Por: Mauricio Barros, jornalista
Novembro de 2016, século 21, evolução tecnológica ostensiva, era da massiva produção de informações, debates efervescentes, e embora pareça que a sociedade está progredindo em certos aspectos, ainda existem pessoas que insistem em dizer que o dia da Consciência Negra é um erro.
Acreditam que o racismo acaba a partir do momento em que paramos de falar nele e citam a entrevista de Morgan Freeman a um telejornal americano para fortalecer o discurso do negro vitimista e afirmarem que o ano inteiro deve ser de consciência humana, independente da cor. Há dois anos a câmara de vereadores de uma cidade no interior de São Paulo criou o dia da consciência branca. Falta um pouco de senso para entender o que significa essa data historicamente e na contemporaneidade.
Sancionada em 2011, pela presidenta Dilma Rousseff, a lei 12.519 que institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra possui uma grande importância para os afrodescendentes. Primeiro, presta uma homenagem àquele que foi um símbolo de luta e resistência, uma liderança no movimento que combatia a escravidão. Em segundo lugar, promove programações voltadas para as questões étnico-raciais que atravessam todo o mês, no chamado “Novembro Negro”. São 30 dias de debates, palestras, marchas, espetáculos teatrais, shows, concertos, com o intuito de reafirmar a identidade, combater preconceitos e discutir novos caminhos para a libertação das amarras coloniais.
Já que essa data causa tanta polêmica, gostaria de sugerir a criação do “Mês da Consciência Branca”. Seria de extrema utilidade ter trinta dias de discussões, aulas de história, estatísticas dialogando sobre quem são os mais prejudicados no acesso à educação, violência policial, desemprego, desigualdade social e salarial, para ver se assim conseguem compreender o que é debatido.
As questões raciais não são pertinentes apenas às pessoas negras. São demandas que envolvem o opressor e o oprimido. São os brancos que devem parar de perseguir, vilipendiar, ofender, subjugar. São eles que têm de ter percepção de que nós somos humanos, afinal, vem deles a tentativa constante de nos animalizar.
É hora de chegar para o “amigo” branco e conscientizá-lo de que ainda que ele tenha uma companheira negra, chamá-la de mulata é depreciativo. Mesmo que o melhor amigo dele seja negro, compará-lo a um saco de lixo é extremamente ofensivo. A consciência branca deve servir para que não tenhamos mais propagandas deploráveis, para que não sejam utilizadas ofensas raciais em “contextos de jogo”, para que não sejamos tratados como loucos por dirigirmos BMWs.
Quem sabe assim, após toda essa compreensão histórica, com o entendimento da alteridade, se torne extinta a branquitude como padrão ideal que os negros têm que se adaptar, e as diferenças sejam respeitadas em qualquer nível.