A Salvador, cidade negra, completou 474 de ocupação colonial do poder. Nesta cidade negra onde negros e negras nunca puderam governar pelo voto. São essas as anotações sobre Salvador em seus 474 anos de poder branco, que não se importa com a maior população negra vivendo em uma cidade fora do continente africano. Nossas realidades mais difíceis estão nas baixadas, nas encostas e nas escadarias, onde as mulheres negras buscam nas ruas de cima e nas ruas centrais as oportunidades para suas famílias.
Aqui, em termos de políticas públicas, falta muito. Nesta cidade, onde as creches em tempo integral ainda é uma miragem para a maioria absoluta. Aqui onde a pobreza sabota as esperanças da maioria negra e mulher todos os dias, um dos exemplos mais absurdos foi o escândalo nacional do credenciamento das ambulantes, em que as mulheres negras passaram 26 dias numa fila, onde todos os direitos foram violados.
Aqui não fazer a política pública é a imagem violenta da política. Há um descaso permanente, há um descuido programado contra nosso povo, enquanto isso uma minoria branca e masculina vai ficando mais rica e mais evidente nas entranhas do poder. Em Salvador, precisamos de um grande projeto de habitação popular, por conta das situações enfrentadas por tantas mulheres que mesmo tão pobres seguem pagando aluguel, morando de favor e em situações de extrema precariedade.
Além disso, diante de tanta pobreza, os centros públicos de economia solidária, acolhem todos e todas que atuam na reciclagem. Para conter os horrores da fome, que se espalha na maioria dos 174 bairros da cidade de Salvador, é muito importante que o poder público municipal faça 01restaurante popular em cada uma das 21 áreas de abrangências da cidade, pois até chegar aos atuais restaurantes custa para os/as mais empobrecidos/as. E a Cultura, chega dos mega shows onde grandes cachês ficam com meia dúzia de artistas; precisamos de Centros Culturais em todas as regiões da cidade, assim como precisamos acolher as juventudes em suas manifestações culturais, com todas as suas performances, inclusive o break, para que nossas potências cheguem às próximas Olimpíadas de Paris com as presenças negras de Salvador.
E nos serviços para as Mulheres, a cidade de Salvador precisa reorganizar as políticas públicas de enfrentamento à violência, fortalecendo o Centro de Referência Loreta Valadares, inclusive fazendo concurso para atualizar a equipe de atendimento. Assim como retomar e recompor o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres da Cidade de Salvador, pois políticas públicas se fazem com participação e controle social. Estes são caminhos decisivos contra o feminicídio.
Vilma Reis, socióloga, professora, ativista dos Direitos Humanos e das Mulheres Negras, suplente de Deputada Federal, candidata do PT mais votada em Salvador.