. 77% dos jovens assassinados são negros. A morte de mulheres brancas por violência diminuiu em 10%, no entanto, a morte de mulheres negras aumentou em 54%. Diante dessas e de outras estatísticas que são alarmantes inclusive para a Organização das Nações Unidas, a população negra militante vem se articulando e criando as suas próprias armas de combate ao racismo estrutural.
CONTRANARRATIVAS
O Sarau da Onça é um evento político, que discute questões raciais há cinco anos, idealizado por jovens negros interessados em subverter a realidade mostrada nos jornais e tirar o bairro de Sussuarana – local onde o evento acontece – das páginas policiais e levar para as páginas de cultura e arte. O evento ocorre no Centro de Pastoral Afro – CENPAH, quinzenalmente, aos sábados.
A jornalista Brenda Gomes, uma das produtoras do Sarau da Onça, explica que o racismo se apresenta em diversos ambientes, no mercado de trabalho, dentro de casa, na estética, nos relacionamentos afetivos, atuando de maneira estrutural. “O sarau através da cultura, da poesia, das mesas de debate, da linguagem simples busca preparar o jovem para combater a violência que é o racismo”, pontua.
“O sarau da Onça é um evento de poesia que, ao passar dos anos, foi agregando outras vertentes da arte, mas sempre voltado para o olhar da poesia negra, da poesia marginal.” acrescenta Lissandra Pedreira, que também produz o Sarau da Onça.
Acerca da forma utilizada pelo sarau para combater o racismo, Lissandra citou a importância da representatividade, do espectador se sentir representado pelo poeta, e como esse quesito influencia os jovens negros a acreditarem que são capazes de produzir poesia, música, dança e serem mais que números nas estatísticas. “O grande papel do sarau é fazer com que os jovens negros que vêm aqui possam se ver, se identificar”, diz.
Criador da página O Meu Crespo Hisan Silva, com mais de vinte mil curtidas no Facebook, enfatiza que as pessoas, geralmente, não têm espaço para conversar sobre o racismo e as suas facetas e, por esse motivo, enxerga a página como um local de desabafo, no qual as pessoas podem mandar depoimentos e desabafar sobre os percalços do racismo. Hisan percebe que há uma necessidade de escutar as pessoas e não somente ir apresentar as suas opiniões sobre o racismo. Assim como, realiza e considera importante “levar para as comunidades, itens que supostamente são de pessoas brancas, como um ensaio fotográfico, e fotografar dentro da própria comunidade, dando a ideia de poder para os envolvidos e para a comunidade”.
Uma das militantes que organizam a Marcha do Empoderamento Crespo, a antropóloga Naira Gomes explica que o racismo no Brasil se dá através do fenótipo, ou seja, das características físicas visuais do corpo e complementa “o racismo no Brasil se diferencia do racismo nos EUA, onde o racismo é de origem, onde o estigma da raça se assenta sobre a herança genética da família”.
Naira levanta a questão da miscigenação, e diz que “no Brasil, ainda há a questão do quanto se vai operar o racismo, depende do tom da pele, se mais clara ou escura, da textura do cabelo, do mais crespo ao mais fino”. Devido a esse entendimento do racismo enquanto significados que a sociedade atribui à estética, a Marcha do Empoderamento Crespo pauta a estética como ato político.
Jamile Menezes é editora chefe do portal SoteroPreta, portal AfroCultural de Salvador exclusivo para a cultura negra, que busca dar visibilidade às atividades como o Sarau da Onça, da página O Meu Crespo, a Marcha do Empoderamento Crespo, entre outras atividades, protagonizadas, mobilizadas ou direcionadas para a comunidade negra.
“É um portal que vem com o conceito de ‘afro-publicidade’ para empoderar, dar visibilidade e um espaço publicitário para os afroempreendedores”, diz Jamile, a respeito do espaço que será direcionado para a divulgação dos trabalhos dos afroempreendedores. O portal se propõe a ser um espaço colaborativo, aberto, com espaço para opinião e contribuição.
Sarau da Onça: Novo Horizonte (Sussuarana) – Rua Albino Fernandes 59C
ENTRADA GRATUITA – Microfone Aberto